A FÁBRICA

Agosto 31 2005

Quando a 14 de Agosto de 1980, os trabalhadores do estaleiro naval de Gdansk, na Polónia, iniciaram uma greve para protestar contra o despedimento da operária Anna Walentynowicz, uma militante de um grupo anticomunista, estavam longe de sonharem, que era o começo do fim do agonizante regime comunista na Polónia. Seguiram-se 18 dias de luta sindical, liderado pelo então electricista Lech Walesa. A paralisação do sector naval terminou a 31 de Agosto com um acordo entre os grevistas e o regime comunista que deu aos trabalhadores o direito de criar a sua própria organização sindical, o Solidarnosc. Hoje comemora-se os 25 anos desta heróica jornada, que marcou o começo da desintegração do sistema comunista. Praticamente todos os países que formavam o antigo bloco comunista do leste europeu, da Albânia até a Geórgia passando pela Lituânia e Montenegro, estarão representados na cerimónia de comemoração do que foi o primeiro sindicato livre e independente do mundo comunista. No total, comparecerão em Gdansk, local de criação do sindicato, 23 presidentes e primeiros-ministros, além de representantes de muitas instituições internacionais, como o Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, uma delegação do Parlamento Europeu ou a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).Estarão presentes altos representantes da França e dos Estados Unidos, o antigo Presidente George Bush, e também todas as grandes centrais sindicais do mundo que tanto ajudaram o sindicato polaco na época em que era perseguido e castigado pela ditadura do general Jaruzelski. Mas nem todos reconhecem o sindicato, responsável pelo acordo pioneiro assinado entre o regime e os operários em greve do estaleiro de Gdansk, que então tinha o nome de Lenin, como responsável pelo início da crise que levou ao desaparecimento da União Soviética. Os organizadores do aniversário, liderados por Lech Walesa - o mítico líder das greves e fundador do Solidariedade - convidaram, entre outros, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachov, pois queriam ter nas suas comemorações o dirigente da União Soviética que deu início à "Perestroika" e abriu caminho para a democratização da Rússia. No entanto, Gorbachov rejeitou o convite pois, como declarou a um jornal alemão, “sem querer menosprezar a importância do Solidariedade para os polacos, não acho que o seu papel tenha sido tão importante como alguns pensam. Acho que sem a minha "Perestroika" tudo teria continuado como antes”. Os polacos admitem que Gorbachov e sua "Perestroika" foram muito importantes, mas afirmam que foi o Solidariedade que mostrou que o modelo comunista tinha se esgotado. Esse talvez seja o motivo das várias ausências importantes em Gdansk, sobretudo de altos representantes da Rússia. Estará presente o dirigente da luta pelos direitos humanos, Serguei Kovaliov, mas não haverá ninguém que possa confirmar que o Solidariedade já não desperta em Moscovo a mesma hostilidade que despertava nos tempos de Brejhnev. Na época, parecia que o Exército Vermelho entraria na Polónia para esmagar os rebeldes e restabelecer a ordem, como fez em 1956 na Hungria e em 1968 na Checoslováquia. Com as greves de 1980 e sem derramar uma única gota de sangue, o Solidariedade conseguiu o que jamais havia sido conseguido na Polónia: recuperar a independência e a soberania, refazer a democracia e a economia de mercado. Com apenas três meses de existência, o primeiro sindicato livre e independente do Leste europeu já contava com 10 milhões de membros. A lei marcial decretada pelo general Wojciech Jaruzelski, em Dezembro de 1981, constituiu uma tentativa de acabar com o sindicato. No entanto, a medida teve um efeito contrário. O Solidariedade entrou na clandestinidade e com uma resistência ininterrupta, levou os dirigentes comunistas a sentar-se à mesa com os sindicalistas para negociar. No momento de assinar o acordo, num um gesto carregado de simbolismo, Walesa tirou do bolso uma caneta com o retrato do Papa João Paulo II. O dirigente sindicalista quis mostrar que a Igreja cumpriu um papel fundamental, quando o regime comunista impôs a lei marcial no país, para tentar destruir o Solidariedade e sufocar todas as aspirações de liberdade da população.
publicado por armando ésse às 09:04

Agosto 31 2005

Quando a 14 de Agosto de 1980, os trabalhadores do estaleiro naval de Gdansk, na Polónia, iniciaram uma greve para protestar contra o despedimento da operária Anna Walentynowicz, uma militante de um grupo anticomunista, estavam longe de sonharem, que era o começo do fim do agonizante regime comunista na Polónia. Seguiram-se 18 dias de luta sindical, liderado pelo então electricista Lech Walesa. A paralisação do sector naval terminou a 31 de Agosto com um acordo entre os grevistas e o regime comunista que deu aos trabalhadores o direito de criar a sua própria organização sindical, o Solidarnosc. Hoje comemora-se os 25 anos desta heróica jornada, que marcou o começo da desintegração do sistema comunista. Praticamente todos os países que formavam o antigo bloco comunista do leste europeu, da Albânia até a Geórgia passando pela Lituânia e Montenegro, estarão representados na cerimónia de comemoração do que foi o primeiro sindicato livre e independente do mundo comunista. No total, comparecerão em Gdansk, local de criação do sindicato, 23 presidentes e primeiros-ministros, além de representantes de muitas instituições internacionais, como o Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, uma delegação do Parlamento Europeu ou a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).Estarão presentes altos representantes da França e dos Estados Unidos, o antigo Presidente George Bush, e também todas as grandes centrais sindicais do mundo que tanto ajudaram o sindicato polaco na época em que era perseguido e castigado pela ditadura do general Jaruzelski. Mas nem todos reconhecem o sindicato, responsável pelo acordo pioneiro assinado entre o regime e os operários em greve do estaleiro de Gdansk, que então tinha o nome de Lenin, como responsável pelo início da crise que levou ao desaparecimento da União Soviética. Os organizadores do aniversário, liderados por Lech Walesa - o mítico líder das greves e fundador do Solidariedade - convidaram, entre outros, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachov, pois queriam ter nas suas comemorações o dirigente da União Soviética que deu início à "Perestroika" e abriu caminho para a democratização da Rússia. No entanto, Gorbachov rejeitou o convite pois, como declarou a um jornal alemão, “sem querer menosprezar a importância do Solidariedade para os polacos, não acho que o seu papel tenha sido tão importante como alguns pensam. Acho que sem a minha "Perestroika" tudo teria continuado como antes”. Os polacos admitem que Gorbachov e sua "Perestroika" foram muito importantes, mas afirmam que foi o Solidariedade que mostrou que o modelo comunista tinha se esgotado. Esse talvez seja o motivo das várias ausências importantes em Gdansk, sobretudo de altos representantes da Rússia. Estará presente o dirigente da luta pelos direitos humanos, Serguei Kovaliov, mas não haverá ninguém que possa confirmar que o Solidariedade já não desperta em Moscovo a mesma hostilidade que despertava nos tempos de Brejhnev. Na época, parecia que o Exército Vermelho entraria na Polónia para esmagar os rebeldes e restabelecer a ordem, como fez em 1956 na Hungria e em 1968 na Checoslováquia. Com as greves de 1980 e sem derramar uma única gota de sangue, o Solidariedade conseguiu o que jamais havia sido conseguido na Polónia: recuperar a independência e a soberania, refazer a democracia e a economia de mercado. Com apenas três meses de existência, o primeiro sindicato livre e independente do Leste europeu já contava com 10 milhões de membros. A lei marcial decretada pelo general Wojciech Jaruzelski, em Dezembro de 1981, constituiu uma tentativa de acabar com o sindicato. No entanto, a medida teve um efeito contrário. O Solidariedade entrou na clandestinidade e com uma resistência ininterrupta, levou os dirigentes comunistas a sentar-se à mesa com os sindicalistas para negociar. No momento de assinar o acordo, num um gesto carregado de simbolismo, Walesa tirou do bolso uma caneta com o retrato do Papa João Paulo II. O dirigente sindicalista quis mostrar que a Igreja cumpriu um papel fundamental, quando o regime comunista impôs a lei marcial no país, para tentar destruir o Solidariedade e sufocar todas as aspirações de liberdade da população.
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