A FÁBRICA

Maio 28 2008

Durante a segunda metade dos anos 60, em parte por motivos de estudo, em parte por outros que eu próprio não descortino bem, viajei amiúde entre a Inglaterra e a Bélgica, umas vezes por um ou dois dias, outras várias semanas. Numa destas excursões à Bélgica que, assim me parecia, me levavam cada vez mais longe em terra alheia, fui parar, numa gloriosa manhã do princípio do Verão, à cidade de Antuérpia, que até então apenas conhecia de nome. Logo à chegada, enquanto o comboio deslizava lentamente pelo viaduto rematado de ambos os lados por umas curiosas torrezinhas aguçadas e entrava no vão escuro da estação, fui tomado de um mal-estar, uma sensação de incómodo que não mais me largou durante todo o tempo dessa minha visita à Bélgica. Recordo ainda a insegurança dos passos com que dei uma volta pelo centro da cidade, percorri Jerusalemstraat, Nachtegaalstraat, Plikaanstraat, Paradijstraat, Immerseelstraat e muitas outras ruas e vielas, e que, por fim, afligido por uma dor de cabeça e pensamentos desagradáveis, me refugiei no jardim zoológico, perto de Astriplein, ao lado da Centraal Station. Por ali fiquei, aver se me sentia um pouco melhor, sentado num banco meio à sombra junto a um aviário onde esboaçavam numerosos tentilhões e pintassilgos. Enquanto a tarde foi passando deambulei pelo parque e acabei por ir ver o Nocturama, aberto apenas há um par de meses. Foi preciso algum tempo para que os olhos se adaptassem àquela penumbra artificial e eu pudesse reconhecer os diversos animais que levavam vidas obscuras por trás da vidraça, a uma pálida luz lunar. Já não sei quais foram os animais que vi nessa visita ao Nocturama de Antuérpia.
1ª Página do livro, Austerlitz, de W.G. Sebald, Editorial Teorema, 1ª edição Setembro de 2004.

Nota: A morte prematura de W.G. Sebald foi uma perda irreparável para a literatura contemporânea. W. G. Sebald, morreu tragicamente em Dezembro de 2001, de ataque cardíaco, depois de sofrer um acidente de viação, numa rua da cidade inglesa de Norwich. Nascido em Wertach im Allgäu, na Alemanha, em 1944, estudou Língua e Literatura Alemãs em Freiburg, na Suiça e em Manchester. A partir de 1970 ensinou na Universidade de East Anglia, em Morwich, tornando-se professor de Literatura Europeia, em 1987. Deixou um legado pouco volumoso em quantidade, apenas quatro obras de ficção, e não digo romances, pois é extremamente difícil classificar o género literário, da obra de W.G. Sebald.
Mas, independentemente da dificuldade que os estudiosos têm de rotular a obra de Sebald, este seu livro, Austerlitz, é provavelmente o melhor romance escrito no século XXI.
publicado por armando ésse às 15:27

Maio 28 2008

Durante a segunda metade dos anos 60, em parte por motivos de estudo, em parte por outros que eu próprio não descortino bem, viajei amiúde entre a Inglaterra e a Bélgica, umas vezes por um ou dois dias, outras várias semanas. Numa destas excursões à Bélgica que, assim me parecia, me levavam cada vez mais longe em terra alheia, fui parar, numa gloriosa manhã do princípio do Verão, à cidade de Antuérpia, que até então apenas conhecia de nome. Logo à chegada, enquanto o comboio deslizava lentamente pelo viaduto rematado de ambos os lados por umas curiosas torrezinhas aguçadas e entrava no vão escuro da estação, fui tomado de um mal-estar, uma sensação de incómodo que não mais me largou durante todo o tempo dessa minha visita à Bélgica. Recordo ainda a insegurança dos passos com que dei uma volta pelo centro da cidade, percorri Jerusalemstraat, Nachtegaalstraat, Plikaanstraat, Paradijstraat, Immerseelstraat e muitas outras ruas e vielas, e que, por fim, afligido por uma dor de cabeça e pensamentos desagradáveis, me refugiei no jardim zoológico, perto de Astriplein, ao lado da Centraal Station. Por ali fiquei, aver se me sentia um pouco melhor, sentado num banco meio à sombra junto a um aviário onde esboaçavam numerosos tentilhões e pintassilgos. Enquanto a tarde foi passando deambulei pelo parque e acabei por ir ver o Nocturama, aberto apenas há um par de meses. Foi preciso algum tempo para que os olhos se adaptassem àquela penumbra artificial e eu pudesse reconhecer os diversos animais que levavam vidas obscuras por trás da vidraça, a uma pálida luz lunar. Já não sei quais foram os animais que vi nessa visita ao Nocturama de Antuérpia.
1ª Página do livro, Austerlitz, de W.G. Sebald, Editorial Teorema, 1ª edição Setembro de 2004.

Nota: A morte prematura de W.G. Sebald foi uma perda irreparável para a literatura contemporânea. W. G. Sebald, morreu tragicamente em Dezembro de 2001, de ataque cardíaco, depois de sofrer um acidente de viação, numa rua da cidade inglesa de Norwich. Nascido em Wertach im Allgäu, na Alemanha, em 1944, estudou Língua e Literatura Alemãs em Freiburg, na Suiça e em Manchester. A partir de 1970 ensinou na Universidade de East Anglia, em Morwich, tornando-se professor de Literatura Europeia, em 1987. Deixou um legado pouco volumoso em quantidade, apenas quatro obras de ficção, e não digo romances, pois é extremamente difícil classificar o género literário, da obra de W.G. Sebald.
Mas, independentemente da dificuldade que os estudiosos têm de rotular a obra de Sebald, este seu livro, Austerlitz, é provavelmente o melhor romance escrito no século XXI.
publicado por armando ésse às 15:27

Maio 28 2008

No relatório, deste ano da Amnistia Internacional (AI), Portugal volta a ser citado, devido à violência contra as mulheres e aos maus-tratos da polícia. De acordo com o relatório da AI, 39 mulheres foram mortas pelos cônjuges durante o ano de 2006.
Melhor dizendo, 39 mulheres foram mortas pelos covardes que viviam com elas. Estas 39 vítimas mortais são apenas a ponta do iceberg, dessa praga social, que é a violência doméstica.
Sobre os alegados maus-tratos da polícia, o documento afirma que, em Portugal, “as alegações de maus-tratos por parte da polícia e subsequente impunidade dos envolvidos persistiram durante o ano de 2007”.
Não é nada de novo, tal é a frequência, deste abuso de autoridade, com resquícios de outras eras, na polícia portuguesa
Num universo de 150 países, a que se refere o relatório da AI, 81 continuam a usar a tortura ou a maltratar pessoas. No ano em que se comemora 60 anos da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional desafia os líderes mundiais a pedirem desculpa e a assumirem novos compromissos.
publicado por armando ésse às 14:27

Maio 28 2008

No relatório, deste ano da Amnistia Internacional (AI), Portugal volta a ser citado, devido à violência contra as mulheres e aos maus-tratos da polícia. De acordo com o relatório da AI, 39 mulheres foram mortas pelos cônjuges durante o ano de 2006.
Melhor dizendo, 39 mulheres foram mortas pelos covardes que viviam com elas. Estas 39 vítimas mortais são apenas a ponta do iceberg, dessa praga social, que é a violência doméstica.
Sobre os alegados maus-tratos da polícia, o documento afirma que, em Portugal, “as alegações de maus-tratos por parte da polícia e subsequente impunidade dos envolvidos persistiram durante o ano de 2007”.
Não é nada de novo, tal é a frequência, deste abuso de autoridade, com resquícios de outras eras, na polícia portuguesa
Num universo de 150 países, a que se refere o relatório da AI, 81 continuam a usar a tortura ou a maltratar pessoas. No ano em que se comemora 60 anos da adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional desafia os líderes mundiais a pedirem desculpa e a assumirem novos compromissos.
publicado por armando ésse às 14:27

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