Quando observamos os indivíduos pertencentes à mesma variedade ou subvariedade das plantas cultivadas há mais tempo e dos animais domésticos mais antigos, um dos primeiros aspectos que sobressaem é que estes, geralmente, diferem muito mais uns dos outros do que o que acontece entre indivíduos pertencentes a qualquer espécie ou variedade selvagem. Se reflectirmos sobre a vasta diversidade das plantas que têm sido cultivadas e dos animais que têm sido domesticados, sofrendo variações ao longo dos tempos sob os mais diversos climas e circunstâncias, somos levados a concluir que esta grande variabilidade se deve simplesmente ao facto de as nossas produções domésticas terem sido criadas sob condições de vida menos uniformes, e de alguma forma diferentes, daquelas a que a espécie-mãe esteve exposta na natureza. Existe também, na minha opinião, alguma probabilidade real na ideia proposta por Andrew Knight de que esta variabilidade pode em parte estar associada ao excesso de alimento. Parece bastante evidente que os seres orgânicos tenham de ser expostos às novas condições de vida durante várias gerações, até que se produza qualquer variação apreciável; como também parece evidente que, uma vez que a organização interna comece a variar, esta continue em regra a fazê-lo por inúmeras gerações. Não existe nenhum registo de um caso em que um organismo variável tenha cessado de variar no estado doméstico. As nossas plantas com histórias de cultivo mais antigas, tal como o trigo, ainda produzem com frequência novas variedades. Os nossos animais domésticos mais antigos são ainda susceptíveis de modificações ou aperfeiçoamentos rápidos.
1ª Página do livro, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, Publicações Europa-América, Edição Agosto de 2005.
À data de publicação, “A Origem das Espécies” gera um escândalo sem precedentes. Mesmo que, no início, se iniba de evocar o homem e o macaco, toda a gente compreende o alcance da Teoria. Ao afirmar que todas as espécies vivas descendem de um antepassado comum em resultado de um processo de evolução que, por selecção natural, eliminou os menos adaptados, Darwin entra em conflito não só com a fé, mas também com o antropomorfismo. Escarnecido pela imprensa, acrescido de uma cauda e dotado de um corpo simiesco pelos caricaturistas, desprezado pela Igreja, Darwin tornou-se famoso da noite para o dia.
Desde a Antiguidade que a perfeição dos mecanismos naturais era assumida como prova da existência divina. Com a Teoria da Evolução Darwin, diz-se adeus à Providência. Trata-se, nem mais nem menos, de substituir a religião pela ciência. O francês Jean-Henri Fabre dedicará a sua vida a tentar desmontar a teoria darwiniana, na qual não vê senão “um jogo do espírito”. Outros entregam-se de corpo e alma à sua defesa, como Thomas Huxley ou o botânico Joseph Hooker.
A “guerra do macaco” continua hoje em dia, mesmo que o Vaticano tenha admitido, em 1996, que a teoria da evolução era “mais do que uma hipótese”, os poderosos lóbis protestantes, nunca abdicarão de tentar impôr o"desígnio inteligente" da criação do Mundo.