O documento continha legados pequenos a algumas pessoas e acrescentava: “Todo o meu património deverá ser tratado da seguinte maneira. O capital será investido pelos meus executores em títulos seguros e com os seus juros anuais, distribuídos prémios para os que trouxerem os maiores benefícios à humanidade. O dito prémio deverá ser dividido em cinco partes iguais, que deverá ser aplicado como se segue: uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta ou invenção no campo da física (Prémio Nobel da Física); uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta química ou aperfeiçoamento (Prémio Nobel da Química) ; uma parte para a pessoa que deverá ter feito a mais importante descoberta no domínio da fisiologia ou medicina (Prémio Nobel da Medicina); uma parte para a pessoa que deverá ter produzido no campo da literatura o mais impressionante trabalho de uma tendência idealista (Prémio Nobel da Literatura); e uma parte para a pessoa que deverá ter feito mais ou melhor trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução de exércitos permanentes e para conservação e estímulos de congressos de paz (Prémio Nobel da Paz). O prémio para físicos e químicos deverá ser entregue pela Academia Sueca das Ciências; o de fisiologia ou trabalhos médicos pelo Instituto Caroline de Estocolmo; o de literatura pela Real Academia de Estocolmo; e para os campeões da paz, por um comité de cinco pessoas eleito pelo Parlamento Norueguês. É meu desejo expresso que quando entregarem os prémios nenhuma consideração deverá ser feita à nacionalidade dos candidatos, para que o mais qualificado receba o prémio, seja ele escandinavo ou não.” (O Prémio Nobel da Economia só seria instituído em 1969 e é financiado pelo Banco da Suécia).
Feito sem instrução jurídica, o testamento continha muitas falhas. Nobel legou a sua fortuna, mas a quem? Ele deixou escrito apenas que determinada corporação deveria distribuir o dinheiro dos juros em cinco prémios e não fez determinações sobre a administração do fundo. Ele estabeleceu apenas que as cinco instituições assumiriam a tarefa de distribuir os prémios. E o que deveria acontecer se elas recusassem?
A longa série de processos sobre o último desejo de Nobel começou com a questão sobre o lugar do seu domicílio. Seria a cidade sueca Bofors, onde ele estava registrado como habitante quando morreu? Estocolmo, onde pagava impostos? Ou em Paris, onde viveu longos anos e gozava dos direitos de cidadania local, embora tenha mantido seu passaporte sueco?
A questão era interessante não só por causa do imposto sobre herança, mas também para a validade jurídica do testamento. Por motivos formais, os tribunais franceses teriam declarado o documento inválido. Depois de processos em várias instâncias, foi decidido que o domicílio seria Bofors.
Entretanto, o Estado Sueco propôs a criação de uma fundação à luz do direito sueco para cuidar do património de Nobel. O Governo fez as reformas legais necessárias e pediu às instituições mencionadas no testamento que reconhecessem e assumissem as tarefas deixadas por Nobel.
Logo depois, três das quatro instituições deram sua resposta positiva e, ao mesmo tempo, fizeram sugestões para os estatutos da fundação e directrizes para a concessão dos prémios. A Academia Sueca de Ciências foi a única entidade que considerou essa tomada de posição inoportuna antes do fim de todos os processos.
Os testamenteiros, as instituições e parentes de Nobel negociaram durante um ano, após o que assinaram um acordo e encerraram todos os processos sobre o testamento. Só então começaram as negociações sobre os estatutos da Fundação Nobel.
Em Junho de 1900, ela foi finalmente confirmada e aprovada pelo governo sueco e no ano seguinte foram pela primeira vez concedidos os Prémios Nobel.