A FÁBRICA

Fevereiro 12 2009

Quando observamos os indivíduos pertencentes à mesma variedade ou subvariedade das plantas cultivadas há mais tempo e dos animais domésticos mais antigos, um dos primeiros aspectos que sobressaem é que estes, geralmente, diferem muito mais uns dos outros do que o que acontece entre indivíduos pertencentes a qualquer espécie ou variedade selvagem. Se reflectirmos sobre a vasta diversidade das plantas que têm sido cultivadas e dos animais que têm sido domesticados, sofrendo variações ao longo dos tempos sob os mais diversos climas e circunstâncias, somos levados a concluir que esta grande variabilidade se deve simplesmente ao facto de as nossas produções domésticas terem sido criadas sob condições de vida menos uniformes, e de alguma forma diferentes, daquelas a que a espécie-mãe esteve exposta na natureza. Existe também, na minha opinião, alguma probabilidade real na ideia proposta por Andrew Knight de que esta variabilidade pode em parte estar associada ao excesso de alimento. Parece bastante evidente que os seres orgânicos tenham de ser expostos às novas condições de vida durante várias gerações, até que se produza qualquer variação apreciável; como também parece evidente que, uma vez que a organização interna comece a variar, esta continue em regra a fazê-lo por inúmeras gerações. Não existe nenhum registo de um caso em que um organismo variável tenha cessado de variar no estado doméstico. As nossas plantas com histórias de cultivo mais antigas, tal como o trigo, ainda produzem com frequência novas variedades. Os nossos animais domésticos mais antigos são ainda susceptíveis de modificações ou aperfeiçoamentos rápidos.
1ª Página do livro, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, Publicações Europa-América, Edição Agosto de 2005.


“O livro que abalou o mundo” como é muitas vezes referido, foi lançado no dia 24 de Novembro de 1859 com o título original de On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a Origem das Espécies Através da Selecção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida). A primeira edição de 1250 exemplares esgotou no próprio dia, sucedendo-lhe mais cinco edições, que compreendiam dados adicionais e revisões contextuais para rebater os argumentos que se foram levantando. Curiosamente, a palavra evolução é pela primeira vez introduzida na sexta edição, assim como, a expressão “sobrevivência do mais apto”, que não é da autoria de Darwin, mas sim do filósofo Herbert Spencer. Portanto é inapropriado relacionar o conceito “darwinismo social” a Charles Darwin. “Luta pela sobrevivência”, “direito do mais forte” nunca foram palavras de Charles Darwin, mas sim conceitos manipulados por outros. O darwinismo social é um conceito que se deveria chamar de “spencerismo”, pois não tem absolutamente nada a ver com a teoria de evolução de Charles Darwin.
À data de publicação, “A Origem das Espécies” gera um escândalo sem precedentes. Mesmo que, no início, se iniba de evocar o homem e o macaco, toda a gente compreende o alcance da Teoria. Ao afirmar que todas as espécies vivas descendem de um antepassado comum em resultado de um processo de evolução que, por selecção natural, eliminou os menos adaptados, Darwin entra em conflito não só com a fé, mas também com o antropomorfismo. Escarnecido pela imprensa, acrescido de uma cauda e dotado de um corpo simiesco pelos caricaturistas, desprezado pela Igreja, Darwin tornou-se famoso da noite para o dia.
Desde a Antiguidade que a perfeição dos mecanismos naturais era assumida como prova da existência divina. Com a Teoria da Evolução Darwin, diz-se adeus à Providência. Trata-se, nem mais nem menos, de substituir a religião pela ciência. O francês Jean-Henri Fabre dedicará a sua vida a tentar desmontar a teoria darwiniana, na qual não vê senão “um jogo do espírito”. Outros entregam-se de corpo e alma à sua defesa, como Thomas Huxley ou o botânico Joseph Hooker.
O debate mais espectacular teve lugar na Universidade de Oxford, em 30 de Junho de 1860, perante uma plateia repleta. O duelo opõe os partidários do investigador, em particular o zoologista Thomas Huxley, apelidado de “buldogue de Darwin”, ao bispo de Oxford, Sam Wilberforce. Numa célebre interpelação, este último pergunta a Huxley se é “da parte do seu avô ou da sua avó que descende do macaco”, provocando uma réplica não menos memorável, embora persistam dúvidas sobre as suas exactas palavras: “Se a questão é se eu preferiria ter um macaco como avô ou um homem altamente favorecido pela natureza, que possui grande capacidade de influência, mas mesmo assim emprega essa capacidade e influência para o mero propósito de introduzir o ridículo numa discussão científica séria, eu não hesitaria afirmar a preferência pelo macaco!”
A “guerra do macaco” continua hoje em dia, mesmo que o Vaticano tenha admitido, em 1996, que a teoria da evolução era “mais do que uma hipótese”, os poderosos lóbis protestantes, nunca abdicarão de tentar impôr o"desígnio inteligente" da criação do Mundo.
publicado por armando ésse às 10:50

Fevereiro 12 2009

Charles Darwin, nascido há 200 anos, colocou o homem no seu devido lugar ao localizá-lo na longa história da evolução das espécies, desmentindo a crença de uma criação divina e fundando a biologia moderna.
Revelada em 1859, em “A Origem das Espécies”, a Teoria Por Selecção Natural de Charles Darwin causou agitação entre aqueles que acreditavam na criação divina de espécies imutáveis. Hoje, a maioria dos cristãos aceita (excepto os criacionistas) o princípio científico da evolução, no entanto o papel desempenhado pelo acaso no surgimento das variações ou de novas espécies continua sendo para muitos um obstáculo.
Duzentos anos após seu nascimento, Darwin permanece um dos maiores expoentes das ciências naturais.
Charles Robert Darwin nasceu em Shrewsbury, Inglaterra, em 12 de Fevereiro de 1809, no seio de uma família próspera e culta. O seu pai, Robert Waring Darwin, foi um médico respeitado. O avô paterno, Erasmus Darwin, poeta, médico e filósofo, era um evolucionista em potencial, cuja obra mais famosa, a Zoonomia, antecipava em muitos aspectos as teorias de Lamarck.
Em 1825 Charles Darwin foi para Edimburgo estudar medicina, carreira que abandonou por não suportar as dissecções. Todavia, interessou-se pelas ciências naturais. Matriculou-se a seguir no Christ’s College, em Cambridge, decidido a ordenar-se padre, embora não tivesse vocação religiosa. Ali tornou-se amigo do botânico John Stevens Henslow, que o aconselhou a aperfeiçoar seus conhecimentos em história natural. É Henslow quem proporciona a Darwin o momento decisivo da sua existência. A 24 de Agosto de 1831, pouco depois de obter o seu diploma, propõe-lhe acompanhar o capitão Fitz-Roy a bordo do “Beagle” para uma longa viagem de estudo. Charles foi eleito pelas suas qualidades de perfeito “gentleman”, mais do que pelos seus conhecimentos, os mais limitados à época. “Não é que vos considere um naturalista consumado”, escreve Henslow, “mas sois capaz de coleccionar e de notar o que é digno de ser registado.” O doutor Darwin recusa-se a dar o seu consentimento. Charles, escreve a Henslow para exprimir o seu profundo pesar, mas, diplomata, tenta assegurar o apoio do seu tio, que acaba por triunfar na decisão.
A 21 de Dezembro de 1831, o “Beagle” levanta âncora para uma volta ao mundo que durará cinco anos. Desta viagem incómoda, a lenda fez uma odisseia, um périplo fundador do qual todos os naturalistas devem recitar as etapas: a descoberta, próximo de Montevideu, de fósseis colossais, presumíveis antepassados dos tatus, a dos aborígenes na Austrália, o deslumbre perante o esplendor das florestas tropicais, a curiosidade face à diversidade das tartarugas específicas de cada uma das ilhas Galápagos, etc. É no decorrer desta experiência que a iluminação terá transformado o coleccionador aprendiz em especialista de génio.
O jovem naturalista regressou da viagem transformado, amadurecido — e acometido por uma estranha febre que não mais o deixará —, mas a ideia de “A Origem das Espécies” não nasceu a bordo do “Beagle”. Ela surgirá durante o período de triagem das suas descobertas para redigir o seu diário de bordo. Por si só, a ideia de uma evolução das espécies não é inovadora, Jean Lamark lançou-a em 1809, e mesmo o avô de Darwin, Erasmus, assinou uma “Zoonomia”, mais poética do que científica. A estas teorias só falta o essencial: o mecanismo que explica a transformação. Caberá a Darwin encontrá-lo. A natureza procede como os criadores de gado, por selecção sistemática, defende. É a luta pela vida que, a cada geração, privilegia, numa população, os que melhor se adaptam ao meio, a expensas dos mais fracos. A leitura em 1838 do livro “Ensaio Sobre o Princípio da População” de Thomas Malthus fez iluminar a mente de Darwin e descobrir a sua teoria: a selecção natural, segundo a qual só os indivíduos mais bem adaptados de cada população sobrevivem para deixar descendência. Depois, escondeu a sua teoria ao longo de mais de 20 anos, dedicando-se a reunir uma montanha de documentos para apoiar a sua tese, antecipando todas as objecções, acumulando as provas, inquirindo, numa troca de correspondência, sobre os métodos dos criadores de pombos, sobre o sentido de orientação das abelhas ou dos gatos domésticos, etc. Sem publicar uma linha a propósito das suas reflexões. Em 1839, casa com a sua prima Emma, culta, devota e dotada de rendimentos que, a juntar aos seus, lhe permitem viver sem exercer uma profissão. Em 1842, redige, ainda assim, um esboço da sua teoria, repleta de instruções no caso de se dar algum infortúnio, que permanecerá guardada anos a fio sob as escadas, enquanto Darwin se consagra a outros estudos. Não há motivos para pressas, pensa, coleccionando observações, como, no passado, os insectos. No entanto, em 1858, um jovem naturalista, Alfred Russel Wallace, envia-lhe uma dissertação (Sobre a Tendência das Variedades a Desviarem-se indefinidamente do Tipo Original) na qual defende, praticamente palavra por palavra, a mesma tese. O choque é duro. Vexado, reticente, mas instigado pela concorrência, Darwin, sob a insistência dos seus amigos, resigna-se em publicar, primeiro um esboço e a seguir “Da Origem das Espécies”, 500 páginas escritas em menos de um ano num estilo figurado, pessoal, bastante acessível — garantia de sucesso. Este sucesso quase não lhe renderá nada, fechado em casa, recusando obstinadamente as homenagens públicas, tal como foge das confrontações. Na Down House escreve, reflecte e continua a escrever para insistir na argumentação e responder aos seus detractores. Prosseguir a produção das obras parece- lhe a única forma honrada de se defender.
Darwin é a prova de que o génio pode ser modesto e não se faz, necessariamente, acompanhar pela excentricidade. Simples, afável, conciliador, tão sensível às críticas como aos elogios, preocupa-o bastante a recepção às suas ideias, não por vaidade, mas por necessidade de persuasão. Na sua autobiografia, escrita em 1876, seis anos antes da sua morte, só reconhece, para lá do amor à ciência, possuir os “dons de observação” e “uma paciência sem limite”.
De carácter simples, extremamente apegado à mulher e aos filhos, Darwin dedicou a sua vida à ciência, apesar da pouca saúde. A sua obra revela modéstia e escrúpulo, que despertaram a simpatia e a amizade de todos. Até os adversários admiravam o seu carácter e respeitavam-no como cientista. Darwin morreu de um ataque cardíaco em Down, a 19 de Abril de 1882, sendo enterrado na abadia de Westminster.
The Complete Work of Charles Darwin Online
Fontes: A Origem das Espécies, A Vida e a Obra de Darwin de Alberto Candeias, The Complete Work of Charles Darwin Online, Público e AFP.
publicado por armando ésse às 09:20
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Fevereiro 12 2009

Passam hoje 200 anos do nascimento de duas grandes figuras da história mundial:
Abraham Lincoln (Hodgenville, 12 de fevereiro de 1809 — Washington, DC, 15 de abrilde 1865)


Charles Robert Darwin (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809— Downe, Kent 19 de Abril de 1882.
publicado por armando ésse às 06:11

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