A FÁBRICA

Maio 27 2008

Mas eu vou para Hollywood mas eu vou para o hospital, mas tu és primeiro mas tu és último, mas ele é alto mas ela é baixa, mas tu ficas em cima mas tu vais para baixo, mas nós somos ricos mas nós somos pobres, mas eles têm sossego mas eles têm…
Xan Meo foi ao Hollywood. E minutos depois, à velocidade da urgência e acompanhado pelos acordes estridentes do sofrimento electrificado, Xan Meo foi para o hospital. Por causa da violência masculina.
-Vou sair, eu – disse ele à sua esposa americana, Russia.
-Uh – disse ela, pronunciando como onde em francês.
-Não demoro. Eu dou-lhes banho. E também lhes leio uma história. Depois faço o jantar. A seguir ponho a louça na máquina. E a seguir dou-te uma boa massagem nas costas. Está bem assim?
-Posso ir também? – perguntou Russia.
-Acho que me apetece estar sozinho.
-Queres é ficar sozinho com a tua namorada.
Xan sabia que a acusação não era a sério. Mas odoptou uma expressão de agravo (um espessamento da fronte) e disse, não pela primeira vez e, tanto quanto sabia, com sinceridade: - Não tenho segredos para ti, pequena.
-Mm – disse ela oferecendo-lhe a face.
-Não sabes que dia é hoje?
-Oh. Claro.
O casal ficou a abraçar-se no pé-direito duplo da entrada. Depois o marido, com um movimento do braço, fez tilintar as chaves no bolso. A sua intenção semiconsciente foi mostrar impaciência por sair. Xan não concordaria publicamente, mas as mulheres gostam, por natureza, de prolongar as rotinas de partida. É o reverso do seu gosto por deixar pessoas à espera. Os homens não deviam importar-se com isso. Ser deixado à espera é uma compensação moderada pelos seus cinco milhões de anos no poder… Xan suspira agora baixinho e mais acima baixinho rangem escadas. Descia uma figura complexa, normal até à cintura mas com duas cabeças e quatro braços: a filha mais pequena de Meo, Sophie, colada ao flanco de Imaculada, a sua ama brasileira. Por trás delas, a uma distância ao mesmo tempo sonhadora e auto-suficiente, espreitava a de quatro anos, Billie.
1ª Página do livro, O Cão Amarelo, de Martin Amis, Editorial Teorema, 1ª edição, Agosto de 2004.

Nota: Martin Amis nasceu em Oxford, Inglaterra, a 25 de Agosto de 1949. Filho do escritor Kingsley Amis, autor vencedor de um Booker Prize.
Amis passou grande parte da sua juventude em Swansea, onde o seu pai leccionava. Mais tarde passou um ano em Princeton, antes de regressar a Inglaterra e depois em Cambridge. Aos 12 anos, depois do divórcio dos seus pais, Amis passou o ano seguinte na Ilha de Maiorca, Espanha, com a sua mãe e irmãos.
No anos seguinte regressou a Inglaterra, onde recebeu um papel para o filme A High Wind in Jamaica, ficando impedido de regressar à escola. Depois de a madrasta, a romancista Elizabeth Jane Howard, o introduzir às obras de Jane Austen, começou a preparar os requisitos de admissão para a Universidade de Oxford.
Em 1971, licenciou-se em Inglês com lugar no quadro de honra. Em 1971, recebeu uma proposta para crítico literário para o jornal London Observer e, nos oito anos seguintes, ocupou cargos editoriais em jornais como London Times Literary Supplement, New Statesman e London Observer, onde ocupou uma posição de escritor a partir de 1980.
Em 1980, depois de publicar três romances e vendido um argumento, Amis demitiu-se da sua posição editorial no New Statesman para escrever a tempo inteiro, apesar de continuar a publicar não-ficção em Inglaterra e América, incluindo críticas no Observer, The London Review of Books e New York Times Book Review.
As suas obras caracterizam-se pelo seu acerbado humor negro, incluindo-se entre elas The Rachel Papers (1973), um livro de memórias da adolescência contadas através de flashbacks, Dead Babies (1975), que trata a decadência e o sadismo, Money (1984), London Fields (1989), Time’s Arrow (1991), um romance muito apreciado que fala sobre os campos de morte nazis, Água Pesada (1999) e Experiência (2000), uma autobiografia do escritor, The War Against Cliché (2001), Koba o Terrível (2002), On Modern British Fiction (2002), O Cão Amarelo (2003), Vintage Amis (2003), House of Meetings (2006) e The Pregnant Widow (2007).
Recebeu os prémios: Somerset Maugham Award (1974) pela obra The Rachel Papers e James Tait Black Memorial Prize (para biografia) (2000) pela obra Experiência. (Fontes:Wikipédia e Biblioteca Universal).
publicado por armando ésse às 12:12

Maio 27 2008

Mas eu vou para Hollywood mas eu vou para o hospital, mas tu és primeiro mas tu és último, mas ele é alto mas ela é baixa, mas tu ficas em cima mas tu vais para baixo, mas nós somos ricos mas nós somos pobres, mas eles têm sossego mas eles têm…
Xan Meo foi ao Hollywood. E minutos depois, à velocidade da urgência e acompanhado pelos acordes estridentes do sofrimento electrificado, Xan Meo foi para o hospital. Por causa da violência masculina.
-Vou sair, eu – disse ele à sua esposa americana, Russia.
-Uh – disse ela, pronunciando como onde em francês.
-Não demoro. Eu dou-lhes banho. E também lhes leio uma história. Depois faço o jantar. A seguir ponho a louça na máquina. E a seguir dou-te uma boa massagem nas costas. Está bem assim?
-Posso ir também? – perguntou Russia.
-Acho que me apetece estar sozinho.
-Queres é ficar sozinho com a tua namorada.
Xan sabia que a acusação não era a sério. Mas odoptou uma expressão de agravo (um espessamento da fronte) e disse, não pela primeira vez e, tanto quanto sabia, com sinceridade: - Não tenho segredos para ti, pequena.
-Mm – disse ela oferecendo-lhe a face.
-Não sabes que dia é hoje?
-Oh. Claro.
O casal ficou a abraçar-se no pé-direito duplo da entrada. Depois o marido, com um movimento do braço, fez tilintar as chaves no bolso. A sua intenção semiconsciente foi mostrar impaciência por sair. Xan não concordaria publicamente, mas as mulheres gostam, por natureza, de prolongar as rotinas de partida. É o reverso do seu gosto por deixar pessoas à espera. Os homens não deviam importar-se com isso. Ser deixado à espera é uma compensação moderada pelos seus cinco milhões de anos no poder… Xan suspira agora baixinho e mais acima baixinho rangem escadas. Descia uma figura complexa, normal até à cintura mas com duas cabeças e quatro braços: a filha mais pequena de Meo, Sophie, colada ao flanco de Imaculada, a sua ama brasileira. Por trás delas, a uma distância ao mesmo tempo sonhadora e auto-suficiente, espreitava a de quatro anos, Billie.
1ª Página do livro, O Cão Amarelo, de Martin Amis, Editorial Teorema, 1ª edição, Agosto de 2004.

Nota: Martin Amis nasceu em Oxford, Inglaterra, a 25 de Agosto de 1949. Filho do escritor Kingsley Amis, autor vencedor de um Booker Prize.
Amis passou grande parte da sua juventude em Swansea, onde o seu pai leccionava. Mais tarde passou um ano em Princeton, antes de regressar a Inglaterra e depois em Cambridge. Aos 12 anos, depois do divórcio dos seus pais, Amis passou o ano seguinte na Ilha de Maiorca, Espanha, com a sua mãe e irmãos.
No anos seguinte regressou a Inglaterra, onde recebeu um papel para o filme A High Wind in Jamaica, ficando impedido de regressar à escola. Depois de a madrasta, a romancista Elizabeth Jane Howard, o introduzir às obras de Jane Austen, começou a preparar os requisitos de admissão para a Universidade de Oxford.
Em 1971, licenciou-se em Inglês com lugar no quadro de honra. Em 1971, recebeu uma proposta para crítico literário para o jornal London Observer e, nos oito anos seguintes, ocupou cargos editoriais em jornais como London Times Literary Supplement, New Statesman e London Observer, onde ocupou uma posição de escritor a partir de 1980.
Em 1980, depois de publicar três romances e vendido um argumento, Amis demitiu-se da sua posição editorial no New Statesman para escrever a tempo inteiro, apesar de continuar a publicar não-ficção em Inglaterra e América, incluindo críticas no Observer, The London Review of Books e New York Times Book Review.
As suas obras caracterizam-se pelo seu acerbado humor negro, incluindo-se entre elas The Rachel Papers (1973), um livro de memórias da adolescência contadas através de flashbacks, Dead Babies (1975), que trata a decadência e o sadismo, Money (1984), London Fields (1989), Time’s Arrow (1991), um romance muito apreciado que fala sobre os campos de morte nazis, Água Pesada (1999) e Experiência (2000), uma autobiografia do escritor, The War Against Cliché (2001), Koba o Terrível (2002), On Modern British Fiction (2002), O Cão Amarelo (2003), Vintage Amis (2003), House of Meetings (2006) e The Pregnant Widow (2007).
Recebeu os prémios: Somerset Maugham Award (1974) pela obra The Rachel Papers e James Tait Black Memorial Prize (para biografia) (2000) pela obra Experiência. (Fontes:Wikipédia e Biblioteca Universal).
publicado por armando ésse às 12:12

Maio 27 2008

O realizador, produtor e actor Sydney Pollack morreu ontem na sua casa de Pacific Palisades, em Los Angeles, Califórnia. O realizador de “África Minha” e “Tootsie” tinha 73 anos e lutava há dez meses contra o cancro.
Sydney Pollack que era considerado por muitos o último grande realizador romântico de Hollywood, nasceu a 1 de Julho de 1934, em Lafayette no estado norte-americano do Indiana, era o mais velho de três filhos de David Pollack, um ex-pugilista profissional que depois se tornou farmacêutico, e Rebecca Miller, uma dona de casa, que morreu aos 37 anos, quando Pollack tinha apenas 16 anos. Contra a vontade do pai, que queria que ele fosse dentista, Pollack mudou-se para Nova Iorque, após terminar o liceu, para se tornar actor. De 1952 a 1954, estudou com Sanford Meisner, na Neighborhood Playhouse School of the Theatre, tornando-se de seguida, o assistente do professor.Depois de dois anos na tropa, voltou para Neighborhood Playhouse e continuou a dar aulas. Em 1958, casou-se Claire Griswold. Sydney Pollack começou a sua carreira no teatro, e ganhou fama como realizador de Televisão na década de 60. A sua estreia como actor aconteceu em 1962 no filme "Obsessão de Matar", ao lado de Robert Redforfd.
Apesar de ter começado como actor, foi na realização que Sydney Pollack mais se destacou. Para os amantes de cinema, Sydney Pollack ficará para sempre, ligado à adaptação para cinema do romance de Karen Blixen, África Minha, filme que fez contracenar Robert Redford e Meryl Streep e que em 1986, de 11 nomeações para as estatuetas douradas, arrebataria sete Óscares, entre os quais os de Melhor Realizador e de Melhor Filme.
Três anos antes, em 1983, já havia sido indicado para a estatueta de melhor realizador com o inesquecível “Tootsie”, filme superiormente protagonizado por Dustin Hoffman. “The Way We Were” (1973), com Robert Redford e Barbra Streisand é outro dos seus grandes sucessos comerciais.
Com o realizador britânico Anthony Minghella, que desapareceu em Março passado, Sydney Pollack mantinha a produtora Mirage Enterprises, etiqueta com que saiu o seu último trabalho, o documentário “Sketches of Frank Gehry”, de 2007. Em Agosto do ano passado, o realizador apresentou os primeiros sinais de que tinha cancro, abandonando o projecto de um documentário sobre as presidenciais americanas, mais particularmente sobre o caso da recontagem de votos na Flórida, que estava a filmar para a televisão HBO.
Até, sempre.
publicado por armando ésse às 11:44

Maio 27 2008

O realizador, produtor e actor Sydney Pollack morreu ontem na sua casa de Pacific Palisades, em Los Angeles, Califórnia. O realizador de “África Minha” e “Tootsie” tinha 73 anos e lutava há dez meses contra o cancro.
Sydney Pollack que era considerado por muitos o último grande realizador romântico de Hollywood, nasceu a 1 de Julho de 1934, em Lafayette no estado norte-americano do Indiana, era o mais velho de três filhos de David Pollack, um ex-pugilista profissional que depois se tornou farmacêutico, e Rebecca Miller, uma dona de casa, que morreu aos 37 anos, quando Pollack tinha apenas 16 anos. Contra a vontade do pai, que queria que ele fosse dentista, Pollack mudou-se para Nova Iorque, após terminar o liceu, para se tornar actor. De 1952 a 1954, estudou com Sanford Meisner, na Neighborhood Playhouse School of the Theatre, tornando-se de seguida, o assistente do professor.Depois de dois anos na tropa, voltou para Neighborhood Playhouse e continuou a dar aulas. Em 1958, casou-se Claire Griswold. Sydney Pollack começou a sua carreira no teatro, e ganhou fama como realizador de Televisão na década de 60. A sua estreia como actor aconteceu em 1962 no filme "Obsessão de Matar", ao lado de Robert Redforfd.
Apesar de ter começado como actor, foi na realização que Sydney Pollack mais se destacou. Para os amantes de cinema, Sydney Pollack ficará para sempre, ligado à adaptação para cinema do romance de Karen Blixen, África Minha, filme que fez contracenar Robert Redford e Meryl Streep e que em 1986, de 11 nomeações para as estatuetas douradas, arrebataria sete Óscares, entre os quais os de Melhor Realizador e de Melhor Filme.
Três anos antes, em 1983, já havia sido indicado para a estatueta de melhor realizador com o inesquecível “Tootsie”, filme superiormente protagonizado por Dustin Hoffman. “The Way We Were” (1973), com Robert Redford e Barbra Streisand é outro dos seus grandes sucessos comerciais.
Com o realizador britânico Anthony Minghella, que desapareceu em Março passado, Sydney Pollack mantinha a produtora Mirage Enterprises, etiqueta com que saiu o seu último trabalho, o documentário “Sketches of Frank Gehry”, de 2007. Em Agosto do ano passado, o realizador apresentou os primeiros sinais de que tinha cancro, abandonando o projecto de um documentário sobre as presidenciais americanas, mais particularmente sobre o caso da recontagem de votos na Flórida, que estava a filmar para a televisão HBO.
Até, sempre.
publicado por armando ésse às 11:44

Maio 26 2008

Quando acordava nos bosques, na escuridão e no frio, estendia a mão para tocar na criança que dormia a seu lado. Noites de trevas mais densas do que as próprias trevas e cada dia mais cinzento do que anterior. Como os primórdios de um glaucoma frio a obscurecer o mundo. A mão subia e descia suavemente a cada fôlego precioso. Afastou o oleado de tela plástica e soergueu-se sob as vestes e cobertores malcheirosos e olhou para leste em busca de qualquer luz, mas nada viu. No sonho de que despertara tinha penetrado numa gruta onde a criança o conduzira pela mão. A luz que traziam brincava sobre as paredes húmidas de calcário ali depositado pelo escorrer da água. Como peregrinos numa fábula, engolidos por um monstro granítico em cujas entranhas se haviam perdido. Fundos canais de pedra onde a água gotejava melodiosamente, como sinos a dobrar no silencia para assinalar os minutos da terra e as horas e os dias da terra e os anos incessantes. Até que chegaram a uma grande sala de pedra onde havia um lado negro e antiquíssimo e, na margem oposta, uma criatura que ergueu a boca gotejante do rebordo calcário e fitou a luz com olhos brancos e sem vida e cegos como ovos de aranha. O animal baixou a cabeça sobre a água e agitou-a, como que a farejar o que não conseguia ver. Ali agachado, pálido e nu e translúcido, com os ossos de alabastro projectados em sombras nas rochas atrás de si. As vísceras, o coração a bater. O cérebro que pulsava numa campânula de vidro baço. Agitou a cabeça para um lado e para o outro e depois soltou um gemido surdo e deu meia volta e afastou-se em passo trôpego até se eclipsar nas trevas sem ruído.
Com a primeira luz cinzenta ele levantou-se e deixou o rapaz a dormir e caminhou até à estrada e acocorou-se e perscrutou a paisagem que se estendia para sul. Estéril, silenciosa, maléfica. Parecia-lhe que estavam no mês de Outubro, mas não tinha a certeza. Há anos que deixaram de contar os dias por um calendário. Iam para sul. Nunca conseguiriam sobreviver a outro Inverno naquele lugar.
1ª Página do livro, A Estrada, de Cormac McCarthy, Relógio D’Água Editores, Março 2007, sem número de edição.

Nota:Num mundo pós-nuclear, Cormac McCarthy, narra-nos a história de sobrevivência de um pai e de um filho através da América, numa linguagem crua e despojada de qualquer romantismo para com a humanidade.
Segundo o Jornal inglês, The Observer, deveremos ler o livro como “uma meditação sobre a morte”: a morte individual e num sentido mais lato, a meditação sobre o fim apocalíptico da humanidade. Com este romance, Cormac McCarthy arrecadou o Prémio Pulitzer de 2007.
Cormac McCarthy nasceu em Rhode Island, a 20 de Julho de 1933. Na juventude, serviu à Força Aérea dos Estados Unidos durante quatro anos, e estudou Artes na Universidade do Tennessee. Em 40 anos de carreira literária, editou nove romances, entre eles, O Filho de Deus, Meridiano de Sangue, Este País Não é Para Velhos e este, A Estrada.
O escritor é considerado nos últimos anos como um dos grandes nomes do romance contemporâneo norte-americano, ao lado de nomes, como Don DeLillo, Philip Roth e Thomas Pynchon.
publicado por armando ésse às 10:39

Maio 26 2008

Quando acordava nos bosques, na escuridão e no frio, estendia a mão para tocar na criança que dormia a seu lado. Noites de trevas mais densas do que as próprias trevas e cada dia mais cinzento do que anterior. Como os primórdios de um glaucoma frio a obscurecer o mundo. A mão subia e descia suavemente a cada fôlego precioso. Afastou o oleado de tela plástica e soergueu-se sob as vestes e cobertores malcheirosos e olhou para leste em busca de qualquer luz, mas nada viu. No sonho de que despertara tinha penetrado numa gruta onde a criança o conduzira pela mão. A luz que traziam brincava sobre as paredes húmidas de calcário ali depositado pelo escorrer da água. Como peregrinos numa fábula, engolidos por um monstro granítico em cujas entranhas se haviam perdido. Fundos canais de pedra onde a água gotejava melodiosamente, como sinos a dobrar no silencia para assinalar os minutos da terra e as horas e os dias da terra e os anos incessantes. Até que chegaram a uma grande sala de pedra onde havia um lado negro e antiquíssimo e, na margem oposta, uma criatura que ergueu a boca gotejante do rebordo calcário e fitou a luz com olhos brancos e sem vida e cegos como ovos de aranha. O animal baixou a cabeça sobre a água e agitou-a, como que a farejar o que não conseguia ver. Ali agachado, pálido e nu e translúcido, com os ossos de alabastro projectados em sombras nas rochas atrás de si. As vísceras, o coração a bater. O cérebro que pulsava numa campânula de vidro baço. Agitou a cabeça para um lado e para o outro e depois soltou um gemido surdo e deu meia volta e afastou-se em passo trôpego até se eclipsar nas trevas sem ruído.
Com a primeira luz cinzenta ele levantou-se e deixou o rapaz a dormir e caminhou até à estrada e acocorou-se e perscrutou a paisagem que se estendia para sul. Estéril, silenciosa, maléfica. Parecia-lhe que estavam no mês de Outubro, mas não tinha a certeza. Há anos que deixaram de contar os dias por um calendário. Iam para sul. Nunca conseguiriam sobreviver a outro Inverno naquele lugar.
1ª Página do livro, A Estrada, de Cormac McCarthy, Relógio D’Água Editores, Março 2007, sem número de edição.

Nota:Num mundo pós-nuclear, Cormac McCarthy, narra-nos a história de sobrevivência de um pai e de um filho através da América, numa linguagem crua e despojada de qualquer romantismo para com a humanidade.
Segundo o Jornal inglês, The Observer, deveremos ler o livro como “uma meditação sobre a morte”: a morte individual e num sentido mais lato, a meditação sobre o fim apocalíptico da humanidade. Com este romance, Cormac McCarthy arrecadou o Prémio Pulitzer de 2007.
Cormac McCarthy nasceu em Rhode Island, a 20 de Julho de 1933. Na juventude, serviu à Força Aérea dos Estados Unidos durante quatro anos, e estudou Artes na Universidade do Tennessee. Em 40 anos de carreira literária, editou nove romances, entre eles, O Filho de Deus, Meridiano de Sangue, Este País Não é Para Velhos e este, A Estrada.
O escritor é considerado nos últimos anos como um dos grandes nomes do romance contemporâneo norte-americano, ao lado de nomes, como Don DeLillo, Philip Roth e Thomas Pynchon.
publicado por armando ésse às 10:39

Maio 24 2008

Está a ser divulgado, por suporte electrónico, e-mail, sms e internet, a convocação de um boicote ao roubo, perpetrado pelas grandes petrolíferas a operar em Portugal.
A mensagem é explícita e diz: nos próximos dias 1, 2 e 3, de Junho, não abasteça nos postos da Galp, da BP e da Repsol.
O secretário-geral da OPEP, diz que o mercado está maluco, que não há falta de petróleo e que não se justificam preços destes. É o próprio lobo, a reconhecer a espiral de loucura, a que chegou o preço do petróleo.
Por sua vez, o presidente da ANAREC, a associação que representa os revendedores dos combustíveis, Augusto Cymbron, afirmou, sem que alguém o tenha desmentido, que as petrolíferas a actuar em Portugal, têm contratos firmados para o ano de 2009, ao preço de 54 euros, aproximadamente 84 dólares/barril. Atenção! Preço para o próximo ano.
Obviamente, compraram o petróleo que estão a vender este ano, muito mais barato.
Porque, é que as televisões anunciam diariamente o aumentam do preço do barril do petróleo, como se esse preço, fosse para consumo no dia seguinte?
Seria de utilidade pública, saber para que data de entrega, estão as petrolíferas a comprar, no mercado de futuros, o barril de petróleo a 120/130 dólares.
Como cidadãos conscienciosos, temos que combater este "fartar vilanagem" em que se transformou os aumentos dos combustíveis e o enriquecimento ilícito do Estado e das companhias petrolíferas à custa do cidadão e do contribuinte.
As alternativas são resmas!
publicado por armando ésse às 22:36

Maio 24 2008

Está a ser divulgado, por suporte electrónico, e-mail, sms e internet, a convocação de um boicote ao roubo, perpetrado pelas grandes petrolíferas a operar em Portugal.
A mensagem é explícita e diz: nos próximos dias 1, 2 e 3, de Junho, não abasteça nos postos da Galp, da BP e da Repsol.
O secretário-geral da OPEP, diz que o mercado está maluco, que não há falta de petróleo e que não se justificam preços destes. É o próprio lobo, a reconhecer a espiral de loucura, a que chegou o preço do petróleo.
Por sua vez, o presidente da ANAREC, a associação que representa os revendedores dos combustíveis, Augusto Cymbron, afirmou, sem que alguém o tenha desmentido, que as petrolíferas a actuar em Portugal, têm contratos firmados para o ano de 2009, ao preço de 54 euros, aproximadamente 84 dólares/barril. Atenção! Preço para o próximo ano.
Obviamente, compraram o petróleo que estão a vender este ano, muito mais barato.
Porque, é que as televisões anunciam diariamente o aumentam do preço do barril do petróleo, como se esse preço, fosse para consumo no dia seguinte?
Seria de utilidade pública, saber para que data de entrega, estão as petrolíferas a comprar, no mercado de futuros, o barril de petróleo a 120/130 dólares.
Como cidadãos conscienciosos, temos que combater este "fartar vilanagem" em que se transformou os aumentos dos combustíveis e o enriquecimento ilícito do Estado e das companhias petrolíferas à custa do cidadão e do contribuinte.
As alternativas são resmas!
publicado por armando ésse às 22:36

Maio 24 2008

Vinte dias após o terramoto que provocou a morte de 78 mil pessoas, continuando 56 mil desaparecidas, o general Than Shwe, que lidera a Junta Militar que "governa" o país, fez o especial favor ao seu povo de autorizar a entrada de voluntários de Organizações Humanitárias internacionais para lhe prestar ajuda.
A fotografia e a notícia são do site da RTP.
O jornalista que a escreveu, deveria por exemplo e não é pedir muito, informar qual o país, que o General Than Shwe "governa", para os leitores ficarem informados, mesmo usando a linguagem jocosa do texto.
Eu penso, que ele pensa, que toda a gente sabe, qual o país governado pelo General Shwe, mas não é tão linear quanto isso, que os leitores saibam que ele está a falar do Myanmar.
Aliás, correctamente, até deveria informar que o dito General, governa o Myanmar, a antiga (e futura) Birmânia.
Mas acima de tudo e isto sem exemplo, o jornalista não deve confundir, uma catástrofe com outra, geograficamente distante, isto é, não deve confundir, o terramoto na China, com o ciclone na Birmânia.
A informação que merecemos, sem ponto de exclamação.
publicado por armando ésse às 01:29

Maio 23 2008

Decido o título definitivo e completo do meu blablabla que é Alá não é obrigado a ser justo em todas as coisas desta Terra. E pronto. Começo a contar as minhas baboseiras.
E, para começar…e um…Chamo-me Birahima. Sou um p’tit négre. Não por ser black e miúdo. Não! Sou p’tit négre porque falo mal francês. É assim. Mesmo quando se é grande, mesmo velho, mesmo árabe, chinês, branco, russo, mesmo americano; quando se fala mal francês diz-se sempre que se fala p’tit négre. Isso é a lei do francês de todos os dias que assim decreta.
…E dois… A minha escola não foi lá muito longe; cortei com o curso elementar dois. Deixei o banco porque toda a gente diz que a escola não vale nada, nem sequer o peido de uma avó velha (é assim que se diz em preto negro africano indígena quando uma coisa não vale nada. Diz-se que não vale o peido de uma avó velha porque o peido da avó lixada e magricela não faz barulho e não cheira assim muito, muito mal). A escola não vale o peido da avó porque, mesmo com o diploma da universidade, não se consegue ser enfermeiro ou professor primário em nenhuma das repúblicas bananeiras corrompidas da África francófona. (República bananeira quer dizer aparentemente democrática mas, na verdade, governada por interesses privados, pela corrupção.) Mas mesmo frequentar o curso elementar dois não é forçosamente autónomo e mirífico. Fica-se a saber alguma coisa, mas não o suficiente; ficamos a parecer-nos com aquilo a que os pretos negros africanos indígenas chamam uma panqueca tostada dos dois lados. Já não somos aldeões, selvagens como os outros pretos negros africanos indígenas: ouvimos e compreendemos os negros civilizados e os toubabs, tirando os ingleses e os americanos pretos da Libéria. Mas ignoramos geografia, gramática, conjugações, divisões e redacção; não conseguimos ganhar o dinheiro facilmente como agente do Estado numa república lixada e corrompida, como a Guiné, a Costa do Marfim, etc., etc.
…E três…sou insolente, incorrecto como a barba de bode e falo como um sacanete. Não digo, como os pretos negros africanos indígenas muito engravatados: merda! Raios! Safado! Sirvo-me de palavras malinké, como faforo! (Faforo quer dizer sexo do meu pai ou do pai ou do teu pai). Como gnamokodé! (Gnamokodé quer dizer bastardo ou bastardia). Como Walahé! (Walahé quer dizer em nome de Alá.) Os Malinkés é a minha raça. É o tipo de pretos negros africanos indígenas que são numerosos no Norte da Costa do Marfim, na Guiné e noutras repúblicas bananeiras e lixadas como a Gâmbia, a Serra Leoa e o Senegal lá longe, etc.
1ª Página do livro, Alá não é obrigado, de Ahmadou Kouroma, ASA Editores, 1ª edição, Setembro de 2004.

NOTA:Neste livro, Ahmadou Kouroma (Costa do Marfim 1927 – França 2003) , narra-nos pela boca de uma criança de onze anos, o menino soldado Birahima, a terrível realidade que assola o continente africano: as alianças entre chefes de Estado e o mundo do crime, a corrupção generalizada, as dificuldades nas Nações Unidas actuarem no terreno, os desvios das ajudas humanitárias enviadas pelas organizações não governamentais, e a terrível situação dos meninos soldados.
O número de crianças a participar directamente em combate é difícil de quantificar, mas segundo a organização não governamental britânica Human Rights Watch, existem entre 200 mil e 300 mil meninos soldados, que participam actualmente em guerras em 21 países em todo o mundo. Metade destes meninos soldados encontram-se em África, onde lutam mais de 100 mil crianças, mas também podem ser encontrados, na guerrilha maoísta do Nepal, no grupo terrorista Farc, na Colômbia, na Palestina, no Sudão ou no Mianmar, onde o recrutamento é legal a partir dos 12 anos.
A imagem tipicamente africana do menino com uma Kalashnikov nas mãos, que se encontra na capa do livro, não é representativa de todos os meninos soldados. Muitos dos meninos soldados, fazem o trabalho que militarmente é destinado à companhia de serviços, como cozinhar, lavar etc. Outros são usados como escravos sexuais, não havendo distinção no sexo. Outros ainda servem para fazer a desminagem de campos de minas ou para os minar. Segundo números da Organização das Nações Unidas, desde de 1987, cerca de dois milhões de crianças morreram em combate e este número não inclui, os mortos da guerra Irão/Iraque, que no seu final, era mantida principalmente por adolescentes. Assiste-se actualmente a uma grande pressão internacional, por parte de algumas organizações não governamentais, para terminar com a prática de recrutar meninos soldados, mas este movimento, está apenas no princípio.
publicado por armando ésse às 21:32

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