A FÁBRICA

Fevereiro 27 2006
“Na sua acção governamental as dissenções são perpétuas. Assim o partido histórico propõe um imposto: porque não há remédio, é necessário pagar a religião, o exército, a lista civil, a diplomacia… - propõe um imposto:
- Caminhamos para a ruína! Exclama o presidente do concelho – O deficit cresce! O País está pobre A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc…
…- Como assim! Exclamam todos, mais impostos!?”

O parágrafo transcrito é uma citação e, normalmente, no fim de o fazer coloca-se o nome do seu autor e o lugar de onde ela foi retirada. No entanto, aquilo que se pretende realçar com este texto, e com o intuito de mais facilmente nos apercebermos do quanto é caricato o momento em que se encontra o País, optei por aguardar para o fim deste texto para fazer a revelação.
Após o 25 de Abril, os governos foram-se sucedendo, os ministros foram-se substituindo, o País foi crescendo, com a melhoria substancial da rede viária, aproximando as populações, com o investimento na Educação, factor indispensável ao desenvolvimento de qualquer País, na saúde, na modernização, etc, tudo isto com vista à melhoria da qualidade de vida das populações.
Quando se esperava um reforço do exercício da cidadania, eis que surge um problema de difícil resolução. Infelizmente, com todas as mudanças que o País sofreu, os habitantes e a sua mentalidade continuam os mesmos. Vejamos então o que isto significa.
A classe política está num processo acelerado de perda de credibilidade, quer os governos quer as oposições. Os dois maiores partidos, PS e PSD, foram-se substituindo, governo institucional após governos institucional, e a cada troca, aparentemente, mais do mesmo.
Os discursos do governo empossado resvalam, invariavelmente, para as críticas ao anterior, ao mesmo tempo que prometem dar um rumo ao País o que, convenhamos, está cada vez mais difícil.
O partido que saiu do governo (passou portanto para a oposição) inicia a sua rota em direcção ao poder através de campanhas de críticas, mais ou menos lógicas, mais ou menos honestas, mais ou menos desprovidas de convicções e valores. A maioria das vezes limitam-se a acompanhar a opinião pública com óbvio interesse de o capitalizar em votos.
O governo em funções avisa a navegação de que é difícil melhorar a situação devido à pesada herança e que vão ser necessários sacrifícios, antes de se conseguir alterar o caminho que estava a ser seguido rumo à perdição.
Entretanto no parlamento, temos as dissenções. O actual modelo de funcionamento é de utilidade questionável. Não se percebe qual o propósito dos debates e muito menos se percebe como alguém pode pensar que estas discussões trazem algum beneficio para o País. Os argumentos utilizados dissolvem-se na intenção com que os aplicam, uma vez que nunca há consenso visível, vislumbrando-se apenas sucessivas acusações de incompetência e de ausência de bom senso.
Aliás, a palavra discussão adquiriu uma conotação pejorativa no parlamento. Em bom rigor, para as coisas terem algum nexo e face a um qualquer problema, deveriam surgir propostas, que seriam debatidas, sobre as quais todos deveriam opinar, no sentido da obtenção do maior consenso possível. Esta é a única forma de impedir que as leis surjam em resultado de uma imposição por maioria de voto, facto que implica que a cada alteração de governo se altere também a legislação.
E assim, de pesada herança em pesada herança, está o povo como o tolo no meio da ponte, sem saber para que lado se virar, porque uns dizem que é assim, outros dizem que é assado apenas porque o comportamento esperado é contradizer em absoluto os adversários políticos. E, porque não acredita nem nuns nem noutros, por desespero por falta de expectativas, dá um mergulho no rio, onde se pode safar sozinho sem ter que ouvir ninguém.
Tudo se resume, portanto, a uma questão de credibilidade. Quem não confia, não age de acordo com o interesse comum, mas reage permanentemente de forma a auto preservar-se. Arranjam-se uns esquemas, foge-se aos impostos, perde-se o sentido comunitário e é cada um por si. Não é egoísmo, é a exteriorização do factor humano. E os esquemas são infindáveis. Se há uma possibilidade de contornar a lei, os portugueses encontram-na. Sejam os empresários que ao formarem uma empresa criam logo várias para diluir os lucros e não pagarem impostos, ao mesmo tempo que contratam o melhor contabilista possível que os ajude a fugir. Sejam os acordos entre patrões e empregados para nunca declarem aquilo que realmente ganham. Sejam os ordenados dos profissionais liberais. Sejam os que estão a receber o fundo desemprego e a trabalhar, ou de baixa e a trabalhar. Sejam as falências fraudulentas onde fecham numa porta e abrem noutra, a lista é interminável.
Para além disso, um português gasta mais do que pode, uma família de portugueses gasta mais do que pode, uma cidade de portugueses gasta mais do que pode e, como seria de esperar, o estado português gasta mais do que pode. Isto não é uma conclusão retórica, é algo cultural, enraizado até ás profundezas na nossa alma.
Assim, o problema não é apenas dos governantes, mas também dos governados, até porque dos últimos são escolhidos os primeiros. Há, claramente, uma questão de mentalidade cultural que exige um esforço concertado para se conseguir uma inversão nos comportamentos. O trabalho para mudar as coisas tem que começar por aqui de maneira a acabar-se com expressões deste género: Quem eu? Não pago os impostos. Vou dar o dinheiro ao Estado, não?
A questão é começar por onde. Provavelmente é tentar perceber qual a influência que o nível de analfabetismo do nosso País tem no que respeita à importância dada ao exercício da cidadania na sua plenitude, principalmente o pagamento dos impostos.
Em primeiro lugar, o incumprimento por este motivo é elevadíssimo. A essência deste problema reside na ignorância existente, em resultado do analfabetismo, cuja consequência é uma visão redutora da sociedade, da vida e do mundo. A génese está, portanto, na incapacidade destas pessoas em vislumbrar numa perspectiva mais abrangente.
Em segundo lugar, há também aqueles que tiveram acesso à Educação escolar e de quem se esperaria algo mais, sobretudo que soubessem o lugar que ocupam na sociedade e cumprissem com as suas obrigações de forma natural. Em vez disso, revelam uma atroz falta de formação cívico a este respeito. Qual o motivo? A construção das suas personalidades foi feita numa matriz cultural pobre, indissociável da ignorância, do qual não se conseguem libertar.
Por um lado, se a percentagem de população que não sabe ler e escrever é cada vez menor, já os que o sabem fazer e não sabem interpretar o que lêem é cada vez maior. São os chamados analfabetos funcionais. O exemplo mais elucidativo que conheço: Quem é que nunca foi a uma agência bancária e o funcionário não colocou uma cruz no local de assinatura. E porquê? Porque a maioria das pessoas não se dá ao trabalho de interpretar o formulário.
Por outro lado, os que não são analfabetos funcionais e optam por não cumprir as suas obrigações, deveria ser cada vez menos mas, ao que parece, não são. O seu comportamento é altamente recriminável, pois agem em consciência. A acção sobre estes deveria ser ainda mais incisiva. No entanto, a leis também têm que mudar. A prescrição das dívidas fiscais é impensável. Quem não cumpre, está a roubar toda a gente. Ao mesmo tempo que beneficia dos direitos que os cumpridores têm, direitos estes que são garantidos pelo dinheiro dos impostos. Vai para tribunal e, através das manobras conhecidas de todos os advogados, continuam a roubar toda a gente, pelos atrasos na Justiça que levam as prescrições. O sentimento de impunidade resultante desta inoperância leva a que, inevitavelmente, o comportamento seja recorrente.
Curioso é que nos Países mais desenvolvidos, para além de todos serem fiscais de todos, a questão do pagamento dos impostos é de uma importância tal que, pelos motivos já referidos, temo nunca venha a ser entendida pelos portugueses. Por exemplo dos E.U.A. a fuga aos impostos é severamente punida. Um dos gangsters mais famosos da época de lei seca, Al Capone, apenas foi apanhado pelo seu némesis, o intocável Elliot Ness, por fuga aos impostos e não pelos seus outros crimes tão sobejamente conhecidos.
É neste ponto que se revela a importância da Educação no desenvolvimento de um País. Em 1900 na Inglaterra existiam cerca de 3% de analfabetos. Hoje, em Portugal, são muito mais que isso. A inteligência colectiva desta matriz populacional é incomparável. O ideal comum, a ideia de nação é muito mais fácil de implementar num País onde é intuitivo acreditar nas instituições, como um valor de todos, porque elas são mais importantes que as pessoas que por vezes as lideram. Todos sabem que sem as instituições seria a anarquia.
Em Portugal, nada disto se passa. O exemplar exercício da cidadania é uma espécie de doença contagiosa de que se foge a sete pés, o País dos esquemas, onde Chico-esperto é valorizado socialmente pela sua capacidade de ludibriar. Tudo o que existe em Portugal é o resultado da contribuição de alguns, dividido por todos, os que podem e contribuem, os que não podem contribuir e os que podem e não contribuem. No entanto, estes últimos, não deixam de se queixar das reformas baixas, dos funcionários públicos, do sistema nacional de saúde, enquanto beneficiam de tudo sem nada contribuírem. Quando se divide o que é pago por poucos por muitos, o resultado não pode ser bom. A realidade está à vista. Um País onde cada palavra é mal interpretada por que é mal entendida ou não entendida de todo, onde por natureza se desconfia de todos os outros é um País sem futuro. Se todos em conjunto não intervierem neste combate pela inversão das mentalidades, única forma de levar o País a bom porto, é inevitável a queda num poço sem fundo, a caminho, lenta e inexoravelmente, de uma situação de caos social. Se calhar é isto que é preciso, cair no fundo para que o que tem de melhor sobressaia, que a solidariedade nas causas menores seja transposta para as grandes causas, que a ousadia, a coragem de outros tempos regresse e assim se possa fazer de Portugal algo grandioso.
Finalmente, voltando à transcrição inicial que serviu de introdução ao texto. Há 135 anos Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (Farpas Julho de 1871) escreveram aquele parágrafo que, vergonhosa e inacreditavelmente, não perdeu qualquer actualidade. Dá que pensar não dá?

Filipe Pinto.
publicado por armando ésse às 09:01

Fevereiro 27 2006
“Na sua acção governamental as dissenções são perpétuas. Assim o partido histórico propõe um imposto: porque não há remédio, é necessário pagar a religião, o exército, a lista civil, a diplomacia… - propõe um imposto:
- Caminhamos para a ruína! Exclama o presidente do concelho – O deficit cresce! O País está pobre A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc…
…- Como assim! Exclamam todos, mais impostos!?”

O parágrafo transcrito é uma citação e, normalmente, no fim de o fazer coloca-se o nome do seu autor e o lugar de onde ela foi retirada. No entanto, aquilo que se pretende realçar com este texto, e com o intuito de mais facilmente nos apercebermos do quanto é caricato o momento em que se encontra o País, optei por aguardar para o fim deste texto para fazer a revelação.
Após o 25 de Abril, os governos foram-se sucedendo, os ministros foram-se substituindo, o País foi crescendo, com a melhoria substancial da rede viária, aproximando as populações, com o investimento na Educação, factor indispensável ao desenvolvimento de qualquer País, na saúde, na modernização, etc, tudo isto com vista à melhoria da qualidade de vida das populações.
Quando se esperava um reforço do exercício da cidadania, eis que surge um problema de difícil resolução. Infelizmente, com todas as mudanças que o País sofreu, os habitantes e a sua mentalidade continuam os mesmos. Vejamos então o que isto significa.
A classe política está num processo acelerado de perda de credibilidade, quer os governos quer as oposições. Os dois maiores partidos, PS e PSD, foram-se substituindo, governo institucional após governos institucional, e a cada troca, aparentemente, mais do mesmo.
Os discursos do governo empossado resvalam, invariavelmente, para as críticas ao anterior, ao mesmo tempo que prometem dar um rumo ao País o que, convenhamos, está cada vez mais difícil.
O partido que saiu do governo (passou portanto para a oposição) inicia a sua rota em direcção ao poder através de campanhas de críticas, mais ou menos lógicas, mais ou menos honestas, mais ou menos desprovidas de convicções e valores. A maioria das vezes limitam-se a acompanhar a opinião pública com óbvio interesse de o capitalizar em votos.
O governo em funções avisa a navegação de que é difícil melhorar a situação devido à pesada herança e que vão ser necessários sacrifícios, antes de se conseguir alterar o caminho que estava a ser seguido rumo à perdição.
Entretanto no parlamento, temos as dissenções. O actual modelo de funcionamento é de utilidade questionável. Não se percebe qual o propósito dos debates e muito menos se percebe como alguém pode pensar que estas discussões trazem algum beneficio para o País. Os argumentos utilizados dissolvem-se na intenção com que os aplicam, uma vez que nunca há consenso visível, vislumbrando-se apenas sucessivas acusações de incompetência e de ausência de bom senso.
Aliás, a palavra discussão adquiriu uma conotação pejorativa no parlamento. Em bom rigor, para as coisas terem algum nexo e face a um qualquer problema, deveriam surgir propostas, que seriam debatidas, sobre as quais todos deveriam opinar, no sentido da obtenção do maior consenso possível. Esta é a única forma de impedir que as leis surjam em resultado de uma imposição por maioria de voto, facto que implica que a cada alteração de governo se altere também a legislação.
E assim, de pesada herança em pesada herança, está o povo como o tolo no meio da ponte, sem saber para que lado se virar, porque uns dizem que é assim, outros dizem que é assado apenas porque o comportamento esperado é contradizer em absoluto os adversários políticos. E, porque não acredita nem nuns nem noutros, por desespero por falta de expectativas, dá um mergulho no rio, onde se pode safar sozinho sem ter que ouvir ninguém.
Tudo se resume, portanto, a uma questão de credibilidade. Quem não confia, não age de acordo com o interesse comum, mas reage permanentemente de forma a auto preservar-se. Arranjam-se uns esquemas, foge-se aos impostos, perde-se o sentido comunitário e é cada um por si. Não é egoísmo, é a exteriorização do factor humano. E os esquemas são infindáveis. Se há uma possibilidade de contornar a lei, os portugueses encontram-na. Sejam os empresários que ao formarem uma empresa criam logo várias para diluir os lucros e não pagarem impostos, ao mesmo tempo que contratam o melhor contabilista possível que os ajude a fugir. Sejam os acordos entre patrões e empregados para nunca declarem aquilo que realmente ganham. Sejam os ordenados dos profissionais liberais. Sejam os que estão a receber o fundo desemprego e a trabalhar, ou de baixa e a trabalhar. Sejam as falências fraudulentas onde fecham numa porta e abrem noutra, a lista é interminável.
Para além disso, um português gasta mais do que pode, uma família de portugueses gasta mais do que pode, uma cidade de portugueses gasta mais do que pode e, como seria de esperar, o estado português gasta mais do que pode. Isto não é uma conclusão retórica, é algo cultural, enraizado até ás profundezas na nossa alma.
Assim, o problema não é apenas dos governantes, mas também dos governados, até porque dos últimos são escolhidos os primeiros. Há, claramente, uma questão de mentalidade cultural que exige um esforço concertado para se conseguir uma inversão nos comportamentos. O trabalho para mudar as coisas tem que começar por aqui de maneira a acabar-se com expressões deste género: Quem eu? Não pago os impostos. Vou dar o dinheiro ao Estado, não?
A questão é começar por onde. Provavelmente é tentar perceber qual a influência que o nível de analfabetismo do nosso País tem no que respeita à importância dada ao exercício da cidadania na sua plenitude, principalmente o pagamento dos impostos.
Em primeiro lugar, o incumprimento por este motivo é elevadíssimo. A essência deste problema reside na ignorância existente, em resultado do analfabetismo, cuja consequência é uma visão redutora da sociedade, da vida e do mundo. A génese está, portanto, na incapacidade destas pessoas em vislumbrar numa perspectiva mais abrangente.
Em segundo lugar, há também aqueles que tiveram acesso à Educação escolar e de quem se esperaria algo mais, sobretudo que soubessem o lugar que ocupam na sociedade e cumprissem com as suas obrigações de forma natural. Em vez disso, revelam uma atroz falta de formação cívico a este respeito. Qual o motivo? A construção das suas personalidades foi feita numa matriz cultural pobre, indissociável da ignorância, do qual não se conseguem libertar.
Por um lado, se a percentagem de população que não sabe ler e escrever é cada vez menor, já os que o sabem fazer e não sabem interpretar o que lêem é cada vez maior. São os chamados analfabetos funcionais. O exemplo mais elucidativo que conheço: Quem é que nunca foi a uma agência bancária e o funcionário não colocou uma cruz no local de assinatura. E porquê? Porque a maioria das pessoas não se dá ao trabalho de interpretar o formulário.
Por outro lado, os que não são analfabetos funcionais e optam por não cumprir as suas obrigações, deveria ser cada vez menos mas, ao que parece, não são. O seu comportamento é altamente recriminável, pois agem em consciência. A acção sobre estes deveria ser ainda mais incisiva. No entanto, a leis também têm que mudar. A prescrição das dívidas fiscais é impensável. Quem não cumpre, está a roubar toda a gente. Ao mesmo tempo que beneficia dos direitos que os cumpridores têm, direitos estes que são garantidos pelo dinheiro dos impostos. Vai para tribunal e, através das manobras conhecidas de todos os advogados, continuam a roubar toda a gente, pelos atrasos na Justiça que levam as prescrições. O sentimento de impunidade resultante desta inoperância leva a que, inevitavelmente, o comportamento seja recorrente.
Curioso é que nos Países mais desenvolvidos, para além de todos serem fiscais de todos, a questão do pagamento dos impostos é de uma importância tal que, pelos motivos já referidos, temo nunca venha a ser entendida pelos portugueses. Por exemplo dos E.U.A. a fuga aos impostos é severamente punida. Um dos gangsters mais famosos da época de lei seca, Al Capone, apenas foi apanhado pelo seu némesis, o intocável Elliot Ness, por fuga aos impostos e não pelos seus outros crimes tão sobejamente conhecidos.
É neste ponto que se revela a importância da Educação no desenvolvimento de um País. Em 1900 na Inglaterra existiam cerca de 3% de analfabetos. Hoje, em Portugal, são muito mais que isso. A inteligência colectiva desta matriz populacional é incomparável. O ideal comum, a ideia de nação é muito mais fácil de implementar num País onde é intuitivo acreditar nas instituições, como um valor de todos, porque elas são mais importantes que as pessoas que por vezes as lideram. Todos sabem que sem as instituições seria a anarquia.
Em Portugal, nada disto se passa. O exemplar exercício da cidadania é uma espécie de doença contagiosa de que se foge a sete pés, o País dos esquemas, onde Chico-esperto é valorizado socialmente pela sua capacidade de ludibriar. Tudo o que existe em Portugal é o resultado da contribuição de alguns, dividido por todos, os que podem e contribuem, os que não podem contribuir e os que podem e não contribuem. No entanto, estes últimos, não deixam de se queixar das reformas baixas, dos funcionários públicos, do sistema nacional de saúde, enquanto beneficiam de tudo sem nada contribuírem. Quando se divide o que é pago por poucos por muitos, o resultado não pode ser bom. A realidade está à vista. Um País onde cada palavra é mal interpretada por que é mal entendida ou não entendida de todo, onde por natureza se desconfia de todos os outros é um País sem futuro. Se todos em conjunto não intervierem neste combate pela inversão das mentalidades, única forma de levar o País a bom porto, é inevitável a queda num poço sem fundo, a caminho, lenta e inexoravelmente, de uma situação de caos social. Se calhar é isto que é preciso, cair no fundo para que o que tem de melhor sobressaia, que a solidariedade nas causas menores seja transposta para as grandes causas, que a ousadia, a coragem de outros tempos regresse e assim se possa fazer de Portugal algo grandioso.
Finalmente, voltando à transcrição inicial que serviu de introdução ao texto. Há 135 anos Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (Farpas Julho de 1871) escreveram aquele parágrafo que, vergonhosa e inacreditavelmente, não perdeu qualquer actualidade. Dá que pensar não dá?

Filipe Pinto.
publicado por armando ésse às 09:01

Fevereiro 25 2006

Peter James Henry Solomon Benenson nasceu no dia 31 de Julho de 1921, em Londres e morreu no hospital John Radcliffe, em Oxford, faz precisamente um ano, em 25 de Fevereiro de 2005. Neto de um banqueiro judeu de origem russa, Benenson nunca passou por grandes dificuldades materiais. Na escola, preocupava os professores devido às suas “tendências revolucionárias” e aos 16 anos organizou a sua primeira campanha para obter apoios para a causa dos órfãos republicanos da guerra Civil Espanhola.
Quando se candidatou a Oxford, escolheu o curso que acreditava poder dar uma outra dimensão aos seus protestos: Direito. No entanto, quando se viu numa sala de audiências, apercebeu-se de que não seria assim.
Aos 39 anos, ao folhear um jornal, uma notícia chamou-lhe a atenção.

Referia que dois jovens tinham sido presos pelo regime de Salazar por terem gritado “Viva a Liberdade!” na via pública. Ao lê-la, Benenson sentiu-se mais impotente do que nunca. Indignado, lançou um apelo no sentido de se organizar uma ajuda prática às pessoas presas devido às suas convicções políticas ou religiosas, ou em virtude de preconceitos raciais ou linguísticos.
Nessa mesma manhã escreveu um artigo de protesto e apelo, intitulado The Forgotten Prisoners (Os Prisioneiros Esquecidos), que foi publicado na edição de 28 de Maio de 1961 do jornal "The Observer".
O artigo começava assim: “Abra o seu jornal em qualquer dia da semana e encontrará uma notícia que numa parte do mundo alguém foi detido, torturado ou executado, porque as suas opiniões ou religião são inaceitáveis para o governo do seu país... O leitor do jornal sente um mau estar de impotência. Contudo se estas sensações de indignação puderem ser unidas numa acção conjunta, algo de efectivo pode ser feito”.
O seu artigo estava ilustrado com fotografias de seis presos de Angola, Estados Unidos, Grécia, Hungria, Roménia e Checoslováquia, que tinham em comum terem sido presos por dissidência de opinião. O advogado então lançou um “pedido de amnistia”.
Nascia assim a Amnistia Internacional (AI). Uma jovem artista inglesa, Diana Redhouse, desenhou o logótipo do movimento: uma vela cercada por um arame farpado. Em seguida surgiram as ofertas de ajuda e foi confiada a cada militante a missão de adoptar três prisioneiros, um do bloco comunista, um do Ocidente e um do Terceiro Mundo. A neutralidade do movimento era primordial. Depois de um ano de existência, a Amnistia Internacional estava encarregada de 210 prisioneiros. Uma regra sagrada guiava todos seus membros: os “adoptados” não deviam ter empregue a violência, nem tê-la incentivado.
Com o passar dos anos, a lista de presos – e de libertados – amplia-se. Entre eles, há uma multidão de anónimos, mas também são muitos os prisioneiros célebres, como o russo Andrei Sakharov, o dramaturgo checoslovaco e futuro presidente checo Vaclav Havel, o pianista argentino Miguel Angel Estrella, a democrata birmanesa Aung Saan Suu Kyi (que ainda se encontra presa), os dissidentes chineses Wei Jingsheng e Fang Lizhi, da “Primavera de Pequim”, o sul-coreano Kim Dae-Jung, entre muitos outros. O prisioneiro político mais famoso, o sul-africano Nelson Mandela, sempre foi defendido pela Amnistia Internacional, mas jamais foi adoptado porque promoveu a violência como acção política.
A Amnistia Internacional realiza, a nível mundial, campanhas que tentam obter a libertação de prisioneiros de consciência, a realização de julgamentos imparciais para todos os prisioneiros, o fim generalizado da pena de morte, da tortura e de outros tratamentos desumanos, bem como a cessação das execuções extrajudiciais e dos “desaparecimentos”. Situa-se à margem das organizações políticas e económicas, baseando a sua acção na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Tem um voto consultivo junto da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), do Conselho da Europa, da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Organização da Unidade Africana (OUA).A AI possui 1,8 milhões de membros e delegações em 50 países. Para garantir a imparcialidade da AI, cada grupo ocupa-se de casos ou campanhas relativas a outros países diferentes do seu, escolhidos pela sua diversidade geográfica e política. A investigação sobre as violações dos direitos humanos e sobre as vítimas é conduzida pelo Secretariado Internacional da organização. Em 1977, foi-lhe atribuído o prémio Nobel da Paz.
Para terminar, ficam as palavras de Peter Benenson, proferidas na comemoração do 40º aniversário da Amnistia Internacional: “Quarenta anos passados a Amnistia Internacional obteve muitas vitórias. Os seus ficheiros estão cheios de cartas de antigos prisioneiros de consciência ou de vítimas de tortura agradecendo à Organização por ter “feito” a diferença. A tortura está proibida por acordos internacionais. Todos os anos mais países rejeitam a pena de morte. O mundo terá brevemente um Tribunal Penal Internacional que assegurará que os acusados dos piores crimes no mundo sejam apresentados à justiça. A mera existência do Tribunal será dissuasora de alguns crimes. Mas os desafios ainda são grandes. A tortura está proibida, mas em dois terços dos países do mundo ela ainda é praticada em segredo. Demasiados governos permitem que os seus agentes façam detenções arbitrárias, matem ou façam “desaparecer” pessoas, com total impunidade. Aqueles que hoje ainda sentem um sentimento de impotência podem fazer algo: apoiar a Amnistia Internacional, podem ajudá-la a impor-se pela justiça e liberdade. Em 1961 escrevi, “A pressão da opinião pública há 100 anos teve como consequência a emancipação dos escravos.” A pressão da opinião pública é agora necessária para ajudar a Amnistia Internacional a alcançar o seu objectivo máximo: deixar de ser necessária. Só então quando o último prisioneiro de consciência for libertado, quando a última câmara de tortura for fechada, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos for uma realidade para todo o mundo, o nosso trabalho estará terminado”.
publicado por armando ésse às 10:24
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Fevereiro 25 2006

Peter James Henry Solomon Benenson nasceu no dia 31 de Julho de 1921, em Londres e morreu no hospital John Radcliffe, em Oxford, faz precisamente um ano, em 25 de Fevereiro de 2005. Neto de um banqueiro judeu de origem russa, Benenson nunca passou por grandes dificuldades materiais. Na escola, preocupava os professores devido às suas “tendências revolucionárias” e aos 16 anos organizou a sua primeira campanha para obter apoios para a causa dos órfãos republicanos da guerra Civil Espanhola.
Quando se candidatou a Oxford, escolheu o curso que acreditava poder dar uma outra dimensão aos seus protestos: Direito. No entanto, quando se viu numa sala de audiências, apercebeu-se de que não seria assim.
Aos 39 anos, ao folhear um jornal, uma notícia chamou-lhe a atenção.

Referia que dois jovens tinham sido presos pelo regime de Salazar por terem gritado “Viva a Liberdade!” na via pública. Ao lê-la, Benenson sentiu-se mais impotente do que nunca. Indignado, lançou um apelo no sentido de se organizar uma ajuda prática às pessoas presas devido às suas convicções políticas ou religiosas, ou em virtude de preconceitos raciais ou linguísticos.
Nessa mesma manhã escreveu um artigo de protesto e apelo, intitulado The Forgotten Prisoners (Os Prisioneiros Esquecidos), que foi publicado na edição de 28 de Maio de 1961 do jornal "The Observer".
O artigo começava assim: “Abra o seu jornal em qualquer dia da semana e encontrará uma notícia que numa parte do mundo alguém foi detido, torturado ou executado, porque as suas opiniões ou religião são inaceitáveis para o governo do seu país... O leitor do jornal sente um mau estar de impotência. Contudo se estas sensações de indignação puderem ser unidas numa acção conjunta, algo de efectivo pode ser feito”.
O seu artigo estava ilustrado com fotografias de seis presos de Angola, Estados Unidos, Grécia, Hungria, Roménia e Checoslováquia, que tinham em comum terem sido presos por dissidência de opinião. O advogado então lançou um “pedido de amnistia”.
Nascia assim a Amnistia Internacional (AI). Uma jovem artista inglesa, Diana Redhouse, desenhou o logótipo do movimento: uma vela cercada por um arame farpado. Em seguida surgiram as ofertas de ajuda e foi confiada a cada militante a missão de adoptar três prisioneiros, um do bloco comunista, um do Ocidente e um do Terceiro Mundo. A neutralidade do movimento era primordial. Depois de um ano de existência, a Amnistia Internacional estava encarregada de 210 prisioneiros. Uma regra sagrada guiava todos seus membros: os “adoptados” não deviam ter empregue a violência, nem tê-la incentivado.
Com o passar dos anos, a lista de presos – e de libertados – amplia-se. Entre eles, há uma multidão de anónimos, mas também são muitos os prisioneiros célebres, como o russo Andrei Sakharov, o dramaturgo checoslovaco e futuro presidente checo Vaclav Havel, o pianista argentino Miguel Angel Estrella, a democrata birmanesa Aung Saan Suu Kyi (que ainda se encontra presa), os dissidentes chineses Wei Jingsheng e Fang Lizhi, da “Primavera de Pequim”, o sul-coreano Kim Dae-Jung, entre muitos outros. O prisioneiro político mais famoso, o sul-africano Nelson Mandela, sempre foi defendido pela Amnistia Internacional, mas jamais foi adoptado porque promoveu a violência como acção política.
A Amnistia Internacional realiza, a nível mundial, campanhas que tentam obter a libertação de prisioneiros de consciência, a realização de julgamentos imparciais para todos os prisioneiros, o fim generalizado da pena de morte, da tortura e de outros tratamentos desumanos, bem como a cessação das execuções extrajudiciais e dos “desaparecimentos”. Situa-se à margem das organizações políticas e económicas, baseando a sua acção na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Tem um voto consultivo junto da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), do Conselho da Europa, da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Organização da Unidade Africana (OUA).A AI possui 1,8 milhões de membros e delegações em 50 países. Para garantir a imparcialidade da AI, cada grupo ocupa-se de casos ou campanhas relativas a outros países diferentes do seu, escolhidos pela sua diversidade geográfica e política. A investigação sobre as violações dos direitos humanos e sobre as vítimas é conduzida pelo Secretariado Internacional da organização. Em 1977, foi-lhe atribuído o prémio Nobel da Paz.
Para terminar, ficam as palavras de Peter Benenson, proferidas na comemoração do 40º aniversário da Amnistia Internacional: “Quarenta anos passados a Amnistia Internacional obteve muitas vitórias. Os seus ficheiros estão cheios de cartas de antigos prisioneiros de consciência ou de vítimas de tortura agradecendo à Organização por ter “feito” a diferença. A tortura está proibida por acordos internacionais. Todos os anos mais países rejeitam a pena de morte. O mundo terá brevemente um Tribunal Penal Internacional que assegurará que os acusados dos piores crimes no mundo sejam apresentados à justiça. A mera existência do Tribunal será dissuasora de alguns crimes. Mas os desafios ainda são grandes. A tortura está proibida, mas em dois terços dos países do mundo ela ainda é praticada em segredo. Demasiados governos permitem que os seus agentes façam detenções arbitrárias, matem ou façam “desaparecer” pessoas, com total impunidade. Aqueles que hoje ainda sentem um sentimento de impotência podem fazer algo: apoiar a Amnistia Internacional, podem ajudá-la a impor-se pela justiça e liberdade. Em 1961 escrevi, “A pressão da opinião pública há 100 anos teve como consequência a emancipação dos escravos.” A pressão da opinião pública é agora necessária para ajudar a Amnistia Internacional a alcançar o seu objectivo máximo: deixar de ser necessária. Só então quando o último prisioneiro de consciência for libertado, quando a última câmara de tortura for fechada, quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos for uma realidade para todo o mundo, o nosso trabalho estará terminado”.
publicado por armando ésse às 10:24
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Fevereiro 24 2006

O filme “Capote” é um ensaio biográfico sobre uma parte da vida de Truman Capote, mais precisamente, as peripécias porque passou o escritor, para fazer o relato do quádruplo homicídio de uma família do Kansas em 1959, que daria origem ao género de romance documental, com o seu livro “A Sangue Frio”.
Em 15 de Novembro de 1959, o escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman, que excelente interpretação deste actor!) lê um artigo no New York Times que descreve o homicídio de quatro membros de uma abastada família do Kansas: a família Clutter. Capote pensa que esta é a oportunidade de provar a sua teoria, de que a realidade pode ser tão emocionante como a ficção e convence a revista New Yorker a dar-lhe o caso. Viaja para o Kansas e a acompanhá-lo vai Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga desde a infância no Alabama e que irá vencer o Prémio Pulitzer e alcançar a fama com o livro "Por Favor Não Matem a Cotovia".
No Kansas a sua estranha forma de vestir e a sua maneira de ser, dão origem a alguma hostilidade, mas acaba por ganhar a confiança do Agente Alvin Dewey, que é o chefe da polícia e líder da investigação. Pouco tempo depois os homicidas (Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino) são apanhados em Las Vegas e devolvidos ao Estado do Kansas para serem julgados. Acabam por ser condenados à morte. Capote trava conhecimento com eles e começa a fazer sucessivas visitas à prisão, para tomar conhecimentos de todos os pormenores da factídica noite de 14 de Novembro de 1959. À medida que os vai conhecendo, descobre que aquilo que inicialmente tinha sido pensado como um artigo de revista cresceu e deu lugar a um livro, um livro que poderia tornar-se um dos mais importantes na literatura moderna. O seu tema é agora tão profundo, como qualquer outro tratado, pelos grandes escritores americanos: é o choque entre duas Américas, o país seguro que os Clutter conheciam e o país desenraizado e amoral habitado pelos seus assassinos.
O filme está nomeado para cinco Oscar’s da Academia Cinematográfica de Hollywood: melhor filme, realizador (Bennett Miller), argumento (Dan Futterman), actor (Philip Seymour Hoffman) e actriz (Catherine Keener). A National Society of Film Critics, associação que reúne 45 dos mais destacados críticos de cinema norte-americanos, elegeu este filme, o Melhor Filme de 2005.

Ficha técnica:
Titulo:”
Capote”
Título original: ”Capote”
Realização: Bennett Miller
Elenco: Phillip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins,
Jr., Chris Cooper
Género: Biografia/Drama
Origem: Canada/EUA
Ano:2005
Duração: 98 minutos

Truman Streckfus Persons nasceu em Nova Orleães, a 30 de Setembro de 1924, filho de um vendedor e de uma adolescente de 16 anos. Os seus pais divorciaram-se quando Truman tinha quatro anos, pelo que passou a ser criado por familiares próximos, residentes em Monroeville, no estado de Alabama. Quando a sua mãe voltou a casar, Truman mudou-se para Nova Iorque, adoptando o apelido do padrasto. Aos 17 anos desistiu dos estudos e começou a trabalhar na revista The New Yorker, atraindo desde logo as atenções pela sua forma excêntrica de vestir.
Em 1949, Capote viajou para a Europa, onde escreveu ficção e não-ficção e argumentos para cinema e teatro.
Após ter alcançado cedo o sucesso como escritor de prosa brilhante nas histórias de Other Voices, Other Rooms (1948), que retratava uma relação homossexual, e no romance Boneca de Luxo (1958), já de regresso aos EUA, a carreira de Capote decaiu até que o sensacional «romance não ficcional» A Sangue Frio (1965) fez dele uma celebridade.
Entre as suas obras posteriores incluem-se Music for Chameleons (1980) e a obra publicada a título póstumo Answered Prayers (1986), um romance inacabado constituído por escandalosos boatos sobre colunáveis.
A sua bibliografia inclui:A Tree of Night and Other Stories (1949), Local Color (1950), The Grass Harp (1951), Beat the Devil (1954), The House of Flowers (1954), The Muses have Heard (1956), The Innocents (1961), Observations (1959), Selected Writings (1963), A Christmas Memory (1966), The Thanksgiving Visitor (1967), Among The Paths to Eden (1967), Laura (1968), House of Flowers (1968), Trilogy (1969), Experiment in Multimedia (1969), Behind Prison Walls (1972), The Glass House (1972), The Dogs Bark (1973), Crimewatch (1973), Then it all Came Down (1976), One Christmas (1982), Conversations With Capote (1985), Súplicas Atendidas (1986), um retrato dos vícios e da perversão dos intelectuais e artistas que Capote conhecera, A Capot Reader (1987) e Marilyn Monroe: Photographs 1945-1962 (1994).
O escritor faleceu em Los Angeles a 25 de Agosto de 1984, devido a problemas causados pelo consumo exagerado de álcool.
publicado por armando ésse às 08:08
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Fevereiro 24 2006

O filme “Capote” é um ensaio biográfico sobre uma parte da vida de Truman Capote, mais precisamente, as peripécias porque passou o escritor, para fazer o relato do quádruplo homicídio de uma família do Kansas em 1959, que daria origem ao género de romance documental, com o seu livro “A Sangue Frio”.
Em 15 de Novembro de 1959, o escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman, que excelente interpretação deste actor!) lê um artigo no New York Times que descreve o homicídio de quatro membros de uma abastada família do Kansas: a família Clutter. Capote pensa que esta é a oportunidade de provar a sua teoria, de que a realidade pode ser tão emocionante como a ficção e convence a revista New Yorker a dar-lhe o caso. Viaja para o Kansas e a acompanhá-lo vai Harper Lee (Catherine Keener), sua amiga desde a infância no Alabama e que irá vencer o Prémio Pulitzer e alcançar a fama com o livro "Por Favor Não Matem a Cotovia".
No Kansas a sua estranha forma de vestir e a sua maneira de ser, dão origem a alguma hostilidade, mas acaba por ganhar a confiança do Agente Alvin Dewey, que é o chefe da polícia e líder da investigação. Pouco tempo depois os homicidas (Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Dick Hickock (Mark Pellegrino) são apanhados em Las Vegas e devolvidos ao Estado do Kansas para serem julgados. Acabam por ser condenados à morte. Capote trava conhecimento com eles e começa a fazer sucessivas visitas à prisão, para tomar conhecimentos de todos os pormenores da factídica noite de 14 de Novembro de 1959. À medida que os vai conhecendo, descobre que aquilo que inicialmente tinha sido pensado como um artigo de revista cresceu e deu lugar a um livro, um livro que poderia tornar-se um dos mais importantes na literatura moderna. O seu tema é agora tão profundo, como qualquer outro tratado, pelos grandes escritores americanos: é o choque entre duas Américas, o país seguro que os Clutter conheciam e o país desenraizado e amoral habitado pelos seus assassinos.
O filme está nomeado para cinco Oscar’s da Academia Cinematográfica de Hollywood: melhor filme, realizador (Bennett Miller), argumento (Dan Futterman), actor (Philip Seymour Hoffman) e actriz (Catherine Keener). A National Society of Film Critics, associação que reúne 45 dos mais destacados críticos de cinema norte-americanos, elegeu este filme, o Melhor Filme de 2005.

Ficha técnica:
Titulo:”
Capote”
Título original: ”Capote”
Realização: Bennett Miller
Elenco: Phillip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins,
Jr., Chris Cooper
Género: Biografia/Drama
Origem: Canada/EUA
Ano:2005
Duração: 98 minutos

Truman Streckfus Persons nasceu em Nova Orleães, a 30 de Setembro de 1924, filho de um vendedor e de uma adolescente de 16 anos. Os seus pais divorciaram-se quando Truman tinha quatro anos, pelo que passou a ser criado por familiares próximos, residentes em Monroeville, no estado de Alabama. Quando a sua mãe voltou a casar, Truman mudou-se para Nova Iorque, adoptando o apelido do padrasto. Aos 17 anos desistiu dos estudos e começou a trabalhar na revista The New Yorker, atraindo desde logo as atenções pela sua forma excêntrica de vestir.
Em 1949, Capote viajou para a Europa, onde escreveu ficção e não-ficção e argumentos para cinema e teatro.
Após ter alcançado cedo o sucesso como escritor de prosa brilhante nas histórias de Other Voices, Other Rooms (1948), que retratava uma relação homossexual, e no romance Boneca de Luxo (1958), já de regresso aos EUA, a carreira de Capote decaiu até que o sensacional «romance não ficcional» A Sangue Frio (1965) fez dele uma celebridade.
Entre as suas obras posteriores incluem-se Music for Chameleons (1980) e a obra publicada a título póstumo Answered Prayers (1986), um romance inacabado constituído por escandalosos boatos sobre colunáveis.
A sua bibliografia inclui:A Tree of Night and Other Stories (1949), Local Color (1950), The Grass Harp (1951), Beat the Devil (1954), The House of Flowers (1954), The Muses have Heard (1956), The Innocents (1961), Observations (1959), Selected Writings (1963), A Christmas Memory (1966), The Thanksgiving Visitor (1967), Among The Paths to Eden (1967), Laura (1968), House of Flowers (1968), Trilogy (1969), Experiment in Multimedia (1969), Behind Prison Walls (1972), The Glass House (1972), The Dogs Bark (1973), Crimewatch (1973), Then it all Came Down (1976), One Christmas (1982), Conversations With Capote (1985), Súplicas Atendidas (1986), um retrato dos vícios e da perversão dos intelectuais e artistas que Capote conhecera, A Capot Reader (1987) e Marilyn Monroe: Photographs 1945-1962 (1994).
O escritor faleceu em Los Angeles a 25 de Agosto de 1984, devido a problemas causados pelo consumo exagerado de álcool.
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Fevereiro 24 2006

A determinada altura pensei em escrever algo sobre as caricaturas do profeta Maomé. Reflecti sobre o assunto e o que escrevi pareceu-me insuficiente para tentar enquadrar os acontecimentos à luz da minha avaliação da condição humana nos países muçulmanos. Já nem sei onde coloquei o texto. No entanto, os recentes acontecimentos no Iraque e a iminência de uma guerra civil revelam que os problemas são mais complexos e de difícil, se não mesmo impossível, resolução.
É que, sejamos sérios, os protestos não são apenas contra as caricaturas em si, ou seja apenas de cariz religioso, mas principalmente um reflexo do permanente ressentimento que deriva da incomparável qualidade de vida no ocidente.
O incitamento ao ódio religioso e a existência de uma enorme insatisfação perante as limitações de qualidade de vida destas sociedades são duas faces da mesma moeda. Os conflitos entre xiitas e sunitas são apenas e só uma consequência da conjugação destes elementos, sendo uma forma de extravasar a raiva e o ódio que resulta de um sentimento de impotência permanente perante os poderes vigentes. É uma espécie de libertação de energias acumuladas sob os incontroláveis comportamentos das multidões que potenciam os comportamentos individuais.
Os incompreensíveis discursos de exaltação religiosos a incendiar as massas são artifícios utilizados por alguns utilizando, precisamente, estes poderosos sentimentos latentes. Há coisas que a história ensina aos poderosos, não é necessário nenhum Maquiavel para demonstrar a um príncipe como actuar para manter e reforçar o poder (o poder corrompe – não é verdade?). As elites dirigentes desta zona, de forma a manterem o seus próprio status social, agem de forma a manipularem as pessoas, demonizando o ocidente, numa espécie de criação de um inimigo comum, que definem permanentemente como sendo um retrocesso moral, aproveitando alguma ignorância generalizada e o medo.
Nem de propósito, ontem aprendi uma palavra nova, plutocracia (influência dos ricos e poderosos nos governos), cujo significado, em conjugação com a oligarquia, se aplica e explica o fenómeno das manifestações muçulmanas. A problemática das caricaturas poderá, por tudo isto, revelar-se substancialmente mais grave que o que neste momento podemos pensar. Ao aprofundar o fosso civilizacional numa matriz já de si complicada de gerir, atendendo ao conflito Israel/Palestina, a emergência dos partidos radicais e as diferenças entre classes sociais que, em lugar de se esbaterem estão-se a agravar, poderá este ser o início de um conflito de grandes proporções.
A alteração deste estado de coisas tem que passar por aqui. Senão vejamos.
As diferenças sociais, que nestes países são mais que evidentes, subsistindo uma espécie de sociedade medieval feudal, radical com acesso à tecnologia do século XXI e a toda a sua capacidade destrutiva. Conjugada com a velocidade com que as suas acções são divulgadas em exaltação heróica, gerando o medo nos agredidos e o fervor religioso nos agressores, condiciona de sobremaneira seja quem for que nasça neste ambiente e não lhes seja apresentada a diferença.
Sem falar por desconhecimento, eu estive na Dinamarca e, apesar de ser Europeu e o nosso país apresentar um razoável nível de vida se comparamos com a maioria (salvo erro estamos no lugar 23 dos índices de desenvolvimento), apercebi-me claramente de que aquilo é outro patamar de desenvolvimento social. Mais importante, é um patamar que todos deveriam almejar atingir e não podemos permitir que se faça uma demonização deste modelo social.
Não existe nenhum país muçulmano que, na globalidade, se possa sequer comparar aos índices de desenvolvimento da Dinamarca. Este é um país que apenas se limita a trabalhar continuamente em prol da melhoria do nível de vida dos seus cidadãos e não em castrar o pensamento livre através da imposição de uma conduta pela interpretação que alguns fazem das palavras dos profetas.
É preciso não esquecer que a Cristandade já sofreu dos mesmos problemas. Em determinada fase da história era impossível distinguir religião de Estado, tais eram as estreitas relações entre um e outro. Só que nessa altura as pessoas forçaram a separação entre estas duas componentes da vida e os países evoluíram.
No entanto, a dependência do Ocidente dos recursos petrolíferos da região e o conluio resultante dos interesses instalados, da sede de lucro que rege os destinos da humanidade nesta fase do desenvolvimento da Espécie, não augura o aparecimento de grandes progressos para esta situação.
Finalmente as declarações do nosso ministro dos negócios estrangeiros.Absolutamente descabidas e a resposta do embaixador iraniano são, no mínimo, de uma gritante ausência de noção do valor da vida humana.
A suas palavras, duvidando dos seis milhões de mortos, utilizando a palavra incinerar perpetrada sobre seres humanos, como que em certa medida desculpabilizando aqueles inqualificáveis actos dos Nazis, resumindo a ignomínia e a discussão do holocausto ao número de mortos, diz tudo acerca de indivíduos que estão na iminência de possuir poder nuclear. Não me parece que hesitem em situações de crise em utilizar as suas armas. Estas pessoas não inspiram nenhuma confiança.

Filipe Pinto.

Nota:Dou as boas-vindas ao meu amigo Filipe Pinto, que escreverá semanalmente, à sexta-feira, na Fábrica.Estamos a ultimar uns pormenores para ser ele a postar directamente.

publicado por armando ésse às 01:54

Fevereiro 24 2006

A determinada altura pensei em escrever algo sobre as caricaturas do profeta Maomé. Reflecti sobre o assunto e o que escrevi pareceu-me insuficiente para tentar enquadrar os acontecimentos à luz da minha avaliação da condição humana nos países muçulmanos. Já nem sei onde coloquei o texto. No entanto, os recentes acontecimentos no Iraque e a iminência de uma guerra civil revelam que os problemas são mais complexos e de difícil, se não mesmo impossível, resolução.
É que, sejamos sérios, os protestos não são apenas contra as caricaturas em si, ou seja apenas de cariz religioso, mas principalmente um reflexo do permanente ressentimento que deriva da incomparável qualidade de vida no ocidente.
O incitamento ao ódio religioso e a existência de uma enorme insatisfação perante as limitações de qualidade de vida destas sociedades são duas faces da mesma moeda. Os conflitos entre xiitas e sunitas são apenas e só uma consequência da conjugação destes elementos, sendo uma forma de extravasar a raiva e o ódio que resulta de um sentimento de impotência permanente perante os poderes vigentes. É uma espécie de libertação de energias acumuladas sob os incontroláveis comportamentos das multidões que potenciam os comportamentos individuais.
Os incompreensíveis discursos de exaltação religiosos a incendiar as massas são artifícios utilizados por alguns utilizando, precisamente, estes poderosos sentimentos latentes. Há coisas que a história ensina aos poderosos, não é necessário nenhum Maquiavel para demonstrar a um príncipe como actuar para manter e reforçar o poder (o poder corrompe – não é verdade?). As elites dirigentes desta zona, de forma a manterem o seus próprio status social, agem de forma a manipularem as pessoas, demonizando o ocidente, numa espécie de criação de um inimigo comum, que definem permanentemente como sendo um retrocesso moral, aproveitando alguma ignorância generalizada e o medo.
Nem de propósito, ontem aprendi uma palavra nova, plutocracia (influência dos ricos e poderosos nos governos), cujo significado, em conjugação com a oligarquia, se aplica e explica o fenómeno das manifestações muçulmanas. A problemática das caricaturas poderá, por tudo isto, revelar-se substancialmente mais grave que o que neste momento podemos pensar. Ao aprofundar o fosso civilizacional numa matriz já de si complicada de gerir, atendendo ao conflito Israel/Palestina, a emergência dos partidos radicais e as diferenças entre classes sociais que, em lugar de se esbaterem estão-se a agravar, poderá este ser o início de um conflito de grandes proporções.
A alteração deste estado de coisas tem que passar por aqui. Senão vejamos.
As diferenças sociais, que nestes países são mais que evidentes, subsistindo uma espécie de sociedade medieval feudal, radical com acesso à tecnologia do século XXI e a toda a sua capacidade destrutiva. Conjugada com a velocidade com que as suas acções são divulgadas em exaltação heróica, gerando o medo nos agredidos e o fervor religioso nos agressores, condiciona de sobremaneira seja quem for que nasça neste ambiente e não lhes seja apresentada a diferença.
Sem falar por desconhecimento, eu estive na Dinamarca e, apesar de ser Europeu e o nosso país apresentar um razoável nível de vida se comparamos com a maioria (salvo erro estamos no lugar 23 dos índices de desenvolvimento), apercebi-me claramente de que aquilo é outro patamar de desenvolvimento social. Mais importante, é um patamar que todos deveriam almejar atingir e não podemos permitir que se faça uma demonização deste modelo social.
Não existe nenhum país muçulmano que, na globalidade, se possa sequer comparar aos índices de desenvolvimento da Dinamarca. Este é um país que apenas se limita a trabalhar continuamente em prol da melhoria do nível de vida dos seus cidadãos e não em castrar o pensamento livre através da imposição de uma conduta pela interpretação que alguns fazem das palavras dos profetas.
É preciso não esquecer que a Cristandade já sofreu dos mesmos problemas. Em determinada fase da história era impossível distinguir religião de Estado, tais eram as estreitas relações entre um e outro. Só que nessa altura as pessoas forçaram a separação entre estas duas componentes da vida e os países evoluíram.
No entanto, a dependência do Ocidente dos recursos petrolíferos da região e o conluio resultante dos interesses instalados, da sede de lucro que rege os destinos da humanidade nesta fase do desenvolvimento da Espécie, não augura o aparecimento de grandes progressos para esta situação.
Finalmente as declarações do nosso ministro dos negócios estrangeiros.Absolutamente descabidas e a resposta do embaixador iraniano são, no mínimo, de uma gritante ausência de noção do valor da vida humana.
A suas palavras, duvidando dos seis milhões de mortos, utilizando a palavra incinerar perpetrada sobre seres humanos, como que em certa medida desculpabilizando aqueles inqualificáveis actos dos Nazis, resumindo a ignomínia e a discussão do holocausto ao número de mortos, diz tudo acerca de indivíduos que estão na iminência de possuir poder nuclear. Não me parece que hesitem em situações de crise em utilizar as suas armas. Estas pessoas não inspiram nenhuma confiança.

Filipe Pinto.

Nota:Dou as boas-vindas ao meu amigo Filipe Pinto, que escreverá semanalmente, à sexta-feira, na Fábrica.Estamos a ultimar uns pormenores para ser ele a postar directamente.

publicado por armando ésse às 01:54

Fevereiro 21 2006

A maior e mais completa exposição realizada nas últimas décadas sobre a pintora mexicana Frida Kahlo abre as portas a 24 de Fevereiro no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Vinte e seis obras estarão expostas até 21 de Maio. A exposição - que já passou pela Tate Modern de Londres e pela Fundación Caixa Galicia, em Santiago de Compostela - inclui obras do Museu Dolores Olmedo, no México.Do total das 26 obras apresentadas no Grande Hall do Centro de Exposições destaca-se “A Coluna Partida” (1944), “O Camião” (1929), “Hospital Henry Ford” (1932) e “Auto-retrato com macaco” (1945).A exposição fica completa com uma colecção de fotografias e objectos pessoais da pintora, pertencentes ao museu mexicano.

Frida Kahlo é a mais famosa pintora mexicana de sempre. Magdalena Cármen Frida Kahlo y Calderón, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México e teve uma vida que se pautou por acontecimentos trágicos, os quais exerceram uma grande influência na forma de ver o mundo, que a levaram a abraçar a pintura como forma de poder exteriorizar todos os sentimentos que a assolavam por dentro. Aos seis anos, contraiu poliomielite, o que lhe deixou marcas visíveis na perna direita e no pé esquerdo, que Frida tentou esconder passando a usar calças na adolescência e, mais tarde, compridas saias mexicanas. Aos 18 anos, o autocarro em que seguia Frida Kahlo embateu num eléctrico. A jovem Frida sofreu ferimentos na coluna vertebral, de tal modo graves que os médicos questionavam-se se sobreviveria ou não. Passou nove meses na cama de um hospital, completamente privada de liberdade e de movimentos corporais. Foi precisamente neste período que começou a pintar pela primeira vez, como forma de se distrair do sofrimento que a consumia.

Os auto-retratos, “Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas. Saída do hospital, e postas de lado as hipóteses de vir a tornar-se médica, Frida Kahlo começou a dedicar todo o seu tempo à pintura, afirmando que a sua obsessão era começar de novo e passar a pintar as coisas tais como os seus olhos as viam. Por esta altura, a artista decidiu quebrar os tabus do seu tempo e passou a representar nos seus quadros imagens muito pessoais, intimamente relacionadas com o corpo e sexualidade femininas. A pintora começa igualmente a relacionar-se com artistas e intelectuais do seu tempo e acaba por casar-se com Diego Rivera, um famoso pintor mural mexicano. Quando se casou com Frida, a família dela comparou a união ao casamento de um elefante com uma pomba - ele era imenso e 21 anos mais velho. Mas os dois formaram o casal de artistas mais original da época. Frida amargou muito com os relacionamentos extra-conjugais do marido, seu grande amor e reconhecido mulherengo. No entanto Frida Kahlo, também viveu romances paralelos com mulheres e homens, o mais famoso com o revolucionário russo León Trotski. Apesar das traições do marido, a maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos, o que ficou claro em muitos dos seus quadros. Em 1930, viaja para os EUA com o marido. Frida Kahlo, mais mexicana do que nunca, chocava na sociedade americana, com as suas roupas, risos e gestos. Em Detroit, Frida engravida, mas sofre um aborto, facto que mais de uma vez leva embora o seu sonho de ser mãe. Nesse período, Frida começou a produzir telas, a respeito do aborto, do quarto do hospital e dos sentimentos inerentes a estas perdas. De volta ao México, teve de superar ainda a morte da mãe, mais um aborto e algumas crises no seu casamento com Diego Rivera, que a traía com a sua irmã mais nova, Cristina. Em 1939 parte sozinha para Nova Iorque, onde faz a sua primeira exposição individual, na galeria de Julien Levy, que é um sucesso. Em seguida, segue para Paris, onde é hospitalizada com uma infecção renal, mas também entra no mundo da vanguarda artística dos surrealistas. Conhece Pablo Picasso, Wassily Kandinsky, Marcel Duchamp, Paul Éluard e Max Ernst. O museu do Louvre adquire um dos seus auto-retratos. No mesmo ano, divorcia-se de Diego Rivera, com quem volta a casar-se um ano depois. Em 1942 começa a dar aulas de arte numa escola recém aberta na Cidade do México. Entretanto, o seu estado de saúde piorou, e o colete antes de gesso, foi substituído por um de ferro que impedia até a sua respiração. Em 1946 a sua coluna precisou ser operada. Com fortes dores na perna direita, em 1950 é tratada no Hospital Inglês durante todo o ano. Os médicos diagnosticam a amputação da perna e ela entra em depressão. Entre, 1950 e 1951, Frida Kahlo é submetida a sete operações na coluna, que infeccionam, devido ao colete de uso obrigatório. Depois destas operações, Frida Kahlo volta a pintar sendo-lhe montado um cavalete especial na sua cama para que pudesse trabalhar, deitada de costas. Frida Kahlo pintou até à sua morte, que chegou na madrugada de 13 de Julho de 1954. A mexicana sofredora, tinha 47 anos e causa oficial da morte foi uma embolia pulmonar, no entanto a última anotação no seu diário permite aventar a hipótese de suicídio:"Espero alegre a minha partida e espero não retornar nunca mais."
publicado por armando ésse às 10:01
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Fevereiro 21 2006

A maior e mais completa exposição realizada nas últimas décadas sobre a pintora mexicana Frida Kahlo abre as portas a 24 de Fevereiro no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Vinte e seis obras estarão expostas até 21 de Maio. A exposição - que já passou pela Tate Modern de Londres e pela Fundación Caixa Galicia, em Santiago de Compostela - inclui obras do Museu Dolores Olmedo, no México.Do total das 26 obras apresentadas no Grande Hall do Centro de Exposições destaca-se “A Coluna Partida” (1944), “O Camião” (1929), “Hospital Henry Ford” (1932) e “Auto-retrato com macaco” (1945).A exposição fica completa com uma colecção de fotografias e objectos pessoais da pintora, pertencentes ao museu mexicano.

Frida Kahlo é a mais famosa pintora mexicana de sempre. Magdalena Cármen Frida Kahlo y Calderón, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México e teve uma vida que se pautou por acontecimentos trágicos, os quais exerceram uma grande influência na forma de ver o mundo, que a levaram a abraçar a pintura como forma de poder exteriorizar todos os sentimentos que a assolavam por dentro. Aos seis anos, contraiu poliomielite, o que lhe deixou marcas visíveis na perna direita e no pé esquerdo, que Frida tentou esconder passando a usar calças na adolescência e, mais tarde, compridas saias mexicanas. Aos 18 anos, o autocarro em que seguia Frida Kahlo embateu num eléctrico. A jovem Frida sofreu ferimentos na coluna vertebral, de tal modo graves que os médicos questionavam-se se sobreviveria ou não. Passou nove meses na cama de um hospital, completamente privada de liberdade e de movimentos corporais. Foi precisamente neste período que começou a pintar pela primeira vez, como forma de se distrair do sofrimento que a consumia.

Os auto-retratos, “Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas. Saída do hospital, e postas de lado as hipóteses de vir a tornar-se médica, Frida Kahlo começou a dedicar todo o seu tempo à pintura, afirmando que a sua obsessão era começar de novo e passar a pintar as coisas tais como os seus olhos as viam. Por esta altura, a artista decidiu quebrar os tabus do seu tempo e passou a representar nos seus quadros imagens muito pessoais, intimamente relacionadas com o corpo e sexualidade femininas. A pintora começa igualmente a relacionar-se com artistas e intelectuais do seu tempo e acaba por casar-se com Diego Rivera, um famoso pintor mural mexicano. Quando se casou com Frida, a família dela comparou a união ao casamento de um elefante com uma pomba - ele era imenso e 21 anos mais velho. Mas os dois formaram o casal de artistas mais original da época. Frida amargou muito com os relacionamentos extra-conjugais do marido, seu grande amor e reconhecido mulherengo. No entanto Frida Kahlo, também viveu romances paralelos com mulheres e homens, o mais famoso com o revolucionário russo León Trotski. Apesar das traições do marido, a maior dor de Frida foi a impossibilidade de ter filhos, o que ficou claro em muitos dos seus quadros. Em 1930, viaja para os EUA com o marido. Frida Kahlo, mais mexicana do que nunca, chocava na sociedade americana, com as suas roupas, risos e gestos. Em Detroit, Frida engravida, mas sofre um aborto, facto que mais de uma vez leva embora o seu sonho de ser mãe. Nesse período, Frida começou a produzir telas, a respeito do aborto, do quarto do hospital e dos sentimentos inerentes a estas perdas. De volta ao México, teve de superar ainda a morte da mãe, mais um aborto e algumas crises no seu casamento com Diego Rivera, que a traía com a sua irmã mais nova, Cristina. Em 1939 parte sozinha para Nova Iorque, onde faz a sua primeira exposição individual, na galeria de Julien Levy, que é um sucesso. Em seguida, segue para Paris, onde é hospitalizada com uma infecção renal, mas também entra no mundo da vanguarda artística dos surrealistas. Conhece Pablo Picasso, Wassily Kandinsky, Marcel Duchamp, Paul Éluard e Max Ernst. O museu do Louvre adquire um dos seus auto-retratos. No mesmo ano, divorcia-se de Diego Rivera, com quem volta a casar-se um ano depois. Em 1942 começa a dar aulas de arte numa escola recém aberta na Cidade do México. Entretanto, o seu estado de saúde piorou, e o colete antes de gesso, foi substituído por um de ferro que impedia até a sua respiração. Em 1946 a sua coluna precisou ser operada. Com fortes dores na perna direita, em 1950 é tratada no Hospital Inglês durante todo o ano. Os médicos diagnosticam a amputação da perna e ela entra em depressão. Entre, 1950 e 1951, Frida Kahlo é submetida a sete operações na coluna, que infeccionam, devido ao colete de uso obrigatório. Depois destas operações, Frida Kahlo volta a pintar sendo-lhe montado um cavalete especial na sua cama para que pudesse trabalhar, deitada de costas. Frida Kahlo pintou até à sua morte, que chegou na madrugada de 13 de Julho de 1954. A mexicana sofredora, tinha 47 anos e causa oficial da morte foi uma embolia pulmonar, no entanto a última anotação no seu diário permite aventar a hipótese de suicídio:"Espero alegre a minha partida e espero não retornar nunca mais."
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