A FÁBRICA

Maio 31 2008

Dentro em breve estarei apesar de tudo bem morto finalmente. Talvez para o mês que vem. Será então o mês de Abril ou de Maio. Porque o ano vai pouco adiantado, mil pequenos indícios mo dizem. Pode ser que me engane e que passe ainda o São João ou até o 14 de Julho, festa da liberdade. Que estou eu a dizer, sou capaz de chegar à Transfiguração, sendo como sei que sou, ou à Assunção. Mas não creio, não creio enganar-me quando digo que esses festejos, este ano, se farão sem mim. É o que sinto, sinto-o há já alguns dias, e acredito na minha impressão. Mas em que é que essa impressão é diferente das que me têm enganado desde que nasci? Não, trata-se de um género de pergunta que já não pega, comigo já não pega, já não preciso de pintar. Morria hoje mesmo, se quisesse, bastava fazer um bocadinho de força, se fosse capaz de querer, se fosse capaz de fazer força. Mas mais vale deixar-me morrer, sem apressar as coisas. Já não quero pesar na balança, nem para um lado nem para o outro. Vou ficar inerte e neutro. Será Fácil. O que interessa é só prestar atenção aos sobressaltos. De resto tenho menos sobressaltos desde que aqui estou. Tenho ainda evidentemente acessos de impaciência de vez em quando. Disso é que tenho de me defender agora, durante quinze dias ou três semanas. Sem exagerar é claro, rindo e chorando sossegado, sem me exaltar. Sim, finalmente vou ser natural, sofrerei mais, e depois menos, sem tirar conclusões, ouvir-me-ei menos, não serei frio nem quente, serei morno, morrerei morno, sem entusiasmos. Não me verei morrer, isso falsearia tudo.
1ª Página do livro, Malone Está a Morrer, de Samuel Beckett, Edições Dom Quixote, 2ª edição, Maio de 2003.
Nota: Considerado um dos maiores escritores e dramaturgos do século XX, Samuel Beckett nasceu a 13 de Abril de 1906, na localidade de Foxrock, perto de Dublin, na Irlanda.
Nascido no seio de uma abastada família protestante, não teve uma infância muito feliz e depressa se tornou num jovem infeliz. Inadaptado às regras de uma sociedade que considerava repulsiva, refugia-se na solidão, que faz transparecer em toda a sua obra.
Em 1923 ingressa no Trinity College, de Dublin para fazer a sua formação académica, onde em 1927, se licenciou em línguas modernas, francês e italiano, com uma excelente classificação.
Em 1928, Beckett mudou-se para Paris, onde conheceu James Joyce, e depressa se tornou um seguidor do escritor. Esta amizade será decisiva para a sua carreira literária. Aos 23 anos, escreveu um ensaio em defesa de "Ulisses", a obra-prima de James Joyce, que tinha sido proibida na sua Irlanda natal.
Depois de um estudo sobre Proust, Samuel Beckett, chegou à conclusão que o hábito e a rotina eram o “cancro do tempo”: o tempo, inexorável, ao qual estamos presos. Samuel Beckett, faz questão de nos lembrar, que a cada momento, o fim se aproxima, que a morte espreita, que o jogo irá acabar e nós irremediavelmente, perderemos.
Se temos conhecimento disso, então por que continua-mos à espera? Porquê? Porque devemos saber que enquanto se espera a vida continua e devemos vive-la da melhor forma possível, a cada segundo, compreendendo-a pequena e grandiosa ao mesmo tempo.
Por causa destas conclusões, abandonou o seu cargo no Trinity College e iniciou uma viagem pela Europa, visitando a França, Inglaterra e a Alemanha, onde viveu as mais diversas experiências que depois se traduziram em personagens.
Em 1938 fixou residência em Paris, onde dois acontecimentos o vão marcar para o resto da vida: é gravemente ferido ao ser agredido por um estranho, que lhe desferiu uma facada no peito, e conhece Suzanne Deschevaux-Dusmenoil, o amor da sua vida e com quem se casaria em 1961.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Beckett permaneceu em Paris, onde lutou pela Resistência, até que alguns membros o seu grupo foram presos e Beckett foi forçado a refugiar-se, com a sua mulher na zona conhecida como "França Livre", a parte da França que não tinha sido ocupada, pelas tropas nazistas.
Em 1945, regressou a Paris e iniciou o seu período mais prolífico enquanto escritor. No período cinco anos, entre 1948 e 1953, produziu a sua obra mais significativa. Escreveu "Eleutheria" (1948), "À espera de Godot" (1952), e a trilogia, universalmente aclamada como essencial à compreensão da experiência humana, “Molloy” (1951), “Malone está a Morrer” (1951) e “O Inominável” (1953).
O seu primeiro sucesso, chegou, em 1952 com "À Espera de Godot". Apesar das especulações, a pequena peça onde nada acontece, tornou-se num sucesso repentino e um marco no teatro do absurdo. As personagens desta peça, exemplificam a situação do homem encurralado num mundo de rotina: dois vagabundos, Vladimir e Estrabon, indecisos e inertes, esperam em vão a chegada de um personagem enigmático e misterioso, Godot, símbolo do inalcançável, que de um modo inexplicável, melhorará as suas vidas.
Depois do sucesso de "À Espera de Godot", Samuel Beckett dedica-se a traduzir os seus textos para inglês e volta a escrever nesta língua, construindo, um caso raro na Literatura moderna, uma obra bilingue.
As obras de Beckett traduzem com um grande poder de síntese, toda a condição humana. As questões que são necessárias esclarecer dessa condição são amplamente trabalhadas e poeticamente materializadas. Os personagens das suas obras, reflectem a posição do autor em relação à vida, à morte, aos desejos, aos fracassos e à impossibilidade da felicidade.
O reconhecimento crescente do seu trabalho culminaria com o Prémio Nobel da Literatura, em 1969. Depois disso e apesar de ser aclamado a nível mundial, continuou a escrever até à sua morte, que ocorreu em Paris, a 22 de Dezembro de 1989, vítima de enfisema, contra o qual lutou nos últimos três anos, da sua vida.
publicado por armando ésse às 09:43

Maio 31 2008

Dentro em breve estarei apesar de tudo bem morto finalmente. Talvez para o mês que vem. Será então o mês de Abril ou de Maio. Porque o ano vai pouco adiantado, mil pequenos indícios mo dizem. Pode ser que me engane e que passe ainda o São João ou até o 14 de Julho, festa da liberdade. Que estou eu a dizer, sou capaz de chegar à Transfiguração, sendo como sei que sou, ou à Assunção. Mas não creio, não creio enganar-me quando digo que esses festejos, este ano, se farão sem mim. É o que sinto, sinto-o há já alguns dias, e acredito na minha impressão. Mas em que é que essa impressão é diferente das que me têm enganado desde que nasci? Não, trata-se de um género de pergunta que já não pega, comigo já não pega, já não preciso de pintar. Morria hoje mesmo, se quisesse, bastava fazer um bocadinho de força, se fosse capaz de querer, se fosse capaz de fazer força. Mas mais vale deixar-me morrer, sem apressar as coisas. Já não quero pesar na balança, nem para um lado nem para o outro. Vou ficar inerte e neutro. Será Fácil. O que interessa é só prestar atenção aos sobressaltos. De resto tenho menos sobressaltos desde que aqui estou. Tenho ainda evidentemente acessos de impaciência de vez em quando. Disso é que tenho de me defender agora, durante quinze dias ou três semanas. Sem exagerar é claro, rindo e chorando sossegado, sem me exaltar. Sim, finalmente vou ser natural, sofrerei mais, e depois menos, sem tirar conclusões, ouvir-me-ei menos, não serei frio nem quente, serei morno, morrerei morno, sem entusiasmos. Não me verei morrer, isso falsearia tudo.
1ª Página do livro, Malone Está a Morrer, de Samuel Beckett, Edições Dom Quixote, 2ª edição, Maio de 2003.
Nota: Considerado um dos maiores escritores e dramaturgos do século XX, Samuel Beckett nasceu a 13 de Abril de 1906, na localidade de Foxrock, perto de Dublin, na Irlanda.
Nascido no seio de uma abastada família protestante, não teve uma infância muito feliz e depressa se tornou num jovem infeliz. Inadaptado às regras de uma sociedade que considerava repulsiva, refugia-se na solidão, que faz transparecer em toda a sua obra.
Em 1923 ingressa no Trinity College, de Dublin para fazer a sua formação académica, onde em 1927, se licenciou em línguas modernas, francês e italiano, com uma excelente classificação.
Em 1928, Beckett mudou-se para Paris, onde conheceu James Joyce, e depressa se tornou um seguidor do escritor. Esta amizade será decisiva para a sua carreira literária. Aos 23 anos, escreveu um ensaio em defesa de "Ulisses", a obra-prima de James Joyce, que tinha sido proibida na sua Irlanda natal.
Depois de um estudo sobre Proust, Samuel Beckett, chegou à conclusão que o hábito e a rotina eram o “cancro do tempo”: o tempo, inexorável, ao qual estamos presos. Samuel Beckett, faz questão de nos lembrar, que a cada momento, o fim se aproxima, que a morte espreita, que o jogo irá acabar e nós irremediavelmente, perderemos.
Se temos conhecimento disso, então por que continua-mos à espera? Porquê? Porque devemos saber que enquanto se espera a vida continua e devemos vive-la da melhor forma possível, a cada segundo, compreendendo-a pequena e grandiosa ao mesmo tempo.
Por causa destas conclusões, abandonou o seu cargo no Trinity College e iniciou uma viagem pela Europa, visitando a França, Inglaterra e a Alemanha, onde viveu as mais diversas experiências que depois se traduziram em personagens.
Em 1938 fixou residência em Paris, onde dois acontecimentos o vão marcar para o resto da vida: é gravemente ferido ao ser agredido por um estranho, que lhe desferiu uma facada no peito, e conhece Suzanne Deschevaux-Dusmenoil, o amor da sua vida e com quem se casaria em 1961.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Beckett permaneceu em Paris, onde lutou pela Resistência, até que alguns membros o seu grupo foram presos e Beckett foi forçado a refugiar-se, com a sua mulher na zona conhecida como "França Livre", a parte da França que não tinha sido ocupada, pelas tropas nazistas.
Em 1945, regressou a Paris e iniciou o seu período mais prolífico enquanto escritor. No período cinco anos, entre 1948 e 1953, produziu a sua obra mais significativa. Escreveu "Eleutheria" (1948), "À espera de Godot" (1952), e a trilogia, universalmente aclamada como essencial à compreensão da experiência humana, “Molloy” (1951), “Malone está a Morrer” (1951) e “O Inominável” (1953).
O seu primeiro sucesso, chegou, em 1952 com "À Espera de Godot". Apesar das especulações, a pequena peça onde nada acontece, tornou-se num sucesso repentino e um marco no teatro do absurdo. As personagens desta peça, exemplificam a situação do homem encurralado num mundo de rotina: dois vagabundos, Vladimir e Estrabon, indecisos e inertes, esperam em vão a chegada de um personagem enigmático e misterioso, Godot, símbolo do inalcançável, que de um modo inexplicável, melhorará as suas vidas.
Depois do sucesso de "À Espera de Godot", Samuel Beckett dedica-se a traduzir os seus textos para inglês e volta a escrever nesta língua, construindo, um caso raro na Literatura moderna, uma obra bilingue.
As obras de Beckett traduzem com um grande poder de síntese, toda a condição humana. As questões que são necessárias esclarecer dessa condição são amplamente trabalhadas e poeticamente materializadas. Os personagens das suas obras, reflectem a posição do autor em relação à vida, à morte, aos desejos, aos fracassos e à impossibilidade da felicidade.
O reconhecimento crescente do seu trabalho culminaria com o Prémio Nobel da Literatura, em 1969. Depois disso e apesar de ser aclamado a nível mundial, continuou a escrever até à sua morte, que ocorreu em Paris, a 22 de Dezembro de 1989, vítima de enfisema, contra o qual lutou nos últimos três anos, da sua vida.
publicado por armando ésse às 09:43

Maio 31 2008

O Super-Homem, ícone entre os super-heróis de banda-desenhada, foi publicado pela primeira vez há setenta anos.
Criado por Jerry Siegel (argumento) e Joe Shuster, dois amigos judeus que cresceram juntos em Ohio, o Super-Homem surgiu pela primeira vez, musculado, de capa vermelha e a erguer um carro, a 01 de Junho de 1938 na publicação Action Comics.
Ao longo deste 70 anos, os diferentes autores foram criando novas personagens, como o super-cão, acrescentaram poderes ao super-herói, encenaram a sua morte e confrontaram-no com Batman.
O Super-Homem nasceu no planeta Kryton, com o nome de baptismo Kal-El, e foi enviado para a Terra ainda criança, tendo sido adoptado por uma família do Kansas, que o baptizou de Clark Kent.
Há várias teorias sobre a génese do Super-Homem, mas as mais citadas são o gosto comum dos autores por ficção científica e literatura de cordel e pela personagem Hugo Danner, do livro “Gladiator”, de Philip Gordon Wilie, que tinha capacidades sobre-humanas devido a experiências científicas. Sansão, Hércules, Moisés e Fritz Lang são outras referências que podem ajudar a explicar quem é Super-Homem, cuja identidade oficial - Clark Kent - alegadamente resulta da combinação dos nomes Clark Gable e Kent Taylor. Depois de aprender a dominar os seus super-poderes, como a força desmesurada e a capacidade de voar, o Super-Homem combatia o Mal ao mesmo tempo que se camuflava num emprego num jornal – o Daily Planet.
Qualquer boa história de BD com super-heróis tem que ter um vilão e nas do Super-Homem o mau da fita é Lex Luthor, enquanto Lois Lane entra nas cenas românticas.
Símbolo da cultura popular norte-americana, o Super-Homem rapidamente saltou das páginas das revistas de BD para a rádio, televisão, cinema e jogos de computador.
O sucesso de Super-Homem desencadeou o aparecimento de dezenas de outros super-heróis na banda desenhada, como o Capitão América, Batman e Homem-Aranha. (Lusa).
publicado por armando ésse às 09:42

Maio 31 2008

O Super-Homem, ícone entre os super-heróis de banda-desenhada, foi publicado pela primeira vez há setenta anos.
Criado por Jerry Siegel (argumento) e Joe Shuster, dois amigos judeus que cresceram juntos em Ohio, o Super-Homem surgiu pela primeira vez, musculado, de capa vermelha e a erguer um carro, a 01 de Junho de 1938 na publicação Action Comics.
Ao longo deste 70 anos, os diferentes autores foram criando novas personagens, como o super-cão, acrescentaram poderes ao super-herói, encenaram a sua morte e confrontaram-no com Batman.
O Super-Homem nasceu no planeta Kryton, com o nome de baptismo Kal-El, e foi enviado para a Terra ainda criança, tendo sido adoptado por uma família do Kansas, que o baptizou de Clark Kent.
Há várias teorias sobre a génese do Super-Homem, mas as mais citadas são o gosto comum dos autores por ficção científica e literatura de cordel e pela personagem Hugo Danner, do livro “Gladiator”, de Philip Gordon Wilie, que tinha capacidades sobre-humanas devido a experiências científicas. Sansão, Hércules, Moisés e Fritz Lang são outras referências que podem ajudar a explicar quem é Super-Homem, cuja identidade oficial - Clark Kent - alegadamente resulta da combinação dos nomes Clark Gable e Kent Taylor. Depois de aprender a dominar os seus super-poderes, como a força desmesurada e a capacidade de voar, o Super-Homem combatia o Mal ao mesmo tempo que se camuflava num emprego num jornal – o Daily Planet.
Qualquer boa história de BD com super-heróis tem que ter um vilão e nas do Super-Homem o mau da fita é Lex Luthor, enquanto Lois Lane entra nas cenas românticas.
Símbolo da cultura popular norte-americana, o Super-Homem rapidamente saltou das páginas das revistas de BD para a rádio, televisão, cinema e jogos de computador.
O sucesso de Super-Homem desencadeou o aparecimento de dezenas de outros super-heróis na banda desenhada, como o Capitão América, Batman e Homem-Aranha. (Lusa).
publicado por armando ésse às 09:42

Maio 31 2008
Verbal abuse can be just as horrific.

Advertising Agency: Saatchi & Saatchi Singapore
Executive Creative Director: Andy Greenaway
Creative Directors: Richard Copping, Andrew Petch
Art Directors: Ronojoy Ghosh, Ng Pei Pei
Production Manager: Terry Ong
Account Executives: Sandra Teh, Anuja Weeranarayana
Copywriters: Simon Jenkins, Andrew Petch
Photographer: Teo Studios
Retoucher: Kendrick Wong
Art Buyer: Adrel Law
publicado por armando ésse às 09:02

Maio 31 2008
Verbal abuse can be just as horrific.

Advertising Agency: Saatchi & Saatchi Singapore
Executive Creative Director: Andy Greenaway
Creative Directors: Richard Copping, Andrew Petch
Art Directors: Ronojoy Ghosh, Ng Pei Pei
Production Manager: Terry Ong
Account Executives: Sandra Teh, Anuja Weeranarayana
Copywriters: Simon Jenkins, Andrew Petch
Photographer: Teo Studios
Retoucher: Kendrick Wong
Art Buyer: Adrel Law
publicado por armando ésse às 09:02

Maio 30 2008

Dá-me um café duplo, meu irmão.
Durante dezoito anos o seu espírito repetiu tantas vezes aquela frase, que as palavras acabaram por perder o significado na memória e no paladar, para soarem vazias, como uma palavra de ordem dita num idioma incompreensível. Porque, apesar do esquecimento que tentou impor a si próprio como a melhor alternativa, Fernando Terry sofreu demasiadas vezes aquelas rebeliões imprevisíveis da consciência e, com uma assiduidade incontrolável, dedicou alguns pensamentos ao que desejara sentir no preciso momento em que, depois de beber um café duplo em frente ao cabaret Las Vegas, acendesse um cigarro para atravessar a calle Infanta e descer pela Veinticinco, disposto a reencontrar-se com o melhor e com o pior do seu passado. Da melancolia ao ódio, da alegria à indiferença, do rancor ao alívio, nas suas viagens imaginárias Fernando tinha jogado com todas as cartas da nostalgia, sem pressentir que na manga escura, escondida, podia permanecer aquela tristeza agressiva que se lhe tinha cravado na alma, com uma interrogação: tinhas de voltar?
No início do seu exílio, durante os meses de incerteza vividos numa tenda asfixiante nos jardins do Orange Bowl de Miami, sem saber ainda se obteria a autorização de residência nos Estados Unidos, Fernando tinha começado a pensar num regresso curto mas necessário, que o ajudasse a estancar as feridas ainda sangrentas provocadas por uma traição demolidora e talvez, quem sabe, a curar a sensação vertiginosa de se achar descentrado, foro do tempo e do espaço. Depôs, com o passar dos anos e a persistência da barreira de leis e mediadas que dificultavam qualquer regresso, tinha tratado de se convencer de que o esquecimento era possível, de que podia acabar por ser o melhor dos remédios. Pouco a pouco começou a sentir o seu alívio benéfico e a ânsia do regresso foi-se diluindo até se transformar numa angústia adormecida que, astuciosamente, vinha à tona nalgumas noites insubornáveis quando, na solidão do seu sótão madrileno, o seu cérebro insistia em evocar algum instante dos seus trinta anos vividos na ilha.
1ª Página do livro, O Romance Da Minha Viva, de Leonardo Padura, Asa Editores, 1ª edição, Fevereiro de 2005.
Nota: Depois de dezoito anos de exílio, Fernando Terry decide voltar por algum tempo a Havana, atraído pela possibilidade de encontrar finalmente a autobiografia desaparecida do poeta José María Heredia, ao qual dedicou a sua tese de doutoramento. De passagem, terá oportunidade de esclarecer de uma vez por todas quem foi que o denunciou e provocou a sua expulsão da universidade. Paralelamente à história desse reencontro e à procura do almejado manuscrito, juntam-se, no plano narrativo, dois outros planos temporais: o da vida de Heredia, nos começos do século XIX, quando a ilha era ainda uma colónia, e o dos últimos dias do seu filho, José de Jesús de Heredia, um mação dos princípios do século XX.
Paulatinamente, as vidas dos vários personagens e as suas peripécias vão-se entretecendo em paralelismos inesperados, como se em Cuba a História se intrometesse sempre da mesma maneira no destino individual de todos aqueles que se destacam pelo seu talento: as delações, os exílios, as intrigas políticas acompanham sempre os criadores, seja qual for o período histórico em que lhes tenha caído em sorte viver.(Asa).
publicado por armando ésse às 15:17

Maio 30 2008

Dá-me um café duplo, meu irmão.
Durante dezoito anos o seu espírito repetiu tantas vezes aquela frase, que as palavras acabaram por perder o significado na memória e no paladar, para soarem vazias, como uma palavra de ordem dita num idioma incompreensível. Porque, apesar do esquecimento que tentou impor a si próprio como a melhor alternativa, Fernando Terry sofreu demasiadas vezes aquelas rebeliões imprevisíveis da consciência e, com uma assiduidade incontrolável, dedicou alguns pensamentos ao que desejara sentir no preciso momento em que, depois de beber um café duplo em frente ao cabaret Las Vegas, acendesse um cigarro para atravessar a calle Infanta e descer pela Veinticinco, disposto a reencontrar-se com o melhor e com o pior do seu passado. Da melancolia ao ódio, da alegria à indiferença, do rancor ao alívio, nas suas viagens imaginárias Fernando tinha jogado com todas as cartas da nostalgia, sem pressentir que na manga escura, escondida, podia permanecer aquela tristeza agressiva que se lhe tinha cravado na alma, com uma interrogação: tinhas de voltar?
No início do seu exílio, durante os meses de incerteza vividos numa tenda asfixiante nos jardins do Orange Bowl de Miami, sem saber ainda se obteria a autorização de residência nos Estados Unidos, Fernando tinha começado a pensar num regresso curto mas necessário, que o ajudasse a estancar as feridas ainda sangrentas provocadas por uma traição demolidora e talvez, quem sabe, a curar a sensação vertiginosa de se achar descentrado, foro do tempo e do espaço. Depôs, com o passar dos anos e a persistência da barreira de leis e mediadas que dificultavam qualquer regresso, tinha tratado de se convencer de que o esquecimento era possível, de que podia acabar por ser o melhor dos remédios. Pouco a pouco começou a sentir o seu alívio benéfico e a ânsia do regresso foi-se diluindo até se transformar numa angústia adormecida que, astuciosamente, vinha à tona nalgumas noites insubornáveis quando, na solidão do seu sótão madrileno, o seu cérebro insistia em evocar algum instante dos seus trinta anos vividos na ilha.
1ª Página do livro, O Romance Da Minha Viva, de Leonardo Padura, Asa Editores, 1ª edição, Fevereiro de 2005.
Nota: Depois de dezoito anos de exílio, Fernando Terry decide voltar por algum tempo a Havana, atraído pela possibilidade de encontrar finalmente a autobiografia desaparecida do poeta José María Heredia, ao qual dedicou a sua tese de doutoramento. De passagem, terá oportunidade de esclarecer de uma vez por todas quem foi que o denunciou e provocou a sua expulsão da universidade. Paralelamente à história desse reencontro e à procura do almejado manuscrito, juntam-se, no plano narrativo, dois outros planos temporais: o da vida de Heredia, nos começos do século XIX, quando a ilha era ainda uma colónia, e o dos últimos dias do seu filho, José de Jesús de Heredia, um mação dos princípios do século XX.
Paulatinamente, as vidas dos vários personagens e as suas peripécias vão-se entretecendo em paralelismos inesperados, como se em Cuba a História se intrometesse sempre da mesma maneira no destino individual de todos aqueles que se destacam pelo seu talento: as delações, os exílios, as intrigas políticas acompanham sempre os criadores, seja qual for o período histórico em que lhes tenha caído em sorte viver.(Asa).
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Maio 30 2008
Save your life and ours, use a head set.

Advertising Agency: Impact & Echo, BBDO, Kuwait
Creative Director: Viraj Ponkshe
Art Director / Illustrator: Rolando Rodriguez
Copywriter: Regan Rodricks
publicado por armando ésse às 15:14

Maio 30 2008
Save your life and ours, use a head set.

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Creative Director: Viraj Ponkshe
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publicado por armando ésse às 15:14

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