Ainda tenho bem presente na memória, as imagens da televisão daquele Domingo 11 de Fevereiro de 1990, quando Nelson Mandela foi libertado da cadeia de Robben Island, após 27 anos de encarceramento. Vejo-o a dar uns tímidos passos abraçado á sua mulher Winnie Mandela, e com o braço direito levantado e de punho cerrado, saúda uma multidão que o aclama. Vejo a seguir esta multidão a acompanha-lo num lento e festivo cortejo até à Cidade do Cabo, onde da varanda da câmara municipal se dirige, pela primeira vez a uma multidão de mais de 50 mil pessoas. As primeiras palavras são para o Presidente De Klerk, que diz ser um homem íntegro, acrescentando "Mas a nossa luta atingiu um momento decisivo. A nossa marcha para a liberdade é irreversível". Nelson Mandela foi um incansável maratonista na longa corrida contra o appartheid.
Recusou várias vezes a liberdade em troca de desistir de combater a segregação racial. A sua persistência, a estatura moral que manifestou na cadeia, a ligação que conseguiu continuar a manter com as estruturas do ANC, serviram para alimentar campanhas mundiais pelo seu prestígio e pela sua libertação.
A libertação de Nelson Mandela foi a confissão do regime de que estava à beira do esgotamento.A instabilidade interna provocada pela degradação das estruturas do sistema, pela luta social e política contra a segregação racial, pelos efeitos das sanções económicas internacionais, fizeram com que as figuras mais realista do regime percebessem que a situação não podia prolongar-se por muito mais tempo.
Frederik De Klerk tomou a decisão corajosa de libertar Nelson Mandela sem que este fizesse concessões em relação aos princípios que sempre defendera. E quando Nelson Mandela saiu da prisão naquele Domingo, o Mundo que finalmente ficou a conhecê-lo de vista e não apenas de nome, advinhou que aqueles timídos passos eram dados em direcção a uma nova África do Sul, o fim de uma longa caminhada para a liberdade.