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O insulto ao jogador sob a forma de ruídos simiescos, perpetrado pelos acéfalos adeptos do Saragoça, num comportamento resultante de uma espécie de estupidificação generalizada, levou-o ao desespero e, compreensivelmente, a ameaçar abandonar o jogo. Mesmo que as pessoas defendam aqui o direito à manifestação, neste caso nem sequer é a defesa de uma qualquer ideologia, mas uma forma desumana e baixa de provocar despropositadamente uma pessoa, não fazendo, por isso, qualquer espécie de sentido defender esta atitude com o recurso à liberdade de expressão, pois entramos no campo do insulto fácil e gratuito. Não acredito que todos os estivessem imbuídos num espírito racista mas, ao compactuarem com esta conduta, ainda são piores que os que o fizeram com convicção. Conheço casos de pessoas que abandonaram um local em sinal de protesto com a opinião do orador. Eu próprio já disse e fiz muita estupidez a este respeito. Todavia, nunca foi a minha intenção melindrar ninguém. Um dia apercebi-me que há coisas que não sendo ofensivas na essência, passam a sê-lo se tivermos em atenção à história da humanidade. O carácter ofensivo e pejorativo das palavras advém do facto de ainda estarem profundamente enraizadas na alma das pessoas as monstruosidades cometidas durante séculos. E que não se esquecem em tão pouco tempo.
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Mesmo continuando a manter a minha posição de céptico sobre este assunto, fiz um exercício mental, mas partindo do pressuposto que era verdade. Conclui que continuava a ser uma hipótese remota, uma vez que qualquer civilização que cá chegasse seria incomparavelmente mais evoluída e, que se a evolução seguisse o mesmo caminho que na Terra, era incontornável o aparecimento de uma consciência colectiva, uma espécie de humanização da sua sociedade, o que invalidava o pressuposto inicial. Caso contrário, pensei eu na altura, configuraria um tipo de racismo, o que não faz o menor sentido para mentes desenvolvidas sadiamente. Foi então que me apercebi. Se pensarmos que o racismo tem a sua génese na escravatura, que mais não era que um domínio avassalador sobre a vontade do esclavagista sobre o escravo, sempre e inexoravelmente presente, que na ausência quer na presença do dominador, com a conivência dos poderes vigentes na altura, que elevava a impotência que eles sentiam a um nível que só quem passa pelo mesmo entende, facilmente se percebe o paralelismo.
A discussão feita pelo psiquiatra em torno dos sentimentos foi, por isso, reveladora, assim como a natural tendência para o ressentimento contra todos os que reavivem a memória, pelos seus actos, de situações profundamente marcantes. Este raciocínio nada elaborado levou-me a compreender este ressentimento e a evitar palavras que são susceptíveis de ferir sensibilidades. As atrocidades cometidas durante esses anos criaram clivagens que dificilmente serão esquecidas. A contínua humilhação de seres humanos e o sofrimento causado, levou a algumas demonstrações de grandeza em pequenos actos.
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Eu gostava de ter feito aquilo. É como se ser um simples participante destes momentos nos engrandecesse enquanto seres humanos. É o mesmo desejo que tenho de ter sido eu a dar o isqueiro àquela senhora que queimou o sutiã, em sinal de protesto na sua luta pela emancipação das mulheres. Por outro lado, a ciência já provou, sem lugar para ambiguidades, que não é possível distinguir geneticamente as pessoas, defraudando aqueles que o defendiam fervorosamente. O que está mais que provado é que a oportunidades iguais, correspondem, na generalidade, resultados iguais, existindo aqui e ali algumas idiossincrasias que facilmente são observáveis ao nível de algumas modalidades desportivas.
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O racismo é a negação da humanidade. Um racista tem problemas com a sua própria identidade e afirmação enquanto ser humano, não se enquadrando, por isso, neste espantoso acontecimento cósmico que é a vida. Nunca é demais frisar o valor da ciência neste campo das desmistificações, que também descobriu que o chimpanzé partilha 97% do nosso genoma. Há por isso toda uma escala até aos 100% que tem de ser preenchida por alguém. Temos então o PNR. Estou a ler um livro de onde saiu o título deste texto, a estupidez circular mais não é de que aquela que, independentemente do ângulo de observação, é sempre estupidez.
Filipe Pinto.