A FÁBRICA

Novembro 29 2006
Portugal é tão profícuo a produzir teses, antíteses, estudos e projectos como a produzir analfabetos. São analfabetos funcionais que sabendo ler e escrever (mal), o seu gosto pela leitura pouco vai além de palavras derivadas de bola golo e baliza, de preferência com menos de três sílabas para não cansar a vista e não forçar os neurónios a um esforço excessivo.
Menos mal que a Nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) com a sua “abstrusa” nomenclatura vai facilitar a gíria desportiva e evitar que o Gabriel Alves continue a sua teimosa invenção de palavras sobrecarregadas com advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção e frases complexas copulativas assindéticas e nos vais ajudar a entender melhor as transcendentes maquinações táctico-estratégicas do futebol.
Não deixa de ser pertinente a correlação directa entre a produção intelectual e a proliferação de analfabetos, de tal modo, que a continuar assim, os intelectuais, por razões de mercado, (entenda-se), vão virar-se definitivamente para o desporto rei.
Para animar as hostes, agora que no futebol as coisas estão mais calmas, surgiu a famosa gramática que tem a particularidade de ter gerado amplos consensos em seu redor.
Independentemente do mérito do trabalho dos autores da TLEBS, parece que teria sido mais prudente e avisado terem ampliado e promovido o debate, formulando dados e hipóteses em vez de terem antecipado soluções. Estas deveriam ter surgido como efeito de uma prática efectiva e de uma elaboração em trabalho participado com os vários intervenientes no processo educativo, criando assim as melhores condições para a produção de um manual com a qualidade que lhe é exigível, compreendido e aceite por todos.
Em vez disso, atiram da sua cátedra receitas para os “putos” consumirem e os professores que se desenrasquem.
Não me parece que seja a melhor forma de se incutir o gosto pela língua nem pela leitura mas antes um caminho chato e doloroso que me faz recordar a forma como, no meu tempo, iniciávamos tortuosamente a descoberta dos Lusíadas e só muito depois, após inúmeras sessões de psicoterapia, foi possível descobrir o seu verdadeiro valor.
Mas deixemo-nos de fait-divers e voltando ao assunto que interessa de momento (o futebol obviamente), que fique registado que quando o Gabriel Alves se referir ao árbitro da partida está simplesmente a designar um nome, Comum, Humano, Animado, Concreto, Contável, Não Massivo, Singular, Masculino e Género Natural e se algum adepto num excesso de linguagem lhe chamar Camelo saiba que apenas esta a mudar uma das designações atrás referidas, e meus senhores! Se for Gay pode muito bem ser um Epiceno! É melhor saber primeiro se é homem ou mulher, porque epiceno é na verdade um nome muito feio e pode induzir uma falsa ideia de discriminação.
Como eu acredito que os autores da nova TLEBS não têm nada contra os alunos, nem contra os professores nem contra o futebol e muito menos contra o Gabriel Alves terei que concluir, por exclusão de partes, que eles apenas não gostam da língua portuguesa.
Vá-se lá saber porquê!
Jorge Gaspar.
publicado por armando ésse às 08:00

Novembro 29 2006
Portugal é tão profícuo a produzir teses, antíteses, estudos e projectos como a produzir analfabetos. São analfabetos funcionais que sabendo ler e escrever (mal), o seu gosto pela leitura pouco vai além de palavras derivadas de bola golo e baliza, de preferência com menos de três sílabas para não cansar a vista e não forçar os neurónios a um esforço excessivo.
Menos mal que a Nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS) com a sua “abstrusa” nomenclatura vai facilitar a gíria desportiva e evitar que o Gabriel Alves continue a sua teimosa invenção de palavras sobrecarregadas com advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção e frases complexas copulativas assindéticas e nos vais ajudar a entender melhor as transcendentes maquinações táctico-estratégicas do futebol.
Não deixa de ser pertinente a correlação directa entre a produção intelectual e a proliferação de analfabetos, de tal modo, que a continuar assim, os intelectuais, por razões de mercado, (entenda-se), vão virar-se definitivamente para o desporto rei.
Para animar as hostes, agora que no futebol as coisas estão mais calmas, surgiu a famosa gramática que tem a particularidade de ter gerado amplos consensos em seu redor.
Independentemente do mérito do trabalho dos autores da TLEBS, parece que teria sido mais prudente e avisado terem ampliado e promovido o debate, formulando dados e hipóteses em vez de terem antecipado soluções. Estas deveriam ter surgido como efeito de uma prática efectiva e de uma elaboração em trabalho participado com os vários intervenientes no processo educativo, criando assim as melhores condições para a produção de um manual com a qualidade que lhe é exigível, compreendido e aceite por todos.
Em vez disso, atiram da sua cátedra receitas para os “putos” consumirem e os professores que se desenrasquem.
Não me parece que seja a melhor forma de se incutir o gosto pela língua nem pela leitura mas antes um caminho chato e doloroso que me faz recordar a forma como, no meu tempo, iniciávamos tortuosamente a descoberta dos Lusíadas e só muito depois, após inúmeras sessões de psicoterapia, foi possível descobrir o seu verdadeiro valor.
Mas deixemo-nos de fait-divers e voltando ao assunto que interessa de momento (o futebol obviamente), que fique registado que quando o Gabriel Alves se referir ao árbitro da partida está simplesmente a designar um nome, Comum, Humano, Animado, Concreto, Contável, Não Massivo, Singular, Masculino e Género Natural e se algum adepto num excesso de linguagem lhe chamar Camelo saiba que apenas esta a mudar uma das designações atrás referidas, e meus senhores! Se for Gay pode muito bem ser um Epiceno! É melhor saber primeiro se é homem ou mulher, porque epiceno é na verdade um nome muito feio e pode induzir uma falsa ideia de discriminação.
Como eu acredito que os autores da nova TLEBS não têm nada contra os alunos, nem contra os professores nem contra o futebol e muito menos contra o Gabriel Alves terei que concluir, por exclusão de partes, que eles apenas não gostam da língua portuguesa.
Vá-se lá saber porquê!
Jorge Gaspar.
publicado por armando ésse às 08:00

Novembro 29 2006
Comentário de uma leitora atenta:

Obrigada por ter "destapado o umbigo da nossa humilhação".
Algumas apanham e calam-se impotentes, outras ouvem e fecham-se numa concha humilhadas, as restantes, ouvem, sabem, vêm, e acham terrivel, mas também não fazem nada...Eles sabem, ouvem, vêm, alguns até acometem também e todos juntos achamos repugnante mas está toda a gente demasiado ocupada, ou tem demasiado bom senso, e fica impavida e serena à espera que alguem faça.
Se sempre que alguem ouvisse, visse, tivesse conhecimento de casos de violência doméstica, de qualquer genero, metesse o "bedelho", e apresentasse queixa na entidade competente mais próxima, poria fim à grande maioria dos casos...Os que os cometem (este crime público) teriam medo de ser ouvidos, vistos, ou falados....Vale a sua intenção e de muito poucos como o Sr.
Mais uma vez obrigada!
XP.

Na realidade a violência doméstica, é em Portugal um crime público o que significa que não é necessário que seja a vítima a apresentar a queixa pessoalmente. Pode ser denunciada por terceiros e não exige queixa das partes envolvidas.
A violência doméstica é punível com pena de prisão de um a cinco anos quando se trata de maus tratos entre cônjuges ou entre quem conviver em condições idênticas às dos cônjuges.
Para apresentar uma queixa, as vítimas devem dirigir-se ao posto mais próximo da GNR, da PSP, da Polícia Judiciária ou aos serviços do Ministério Público do Tribunal da Comarca da área da sua residência.
Por último mas não menos importante, resta-me acrescentar que, não pactuar com essa escumalha é um dever cívico.
publicado por armando ésse às 06:20

Novembro 29 2006
Comentário de uma leitora atenta:

Obrigada por ter "destapado o umbigo da nossa humilhação".
Algumas apanham e calam-se impotentes, outras ouvem e fecham-se numa concha humilhadas, as restantes, ouvem, sabem, vêm, e acham terrivel, mas também não fazem nada...Eles sabem, ouvem, vêm, alguns até acometem também e todos juntos achamos repugnante mas está toda a gente demasiado ocupada, ou tem demasiado bom senso, e fica impavida e serena à espera que alguem faça.
Se sempre que alguem ouvisse, visse, tivesse conhecimento de casos de violência doméstica, de qualquer genero, metesse o "bedelho", e apresentasse queixa na entidade competente mais próxima, poria fim à grande maioria dos casos...Os que os cometem (este crime público) teriam medo de ser ouvidos, vistos, ou falados....Vale a sua intenção e de muito poucos como o Sr.
Mais uma vez obrigada!
XP.

Na realidade a violência doméstica, é em Portugal um crime público o que significa que não é necessário que seja a vítima a apresentar a queixa pessoalmente. Pode ser denunciada por terceiros e não exige queixa das partes envolvidas.
A violência doméstica é punível com pena de prisão de um a cinco anos quando se trata de maus tratos entre cônjuges ou entre quem conviver em condições idênticas às dos cônjuges.
Para apresentar uma queixa, as vítimas devem dirigir-se ao posto mais próximo da GNR, da PSP, da Polícia Judiciária ou aos serviços do Ministério Público do Tribunal da Comarca da área da sua residência.
Por último mas não menos importante, resta-me acrescentar que, não pactuar com essa escumalha é um dever cívico.
publicado por armando ésse às 06:20

Novembro 28 2006

Em média, uma mulher em cada três sofre de violência na sua vida, desde espancamentos a relações sexuais impostas ou outras formas de maus-tratos, segundo um relatório do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, divulgado em Outubro.
Em Portugal, a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) assinala o dia com a divulgação de um estudo encarado como uma forma de "denunciar e alertar as autoridades e a sociedade para uma situação preocupante em Portugal", nas palavras de Elisabete Rodriques.
Entre Novembro de 2005 e o mesmo mês deste ano morreram em Portugal 37 mulheres vítimas de violência doméstica, revela o estudo apresentado sexta-feira pela UMAR.
Por sua vez, o Movimento democrático de Mulheres (MDM) associa- se a este Dia Internacional lançando um conjunto de iniciativas dirigidas "a públicos-alvo diferentes", com o intuito comum de aumentar a visibilidade desta temática que "tão gravemente" atinge as mulheres.Entre estas iniciativas, destaca-se a participação na jornada de luta da CGTP-IN, hoje, com palavras de ordem e exigências relativamente às violências sobre as mulheres.
Noutra iniciativa, o MDM enviou esta semana uma Carta Aberta aos órgãos de poder, sobre o combate à violência doméstica, lembrando medidas de "discriminação positiva" de apoio às vítimas, que constam do Plano Nacional Contra a Violência Doméstica (2003/06).
O Dia Internacional para a eliminação da violência doméstica (25 de Novembro), é uma iniciativa da ONU e do Conselho da Europa e serve para debater e da visibilidade às vítimas da violência, quer através de espancamento, violência conjugal, crimes de honra ou casamentos forçados.Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, entre 40 a 70 por cento das mulheres assassinadas são-no pelo seu marido ou companheiro.
Em França, cada três dias, uma mulher é morta pelo seu companheiro, segundo o governo francês. No Brasil, uma mulher é espancada em cada 15 segundos, ou seja, 2,1 milhões por ano, segundo a organização não governamental Agenda.
Em África, a violência contra as mulheres passa pelas mutilações genitais, sofridas por 130 milhões de raparigas no mundo, segundo a ONU, mas também por um número recorde de mulheres infectadas pelo vírus da sida por não utilização do preservativo.Na Guiné-Bissau, a violência doméstica, sobretudo contra mulheres e crianças, tem sofrido nos últimos anos um "aumento alarmante".
Francisca Pereira, presidente da Rede Nacional contra a Violência do Género e da Criança, indicou que, em 2005, as autoridades competentes do país registaram "pelo menos 427 casos".No Sudeste Asiático, crimes de honra e discriminações são o dia a dia de muitas mulheres. No Afeganistão, os suicídios por imolação de jovens adolescentes obrigadas a casamentos forçados estão a aumentar, estima a ONG alemã Medica Mondiale.
Os casamentos forçados representam, naquele país, entre 60 a 80 por cento das uniões, segundo a comissão independente de defesa dos direitos humanos afegã.Neste contexto, a ONU congratulou-se quarta-feira de ver que 60 Estados em todo o mundo tinham adoptado leis contra a violência conjugal e familiar.
A UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres, com sede em Nova Iorque, deverá gastar este ano 3,5 milhões de dólares, mais do dobro do ano passado, para lutar contra a violência contra mulheres.Estes fundos serão distribuídos nomeadamente a advogados nos Camarões que elaboram um código de família, a mulheres na Bulgária que trabalham numa lei contra a violência doméstica, a uma associação na Costa do Marfim que insiste na relação entre a violência contra as mulheres e a sida e quer facilitar o acesso à ajuda jurídica e médica.
Na Europa, a luta assume formas diversas. A Espanha distingue-se por ter reagido ao problema com uma legislação "global", que traz respostas em termos de repressão, prevenção, acompanhamento das vítimas e dos autores da violência.Este país, juntamente com a Suécia, converteu o carácter repetido da violência conjugal em "infracção penal", que leva à aplicação de uma pena suplementar. Em França, o código penal pune "as violências habituais" mas unicamente para os menores de 15 anos ou as pessoas particularmente vulneráveis.Público.
publicado por armando ésse às 12:57

Novembro 28 2006

Em média, uma mulher em cada três sofre de violência na sua vida, desde espancamentos a relações sexuais impostas ou outras formas de maus-tratos, segundo um relatório do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, divulgado em Outubro.
Em Portugal, a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) assinala o dia com a divulgação de um estudo encarado como uma forma de "denunciar e alertar as autoridades e a sociedade para uma situação preocupante em Portugal", nas palavras de Elisabete Rodriques.
Entre Novembro de 2005 e o mesmo mês deste ano morreram em Portugal 37 mulheres vítimas de violência doméstica, revela o estudo apresentado sexta-feira pela UMAR.
Por sua vez, o Movimento democrático de Mulheres (MDM) associa- se a este Dia Internacional lançando um conjunto de iniciativas dirigidas "a públicos-alvo diferentes", com o intuito comum de aumentar a visibilidade desta temática que "tão gravemente" atinge as mulheres.Entre estas iniciativas, destaca-se a participação na jornada de luta da CGTP-IN, hoje, com palavras de ordem e exigências relativamente às violências sobre as mulheres.
Noutra iniciativa, o MDM enviou esta semana uma Carta Aberta aos órgãos de poder, sobre o combate à violência doméstica, lembrando medidas de "discriminação positiva" de apoio às vítimas, que constam do Plano Nacional Contra a Violência Doméstica (2003/06).
O Dia Internacional para a eliminação da violência doméstica (25 de Novembro), é uma iniciativa da ONU e do Conselho da Europa e serve para debater e da visibilidade às vítimas da violência, quer através de espancamento, violência conjugal, crimes de honra ou casamentos forçados.Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, entre 40 a 70 por cento das mulheres assassinadas são-no pelo seu marido ou companheiro.
Em França, cada três dias, uma mulher é morta pelo seu companheiro, segundo o governo francês. No Brasil, uma mulher é espancada em cada 15 segundos, ou seja, 2,1 milhões por ano, segundo a organização não governamental Agenda.
Em África, a violência contra as mulheres passa pelas mutilações genitais, sofridas por 130 milhões de raparigas no mundo, segundo a ONU, mas também por um número recorde de mulheres infectadas pelo vírus da sida por não utilização do preservativo.Na Guiné-Bissau, a violência doméstica, sobretudo contra mulheres e crianças, tem sofrido nos últimos anos um "aumento alarmante".
Francisca Pereira, presidente da Rede Nacional contra a Violência do Género e da Criança, indicou que, em 2005, as autoridades competentes do país registaram "pelo menos 427 casos".No Sudeste Asiático, crimes de honra e discriminações são o dia a dia de muitas mulheres. No Afeganistão, os suicídios por imolação de jovens adolescentes obrigadas a casamentos forçados estão a aumentar, estima a ONG alemã Medica Mondiale.
Os casamentos forçados representam, naquele país, entre 60 a 80 por cento das uniões, segundo a comissão independente de defesa dos direitos humanos afegã.Neste contexto, a ONU congratulou-se quarta-feira de ver que 60 Estados em todo o mundo tinham adoptado leis contra a violência conjugal e familiar.
A UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres, com sede em Nova Iorque, deverá gastar este ano 3,5 milhões de dólares, mais do dobro do ano passado, para lutar contra a violência contra mulheres.Estes fundos serão distribuídos nomeadamente a advogados nos Camarões que elaboram um código de família, a mulheres na Bulgária que trabalham numa lei contra a violência doméstica, a uma associação na Costa do Marfim que insiste na relação entre a violência contra as mulheres e a sida e quer facilitar o acesso à ajuda jurídica e médica.
Na Europa, a luta assume formas diversas. A Espanha distingue-se por ter reagido ao problema com uma legislação "global", que traz respostas em termos de repressão, prevenção, acompanhamento das vítimas e dos autores da violência.Este país, juntamente com a Suécia, converteu o carácter repetido da violência conjugal em "infracção penal", que leva à aplicação de uma pena suplementar. Em França, o código penal pune "as violências habituais" mas unicamente para os menores de 15 anos ou as pessoas particularmente vulneráveis.Público.
publicado por armando ésse às 12:57

Novembro 27 2006
Mário Cesariny de Vasconcelos, poeta e pintor que morreu domingo em Lisboa, aos 83 anos, foi o principal representante do Surrealismo português, um homem irónico e controverso que dispensava aplausos e homenagens.
Nascido em Lisboa a 9 de Agosto de 1923, de pai beirão, negociante de jóias, e mãe castelhana, professora de francês, resolveu, a partir de certa altura, prescindir do apelido paterno e ultimamente gostava de acrescentar a Cesariny o Rossi dos seus antepassados.
Estudou no Liceu Gil Vicente, frequentou o primeiro ano de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) e mudou depois para a Escola de Artes Decorativas António Arroio, tendo igualmente estudado música com o compositor Fernando Lopes Graça.
Durante o período em que viveu em Paris, em 1947, frequentou a Academia de La Grande Chaumire.
Na capital francesa, conheceu o fundador do movimento surrealista francês André Breton, cuja influência o levou a integrar no mesmo ano, embora à distância, o Grupo Surrealista de Lisboa, formado por António Pedro, José-Augusto França, Cândido Costa Pinto, Marcelino Vespeira, João Moniz Pereira e Alexandre O'Neill.
Este grupo surgiu com o objectivo de protestar contra o regime político vigente em Portugal e contra o neo-realismo, mas houve cisões e Cesariny saiu, fundando mais tarde o "anti-grupo" "Os Surrealistas", com Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa, Fernando José Francisco, Carlos Eurico da Costa, Mário -Henrique Leiria, Artur do Cruzeiro Seixas e Pedro Oom, entre outros.
Em 1949, redigiu, com o grupo, o seu manifesto colectivo, "A Afixação Proibida" e promoveu as sessões "O Surrealismo e o seu Público em 1949" e a I Exposição dos Surrealistas.
Quando terminaram as experiências colectivas do que foi quase "um movimento (mais ou menos) organizado" - 1947/1953 e 1958/1963 - Cesariny prosseguiu sozinho, como fariam alguns dos seus outros companheiros que sobreviveram à aventura surrealista, com uma actividade inesgotável e orientada em várias direcções.
Nas suas obras, adoptava uma atitude estética caracterizada pela constante experimentação e praticou uma técnica de escrita e de pintura muito divulgada entre os surrealistas, designada como "cadáver esquisito", que consistia na elaboração de uma obra por três ou quatro pessoas, num processo em cadeia criativa, em que cada um dava seguimento, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas uma parte do que aquele fizera. Primeiro, dedicou-se à pintura de forma ocasional e, a partir de certa altura, de uma forma quase exclusiva, tendo deixando de lado algumas facetas do seu talento: primeiro, deixou de tocar piano (ao que parece, tocava muito bem), depois, foi a vez da escrita - "secou", dizia. Quando lhe perguntaram uma vez se não sentia necessidade de escrever, respondeu: "Nenhuma. Para quê? A quem?".
"A poesia foi um fogo muito grande que ardeu. Depois ficaram as cinzas. Não sou capaz de fazer versos porque sim. Acabou", declarou, no documentário "Autografia" (nome de um poema seu), realizado por Miguel Gonçalves Mendes em 2004, o único feito sobre a sua vida e obra. "Sou um poeta bastante sofrível, um grande poeta numa época em que o tecto está muito baixo", "sem Anteros, Pessanhas ou Pessoas", e em que "o surrealismo foi transformado em museu", afirmou.
Da sua extensa obra literária, destaca-se o seu trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal, sendo também a sua obra poética considerada um dos mais ricos e complexos contributos para a história da poesia portuguesa contemporânea.
Uma poesia primeiro de intervenção contra as poéticas dominantes, no Portugal da década de 40, através da paródia e do pastiche sarcásticos, uma poesia da tentativa fracassada de reabilitação da realidade quotidiana e depois, sobretudo, uma poesia do amor louco, desejado, vivido ou mal vivido, abandonado ou traído, cantado ou recordado e reinventado de forma elegíaca. Para Cesariny, homossexual assumido, o amor era "um desmesurado desejo de amizade", em que "o outro é um espelho sem o qual não nos vemos, não existimos", e "a única coisa que há para acreditar". "É o único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado", defendia. O poeta defendia que se pode morrer de amor - foi, na sua opinião, o que aconteceu a outro surrealista, Ernesto Sampaio, pouco tempo depois da morte da mulher, a actriz Fernanda Alves. Mas considerava que "também se pode morrer de falta de amor".
Da sua obra, fazem parte títulos como "Corpo Visível" (1950), "Manual de Prestidigitação" (1956), "Pena Capital", "Nobilíssima Visão" (1959), "Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito" (1961), "A Cidade Queimada" (com arranjo gráfico e ilustrações de Cruzeiro Seixas, (1965), "Burlescas, Teóricas e Sentimentais" (1972), "Primavera Autónoma das Estradas" (1980), "O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Nacionais & Estrangeiras por M.C.V." (1989) e "Titânia" (1994). Sobre as sessões para que o convidavam e em que o aplaudiam, o poeta comentava: "Estou num pedestal muito alto, batem palmas e depois deixam-me ir sozinho para casa. Isto é a glória literária à portuguesa".
Em 2005, recebeu as duas únicas distinções da sua carreira: o Grande Prémio Vida Literária APE/CGD, pelo conjunto da sua obra, e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, que lhe foi entregue pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.
Nos últimos anos de vida, desenvolveu uma frenética actividade de transformação e reabilitação ou "redenção" do real quotidiano, da qual nasceram muitas colagens com pinturas, objectos, instalações e outras fantasias materiais.
"Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda", afirmou em "Autografia".
Agência LUSA.
publicado por armando ésse às 08:09
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Novembro 27 2006
Mário Cesariny de Vasconcelos, poeta e pintor que morreu domingo em Lisboa, aos 83 anos, foi o principal representante do Surrealismo português, um homem irónico e controverso que dispensava aplausos e homenagens.
Nascido em Lisboa a 9 de Agosto de 1923, de pai beirão, negociante de jóias, e mãe castelhana, professora de francês, resolveu, a partir de certa altura, prescindir do apelido paterno e ultimamente gostava de acrescentar a Cesariny o Rossi dos seus antepassados.
Estudou no Liceu Gil Vicente, frequentou o primeiro ano de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL) e mudou depois para a Escola de Artes Decorativas António Arroio, tendo igualmente estudado música com o compositor Fernando Lopes Graça.
Durante o período em que viveu em Paris, em 1947, frequentou a Academia de La Grande Chaumire.
Na capital francesa, conheceu o fundador do movimento surrealista francês André Breton, cuja influência o levou a integrar no mesmo ano, embora à distância, o Grupo Surrealista de Lisboa, formado por António Pedro, José-Augusto França, Cândido Costa Pinto, Marcelino Vespeira, João Moniz Pereira e Alexandre O'Neill.
Este grupo surgiu com o objectivo de protestar contra o regime político vigente em Portugal e contra o neo-realismo, mas houve cisões e Cesariny saiu, fundando mais tarde o "anti-grupo" "Os Surrealistas", com Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa, Fernando José Francisco, Carlos Eurico da Costa, Mário -Henrique Leiria, Artur do Cruzeiro Seixas e Pedro Oom, entre outros.
Em 1949, redigiu, com o grupo, o seu manifesto colectivo, "A Afixação Proibida" e promoveu as sessões "O Surrealismo e o seu Público em 1949" e a I Exposição dos Surrealistas.
Quando terminaram as experiências colectivas do que foi quase "um movimento (mais ou menos) organizado" - 1947/1953 e 1958/1963 - Cesariny prosseguiu sozinho, como fariam alguns dos seus outros companheiros que sobreviveram à aventura surrealista, com uma actividade inesgotável e orientada em várias direcções.
Nas suas obras, adoptava uma atitude estética caracterizada pela constante experimentação e praticou uma técnica de escrita e de pintura muito divulgada entre os surrealistas, designada como "cadáver esquisito", que consistia na elaboração de uma obra por três ou quatro pessoas, num processo em cadeia criativa, em que cada um dava seguimento, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas uma parte do que aquele fizera. Primeiro, dedicou-se à pintura de forma ocasional e, a partir de certa altura, de uma forma quase exclusiva, tendo deixando de lado algumas facetas do seu talento: primeiro, deixou de tocar piano (ao que parece, tocava muito bem), depois, foi a vez da escrita - "secou", dizia. Quando lhe perguntaram uma vez se não sentia necessidade de escrever, respondeu: "Nenhuma. Para quê? A quem?".
"A poesia foi um fogo muito grande que ardeu. Depois ficaram as cinzas. Não sou capaz de fazer versos porque sim. Acabou", declarou, no documentário "Autografia" (nome de um poema seu), realizado por Miguel Gonçalves Mendes em 2004, o único feito sobre a sua vida e obra. "Sou um poeta bastante sofrível, um grande poeta numa época em que o tecto está muito baixo", "sem Anteros, Pessanhas ou Pessoas", e em que "o surrealismo foi transformado em museu", afirmou.
Da sua extensa obra literária, destaca-se o seu trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal, sendo também a sua obra poética considerada um dos mais ricos e complexos contributos para a história da poesia portuguesa contemporânea.
Uma poesia primeiro de intervenção contra as poéticas dominantes, no Portugal da década de 40, através da paródia e do pastiche sarcásticos, uma poesia da tentativa fracassada de reabilitação da realidade quotidiana e depois, sobretudo, uma poesia do amor louco, desejado, vivido ou mal vivido, abandonado ou traído, cantado ou recordado e reinventado de forma elegíaca. Para Cesariny, homossexual assumido, o amor era "um desmesurado desejo de amizade", em que "o outro é um espelho sem o qual não nos vemos, não existimos", e "a única coisa que há para acreditar". "É o único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado", defendia. O poeta defendia que se pode morrer de amor - foi, na sua opinião, o que aconteceu a outro surrealista, Ernesto Sampaio, pouco tempo depois da morte da mulher, a actriz Fernanda Alves. Mas considerava que "também se pode morrer de falta de amor".
Da sua obra, fazem parte títulos como "Corpo Visível" (1950), "Manual de Prestidigitação" (1956), "Pena Capital", "Nobilíssima Visão" (1959), "Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito" (1961), "A Cidade Queimada" (com arranjo gráfico e ilustrações de Cruzeiro Seixas, (1965), "Burlescas, Teóricas e Sentimentais" (1972), "Primavera Autónoma das Estradas" (1980), "O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Nacionais & Estrangeiras por M.C.V." (1989) e "Titânia" (1994). Sobre as sessões para que o convidavam e em que o aplaudiam, o poeta comentava: "Estou num pedestal muito alto, batem palmas e depois deixam-me ir sozinho para casa. Isto é a glória literária à portuguesa".
Em 2005, recebeu as duas únicas distinções da sua carreira: o Grande Prémio Vida Literária APE/CGD, pelo conjunto da sua obra, e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, que lhe foi entregue pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.
Nos últimos anos de vida, desenvolveu uma frenética actividade de transformação e reabilitação ou "redenção" do real quotidiano, da qual nasceram muitas colagens com pinturas, objectos, instalações e outras fantasias materiais.
"Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma pessoa se deita para dormir e nunca mais acorda", afirmou em "Autografia".
Agência LUSA.
publicado por armando ésse às 08:09
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Novembro 26 2006
O filósofo da actualidade que mais admiro é o espanhol Fernando Savater. Os seus pensamentos e a sua filosofia exercem uma grande influência na minha maneira de estar na vida e de orientação nas discussões das grandes questões da actualidade. Cada livro dele, é uma torrente de pensamentos em direcção à liberdade, à humanidade, à educação cívica, de forma a reinventar a nossa consciência para nos tornar mais actuantes na esfera pública. Neste texto, venho falar de uma pequena parte do livro “A Coragem de Escolher”, especificamente, a parte que fala da educação cívica.
É uma constatação que teremos de fazer alguma coisa, para parar a injustiça, a violência, a intolerância, o fanatismo e a desumanidade que grassam pelo mundo, sem no entanto, destruir as instituições democráticas (que tantos séculos demoraram a conquistar).Neste contexto de descrédito do regime democrático, Fernando Savater elege a educação,(não a instrução básica apesar que sem estes conhecimentos fundamentais é impossível uma verdadeira formação humana plena),dizia, elege a educação cívica, como pilar de preparação para o exercício da cidadania, de forma a ser actuante na sociedade. Segundo Fernando Savater, os maiores perigos para as sociedades democráticas actuais, são a mortal e crescente, influência do populismo e da ignorância.
“ O autêntico problema da democracia não consiste no habitual enfrentamento entre uma maioria silenciosa e uma minoria reivindicativa ou loquaz, mas no predomínio geral da maré da ignorância”, são os cidadãos ignorantes, todos com direito a voto, que sustentam os demagogos e os populistas que prometem “ paraísos gratuitos ou a vingança brutal das suas frustrações à custa de qualquer bode expiatório”.
Por isso, a educação cívica, “tanto pela sua reflexão sobre a prática social e pelos valores que a orientam” tornam o cidadão competente para a “comunicação argumentada”. Fernando Savater, denomina educação cívica, como sendo: a preparação que faculta viver politicamente com os outros na cidade democrática, participando na gestão paritária dos assuntos públicos e com capacidade para distinguir entre o justo e injusto. Esta educação cívica irá facultar ao cidadão, um grande número de capacidades: para expressar exigências sociais inteligíveis à comunidade ou para compreender as formuladas por outros, para argumentar ou calibrar os argumentos alheios (orais ou escritos), maximizar o sentido dos direitos e deveres que pressupõe, e impõe, a vida em sociedade para lá da adesão patológica e retrógrada, da nacionalidade, partido, corporação ou lóbi. A educação cívica levar-nos-á a adquirir o sentido da equidade e responsabilidade, que nos fará respeitar as leis e a praticar os valores partilhados, segundo a máxima aristotélica de que, “ninguém pode chegar a governar sem ter sido antes governado”. Pretende-se com esta educação a optimização dos cidadãos, para o exercício da cidadania, inculcando neles a condição de governantes e governados, isto é, uma educação inter pares, “desfrutando uma condição que confere a todos capacidades de comando e a ninguém privilégios”.Usando a máxima de Albert Camus quando avisou que em “política são os meios que justificam os fins”, a democracia só ganhará uma grande dimensão, se for servida por este tipo de cidadãos. A educação cívica será o veículo de transmissão de meios intelectuais ao cidadão, de forma a que ele exerça o direito de deliberação. Preparar para a deliberação, consiste na formação de caracteres humanos capazes de persuadir e dispostos a ser persuadidos, condição indispensável para erradicar a violência civil, de sentir e apreciar a força das razões e recusar as razões da força. A democracia implica assumir que vivemos no deliberado, não no fatalmente imposto,”daí que nenhuma pertença possa servir de desculpa para privar alguém -seja qual for o sexo, origem, raça ou condição social - da educação cívica que lhe permitirá participar na gestão do comum”, devemos portanto, ser intolerantes, para quem faz sabotagem da cultura democrática e humanista. “Num estado democrático existe o direito à diferença mas não diferenças de direitos”, logo, o direito à diferença de uns, não pode ser convertido em dever para todos os outros. Devemos respeitar a pluralidade, sem esquecer a insubstituível defesa dos princípios fundamentais da democracia.
A educação cívica educa também, para prevenir tanto o fanatismo como o relativismo. “Relativamente ao fanatismo, digamos que de modo algum se trata de uma forma de firmeza nas convicções, mas, muito pelo contrário, de pânico perante o possível contágio com o diferente. O fanático é aquele que não suporta viver com os que pensam e agem de uma maneira diferente, com medo de descobrir que já não acredita nas suas crenças. Nietzsche definiu fanatismo, como sendo a única força de vontade de que são capazes os fracos. Quanto ao relativismo, parte de um pressuposto falsamente tolerante, de que todas as culturas são dignas de igual apreço. É certo que não há culturas superiores a outras, se por isso se entende que não têm nada a aprender com as outras, mas não é verdade que são todas igualmente compatíveis com os valores, princípios democráticos e fundamentalmente, com a declaração dos direitos humanos, que não pode ser abolida ou relativizada porque contrasta com certos costumes de grupos particulares dentro da sociedade. Apenas a educação cívica dá a capacidade aos cidadãos de escolher, excluir ou preferir, aquilo que exalta a humanidade.
Por fim, deve-se dizer em abonamento de Fernando Savater, que ele não é apenas um filósofo, no sentido de apenas transmitir os seus pensamentos, mas um homem inteiramente comprometido com a sua filosofia e com a sociedade civil espanhola. Fernando Savater é fundador e porta-voz da plataforma cívica espanhola “Basta, Ya”, que reivindica o fim das acções terroristas por parte da organização terrorista basca. Este empenho da sua parte, fez com que ele fosse ameaçado de morte pela ETA, e por isso, desde de à vários anos é acompanhado, no seu dia a dia, pela incómoda escolta policial, “amable tutela, mi encantaria verme libre pronto”. Fernando Savater, talvez seja o exemplo a seguir, no exercício da cidadania.

Armando S. Sousa.
publicado por armando ésse às 08:31

Novembro 26 2006
O filósofo da actualidade que mais admiro é o espanhol Fernando Savater. Os seus pensamentos e a sua filosofia exercem uma grande influência na minha maneira de estar na vida e de orientação nas discussões das grandes questões da actualidade. Cada livro dele, é uma torrente de pensamentos em direcção à liberdade, à humanidade, à educação cívica, de forma a reinventar a nossa consciência para nos tornar mais actuantes na esfera pública. Neste texto, venho falar de uma pequena parte do livro “A Coragem de Escolher”, especificamente, a parte que fala da educação cívica.
É uma constatação que teremos de fazer alguma coisa, para parar a injustiça, a violência, a intolerância, o fanatismo e a desumanidade que grassam pelo mundo, sem no entanto, destruir as instituições democráticas (que tantos séculos demoraram a conquistar).Neste contexto de descrédito do regime democrático, Fernando Savater elege a educação,(não a instrução básica apesar que sem estes conhecimentos fundamentais é impossível uma verdadeira formação humana plena),dizia, elege a educação cívica, como pilar de preparação para o exercício da cidadania, de forma a ser actuante na sociedade. Segundo Fernando Savater, os maiores perigos para as sociedades democráticas actuais, são a mortal e crescente, influência do populismo e da ignorância.
“ O autêntico problema da democracia não consiste no habitual enfrentamento entre uma maioria silenciosa e uma minoria reivindicativa ou loquaz, mas no predomínio geral da maré da ignorância”, são os cidadãos ignorantes, todos com direito a voto, que sustentam os demagogos e os populistas que prometem “ paraísos gratuitos ou a vingança brutal das suas frustrações à custa de qualquer bode expiatório”.
Por isso, a educação cívica, “tanto pela sua reflexão sobre a prática social e pelos valores que a orientam” tornam o cidadão competente para a “comunicação argumentada”. Fernando Savater, denomina educação cívica, como sendo: a preparação que faculta viver politicamente com os outros na cidade democrática, participando na gestão paritária dos assuntos públicos e com capacidade para distinguir entre o justo e injusto. Esta educação cívica irá facultar ao cidadão, um grande número de capacidades: para expressar exigências sociais inteligíveis à comunidade ou para compreender as formuladas por outros, para argumentar ou calibrar os argumentos alheios (orais ou escritos), maximizar o sentido dos direitos e deveres que pressupõe, e impõe, a vida em sociedade para lá da adesão patológica e retrógrada, da nacionalidade, partido, corporação ou lóbi. A educação cívica levar-nos-á a adquirir o sentido da equidade e responsabilidade, que nos fará respeitar as leis e a praticar os valores partilhados, segundo a máxima aristotélica de que, “ninguém pode chegar a governar sem ter sido antes governado”. Pretende-se com esta educação a optimização dos cidadãos, para o exercício da cidadania, inculcando neles a condição de governantes e governados, isto é, uma educação inter pares, “desfrutando uma condição que confere a todos capacidades de comando e a ninguém privilégios”.Usando a máxima de Albert Camus quando avisou que em “política são os meios que justificam os fins”, a democracia só ganhará uma grande dimensão, se for servida por este tipo de cidadãos. A educação cívica será o veículo de transmissão de meios intelectuais ao cidadão, de forma a que ele exerça o direito de deliberação. Preparar para a deliberação, consiste na formação de caracteres humanos capazes de persuadir e dispostos a ser persuadidos, condição indispensável para erradicar a violência civil, de sentir e apreciar a força das razões e recusar as razões da força. A democracia implica assumir que vivemos no deliberado, não no fatalmente imposto,”daí que nenhuma pertença possa servir de desculpa para privar alguém -seja qual for o sexo, origem, raça ou condição social - da educação cívica que lhe permitirá participar na gestão do comum”, devemos portanto, ser intolerantes, para quem faz sabotagem da cultura democrática e humanista. “Num estado democrático existe o direito à diferença mas não diferenças de direitos”, logo, o direito à diferença de uns, não pode ser convertido em dever para todos os outros. Devemos respeitar a pluralidade, sem esquecer a insubstituível defesa dos princípios fundamentais da democracia.
A educação cívica educa também, para prevenir tanto o fanatismo como o relativismo. “Relativamente ao fanatismo, digamos que de modo algum se trata de uma forma de firmeza nas convicções, mas, muito pelo contrário, de pânico perante o possível contágio com o diferente. O fanático é aquele que não suporta viver com os que pensam e agem de uma maneira diferente, com medo de descobrir que já não acredita nas suas crenças. Nietzsche definiu fanatismo, como sendo a única força de vontade de que são capazes os fracos. Quanto ao relativismo, parte de um pressuposto falsamente tolerante, de que todas as culturas são dignas de igual apreço. É certo que não há culturas superiores a outras, se por isso se entende que não têm nada a aprender com as outras, mas não é verdade que são todas igualmente compatíveis com os valores, princípios democráticos e fundamentalmente, com a declaração dos direitos humanos, que não pode ser abolida ou relativizada porque contrasta com certos costumes de grupos particulares dentro da sociedade. Apenas a educação cívica dá a capacidade aos cidadãos de escolher, excluir ou preferir, aquilo que exalta a humanidade.
Por fim, deve-se dizer em abonamento de Fernando Savater, que ele não é apenas um filósofo, no sentido de apenas transmitir os seus pensamentos, mas um homem inteiramente comprometido com a sua filosofia e com a sociedade civil espanhola. Fernando Savater é fundador e porta-voz da plataforma cívica espanhola “Basta, Ya”, que reivindica o fim das acções terroristas por parte da organização terrorista basca. Este empenho da sua parte, fez com que ele fosse ameaçado de morte pela ETA, e por isso, desde de à vários anos é acompanhado, no seu dia a dia, pela incómoda escolta policial, “amable tutela, mi encantaria verme libre pronto”. Fernando Savater, talvez seja o exemplo a seguir, no exercício da cidadania.

Armando S. Sousa.
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