A FÁBRICA

Maio 27 2005

O corpo do alpinista britânico George Mallory, desaparecido no monte Evereste em 8 de Junho de 1924, foi encontrado a 01 Maio 1999, 600 metros abaixo do cume, pela equipa do norte-americano Eric Simonson.
Em 1921 Charles Bell, diplomata britânico encarregado dos negócios com o Tibete, depois de muita pressão, persuadiu o 13º Dalai Lama a permitir uma primeira expedição de reconhecimento ao Evereste. Organizada em 1921, montada pela Sociedade Geográfica Real, com montanhistas do Clube Alpino, ela foi chefiada por C. K. Howard-Bury. Embora composta por montanhistas experientes, tratava-se de experiência em montanhas europeias, com a metade da altura do Evereste. Muito pouco era conhecido sobre os efeitos da altitude, bem como roupas e equipamentos específicos para o ambiente que iriam enfrentar, sendo muitas das melhores avaliações da época impróprias para os padrões actuais. Os nove membros da expedição não formavam o que se poderia chamar de uma grande equipa e após uma extenuante caminhada de 640 quilómetros, desde Sikkim, na Índia, apenas seis chegaram à base da montanha. Para ajudá-los, os britânicos contrataram alguns sherpas que haviam imigrado do Nepal para a Índia. Mas a principal figura da expedição foi George Mallory. Com seu parceiro de montanhismo, G. H. Bullock, gastou um árduo mês explorando a área que o levaria com menor dificuldade até o sopé da montanha, o misterioso glaciar Rongbuk oriental. Ficou óbvio que o Verão, durante o período das monções, não era a época mais favorável para qualquer coisa que se quisesse fazer nos Himalaias. Mas, apesar disto, e dos precários equipamentos, três sherpas e três alpinistas, incluindo George Mallory, alcançaram o Colo Norte, a 6.700 metros de altitude. O incansável George Mallory continuou bisbilhotando a montanha até chegar ao passo Lho, 6.006 metros, uma falha na cordilheira que permitia passar do Tibete para o Nepal. Dali ele pode fazer uma minuciosa observação do glaciar que cobria o vale entre o Evereste e o Nuptse, acima da Cascata de Gelo, o qual baptizou de Cwm – vale, em galês – Ocidental, além de se tornar o primeiro europeu a ver a Cascata de Gelo e o vale Khumbu, no lado nepalês. Mallory voltou para o acampamento e, depois de trocar muitas informações com os outros alpinistas, concluiu ser a Cascata de Gelo um caminho intransponível. Portanto, o melhor era continuar tentando pelo lado tibetano, através do Colo Norte, localizado entre o Evereste e o Changtse, que ficava bem em frente, e a partir dali escalar pela aresta norte, à esquerda da face norte.
Em 1922, uma nova expedição, liderada pelo general C.G. Bruce, iniciou sua jornada antes das monções e gabava-se de ser formada por um grande equipa de 13 pessoas, inclusive um cineasta, e estar abastecida com alimentação especial: champanhe, caviar e esparguete. Que congelou nos campos mais altos. Eles realmente tinham uma alimentação bem mais adequada, mas as roupas não. Eles usavam chapéu, óculos escuro, machadinhas de gelo e cordas, como se estivessem indo para um passeio num parque inglês no Inverno. Para facilitar a logística da operação, diversos acampamentos intermediários foram estabelecidos. O acampamento IV foi montado no Colo Norte e o acampamento V a uma altitude de 7.600 metros. Embora fosse claro que este campo estava baixo demais para servir como base de um ataque ao cume, a primeira tentativa foi feita por George Mallory, Edward Norton e Howard Somerval. Eles subiram a 8.150 metros, sem oxigénio suplementar, antes de descerem com sintomas de congelamento. A segunda tentativa foi realizada por George Finch e C.G.Bruce. Passaram a noite dormindo com auxílio de oxigénio suplementar, o que os manteve melhor aquecidos e permitiu-lhe um bom sono, embora alguns membros da expedição fossem contra por acharem tal atitude anti desportiva. Partiram pela manhã levando apenas uma garrafa térmica de chá e subiram até 8.323 metros, estabelecendo um novo recorde de altitude. A terceira tentativa terminou prematuramente 200 metros abaixo do Colo Norte, quando uma avalanche colheu nove sherpas, matando sete. O Evereste começava a cobrar seu tributo de quem o ousava desafiar. Mas eles não desistiram, iniciando uma campanha de arrecadação de fundos para voltarem aos Himalaias. Durante um ciclo de palestras pelos Estados Unidos, ilustradas com slides das expedições anteriores, quando um irritante jornalista perguntou porque motivo alguém teria que escalar o Evereste, George Mallory respondeu com o que veio a tornar – se a mais célebre frase da história do montanhismo:
- Porque ele está lá!
Em 1924, montou-se nova expedição. Eles ainda não tinham roupas adequadas, especialmente roupas de baixo. A cada alpinista foi entregue um kit de vestimentas no valor de 100 dólares. Edward Norton, chefe da expedição, era o mais bem equipado. Gabava-se de usar macacão corta-vento, um blusão de couro e um capacete de motociclista. Mas lá estavam eles de novo: George Mallory, Andrew Irvine, Edward Norton, Howard Somerval e mais cinco alpinistas. Violenta tormenta atacou-os, ainda no início da expedição, danificando o equipamento de oxigénio e obrigando-os a voltarem para se abrigarem no mosteiro Rongbuk, onde receberam a bênção do Lama, o que eles, imprudentemente, não haviam feito quando passaram pelo local em direcção ao acampamento-base. O acampamento VI foi estabelecido a 8.170 metros, tendo Edward Norton e Howard Somerval dormido no local. Iniciaram o ataque no dia seguinte, muito cedo, mas Howard Somerval foi vencido por um sério ataque de tosse. A garganta inchada congelou, quase sufocando-o. Edward Norton seguiu sozinho montanha acima, vencendo, passo a passo, a encosta coberta de neve, até chegar aos 8.572 metros – meros 276 metros abaixo do cume –, estabelecendo um novo recorde de escalada sem oxigénio artificial, uma marca fantástica para a época, só superada em 1978.Se Edward Norton tivesse oxigénio, possivelmente teria alcançado o cume. Naquela noite, com Edward Norton exausto e sofrendo de nifablepsia, uma cegueira temporária provocada pela reflexão da luz solar na neve, e Howard Somerval fora de acção, George Mallory escolheu o jovem e inexperiente Andrew Irvine para acompanhá-lo na tentativa do próximo dia, embora Noel Odell estivesse mais bem aclimatado e em melhores condições físicas. Os sherpas acompanharam George Mallory e Andrew Irvine até o acampamento VI, ponto em que desistiram de prosseguir, tais eram as condições adversas do clima. Após um breve descanso, regressaram para informar que apesar do fogareiro ter despenhado montanha abaixo, tudo estava bem, e que os dois europeus prosseguiriam. Na manhã seguinte, 8 de Junho de 1924, o tempo estava terrível, fazendo com que George Mallory e Andrew Irvine deixassem o acampamento avançado muito tarde. Enquanto esperavam para ver se as condições melhoravam, perderam estimáveis minutos, erro que provavelmente lhes tirou a vida. George Leigh Mallory estava com 38 anos, nasceu em 1886. Filho da alta burguesia inglesa, professor, casado e pai de três filhos, era considerado o melhor alpinista britânico da sua época. Dotado de refinada cultura e alto idealismo, possuía também uma apurada sensibilidade romântica. Nos acampamentos no Evereste, ele costumava ler Shakespeare para seus colegas de barraca. Naquela manhã de 1924, enquanto George Mallory e Andrew Irvine subiam, com extrema dificuldade, em direcção ao topo do mundo, Noel Odell escalava do acampamento V ao acampamento VI para estudar a geologia das rochas ao longo do caminho. Às 12h50, numa das suas paradas, as nuvens abriram uma brecha no céu e ele pode ver a silhueta dos dois companheiros subindo em direcção ao cume. Uma forte tempestade de neve formou-se na parte de cima do Evereste e, quando clareou, duas horas mais tarde, deixando visível a crista noroeste, não existia mais sinal dos alpinistas. Os dois nunca mais foram vistos. Teriam atingido o cume antes de morrerem? Seriam George Mallory e Andrew Irvine os primeiros a terem escalado o ponto mais alto do planeta? Eles haviam morrido na subida ou na descida? A verdade é que o desaparecimento deu origens a um sem-fim de conjecturas sobre se eles conseguiram ou não atingir o cume antes de morrerem. Montanhistas de expedições subsequentes, ao observarem o local onde Noel Odell avistou Mallory e Irvine pela última vez, concluíram que, Mallory e Irvine possivelmente não teriam chegado ao cume. Em 1980, durante uma expedição japonesa, um dos carregadores chineses, Wang Hongbao, procurou o chefe da equipa alegando que cinco anos antes, enquanto participava de uma expedição chinesa, havia encontrado, perto de onde estavam, o cadáver de um alpinista britânico com roupas muito antigas, sentado num terraço nevado a 8.100 metros de altitude. Se a informação estivesse correcta, certamente seria o corpo de Mallory ou Irvine. Como eles carregavam máquinas fotográficas, poderia – se ficar a saber se haviam ou não chegado ao cume. Mas o mistério continuou porque no dia seguinte o próprio carregador chinês morreu sob uma gigantesca avalanche que desabou sobre seu acampamento.

publicado por armando ésse às 14:05

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