A FÁBRICA

Maio 06 2009

Segundo o jornal inglês The Guardian, numa votação levada a cabo pela empresa One Poll, o livro “Por Favor Não Matem a Cotovia” da norte-americana Harper Lee foi considerado o livro mais inspirado de todos os tempos, tendo a Bíblia ficado em segundo lugar.
O clássico dos anos 60, escrito por Harper Lee já vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo. A história passa-se nos anos da Grande Depressão, onde Atticus Finch, um advogado de uma pequena cidade, Maycomb, situada no sul dos Estados Unidos, recebe a dura tarefa de defender um homem negro injustamente acusado de violar uma jovem branca. Através do olhar de uma criança, Harper Lee descreve-nos o dia-a-dia de uma comunidade conservadora onde o preconceito e o racismo caracterizam as relações humanas, revelando-nos, ao mesmo tempo, o processo de crescimento, aprendizagem e descoberta do mundo típicos da infância. Com esta obra a autora foi galardoada com o Prémio Pulitzer.
O livro foi passado a filme pelo realizador norte-americano Robert Mulligan, pelo qual foi nomeado para o Óscar de melhor realizador em 1962, perdendo para David Lean. Apesar de ter perdido, o actor Gregory Peck, dirigido por si, no papel de Atticus Finch, ganhou o Óscar de Melhor Actor.
Da Bíblia quase tudo foi dito, traduzido em 2454 línguas, é considerado pelos cristãos o seu livro sagrado e acreditam que os homens que a escreveram foram inspirados por Deus. Estima-se que tenha vendido mais de 2 mil e 500 milhões de cópias.
O terceiro lugar foi para o “best-seller”, "Uma Criança Chamada “Coisa”", de Dave Pelzer.
Uma história real vivida pelo autor, que num testemunho impressionante relata os primeiros anos da sua terrível infância. A transformação de uma progenitora carinhosa, através do álcool, num monstro frio e cruel que altera totalmente a vida de uma criança e toda a família.Um best-seller não só nos Estados Unidos como nos principais países europeus.
Em quarto lugar aparece o livro de auto-ajuda do canadiano John Gray, “Os Homens São de Marte e as Mulheres são de Vénus”. John Gray, especialista em aconselhamento de familiar, explica as diferenças entre os sexos usando uma metáfora para ilustrar os conflitos que ocorrem frequentemente entre homens e mulheres. O top cinco é fechado com o famoso “Diário de Anne Frank”, que comoveu o mundo, como um documento pungente do Holocausto. De 12 de Junho de 1942, dia do seu 13.º aniversário, a 4 de Agosto de 1944, quando a família Frank foi mandada para o campo de concentração de Auschwitz, Anne escreveu diariamente no seu diário. O livro foi lançado em 1947 e está traduzido em 58 idiomas e vendeu mais de 30 milhões cópias.
Em sexto lugar aparece a sátira política de George Orwell, “1984”, seguido da autobiografia de Nelson Mandela, “ Longo Caminha para a Liberdade”. A autobiografia daquele que foi um dos maiores exemplos da história da Humanidade, escrita secretamente, durante os 27 anos que este encarcerado nas prisões sul-africanas, durante o regime do apartheid.. Uma personalidade incomparável, um grande defensor da igualdade e da luta pelos direitos humanos e cívicos.
Em oitavo lugar aparece o livro de Alex Garland, “A Praia” e em nono, o livro de Audrey Niffenegger’s, “ A Mulher do Viajante no Tempo”.
A lista é fechada com o clássico dos anos 50 de JD Salinger, que revolucionou a literatura norte americana: “Uma Agulha no Palheiro”. O livro conta as aventuras de Holden Caulfield, um rapaz de 16 anos, que ao ter de deixar o colégio interno que frequenta, mas receoso de enfrentar a fúria dos pais, decide passar uns dias em Nova Iorque até começarem as férias de Natal e poder voltar para casa.
Confuso, inseguro, incapaz de reconhecer a sua própria sensibilidade e fragilidade, Holden percorre nesses dias um intrincado labirinto de emoções e experiências, encontrando as mais diversas pessoas, como taxistas, freiras e prostitutas, e envolvendo-se em situações para as quais não está preparado.
Nesta lista, apenas não li os livros de Alex Garland e Audrey Niffenegger, e apesar de razões diferentes terem inspirado os autores, qualquer um destes livros “agarra-nos” até à última página, notando-se implicitamente uma grande dose de inspiração.
publicado por armando ésse às 10:40
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Abril 27 2009

Esta é a história de Estela e esta é a história de Havana antes da revolução. O romance póstumo de Guillermo Cabrera Infante chegou este fim-de-semana às livrarias.
O passado é um fantasma que não é preciso convocar com médiuns ou invocar com abra-essa-obra. É na realidade da recordação um revenant irreal. Não é preciso pôr as mãos em cima da mesa, de palmas para baixo, ou responder aos três toques rituais ou perguntar «Quem vem lá?». O espírito do passado está sempre a vir. Um copo de água e uma flor amarela chegam. Não é necessário repetir frases encantatórias ou cast a spell: todos os mortos estão aqui, vivos, exibidos por trás de uma janela de vidro preto, de uma câmara escura, de uma obra de artifício. Os entes passados estão vivos porque para nós não morreram. Estamos vivos porque eles não morrem. Nós somos os mortos vivos.
É no passado que vemos o tempo como se fosse o espaço. Tudo está longe, na distância em que o passado é uma imensa pradaria vertiginosa, como se caíssemos de uma grande altura e o tempo da queda, à distância, nos tornasse imóveis, como acontece com os acrobatas do ar, que vão caindo a uma enorme velocidade e contudo para eles nunca se cai. É deste modo que caímos na recordação. Nada parece ter-se movido, nada mudou porque estamos a cair a uma velocidade constante e só aqueles que nos vêem de fora – vós, leitores – dão conta de quanto descemos e a que velocidade O passado é essa terra imóvel da qual nos aproximamos com um movimento uniformemente acelerado, mas o trajecto – tempo no espaço – impede-nos de nos afastarmos para ter uma visão que não seja afectada pela queda – espaço no tempo – voluntária ou involuntária. O tempo, ainda que parado, provoca vertigens, que é uma sensação que só o espaço pode provocar.
O passado só se torna visível através de um presente fictício – e no entanto toda a ficção perecerá. Do passado só ficará então a memória pessoal, intransferível.
Não me interessa a impostura literária mas a verdade que se diz com palavras que necessariamente se seguem umas às outras embora exprimam ideias simultâneas. Sei que uma frase é sempre uma questão moral. Existe uma memória ética? Ou é estética, quer dizer, selectiva?
A memória é outro labirinto no qual se entra e do qual às vezes não se sai. Mas são fantásticos, inúmeros, os corredores da memória, fora da qual há um único tempo real, aquele que se recorda – isto é, eu próprio agora quando a máquina de escrever é a verdadeira máquina do tempo.
Escrever, aquilo que faço agora, não é senão uma das formas que a memória adopta. O que escrevo é o que recordo – o que recordo é o que escrevo.Entre estas duas acções estão as omissões – que são os interstícios, o que fica. Quer dizer, o meu buraco: o espaço do tempo recordado.É tão fácil recordar, tão difícil esquecer… Não é isso que a canção diz? Ou diz…? Não me lembro, esqueci-me. Recordar é gravar nesta ou naquela língua. Mas esquecer não tem equivalência…
O amor é um dédalo delicado que esconde o seu centro, um monstro obscuro.
Teseu, o teu nome é desejo. Ah, Ariadne, não te abandonei em Naxos mas no Trotcha. Agora descendo ao mundo inferior da recordação para te trazer de entre os mortos. Tive de passar a vau as águas do Letes, rio do esquecimento, labirinto lábil, para te encontrar outra vez. Caronte, que já não trabalha na ponte sobre o rio Almendares mas que limpava por uma peseta o vidro que o salitre do Malecón tinha toldado, deixou-me ver-te. Foi através de outro pára-brisas, desta vez de um táxi, que voltei a ver-te.
Pareceria que ela morreu – e é verdade. É a morte uma extensão infinita da noite? A morte faz da vida um couto privado. Parece estranho que tendo esta miniatura (no sentido de pequena pintura preciosa) ao lado, me entregue a uma reflexão sobre o bolero. Acontece que escrevo o ensaio agora. Na altura só ouvia a música.Ela morreu. Suicidou-se? Não, morreu da morte menos natural: morte natural. Seja como for, matou-a o tempo. Mas o certo, o terrível, o definitivo é que Estelita, Estela, Stella Morris está morta. Agora sou eu quem reconstrói a sua memória. Era uma pessoa, mas acabou por se tornar esse destino terrível, uma personagem. Convém dizer que ela era toda uma personagem.
Morreu, longe dos trópicos, de Cuba. Mas na verdade não era dos trópicos, ou de Havana, ou dessa Rampa onde a conheci – e dizer que a conheci é, evidentemente, um absurdo: nunca a conheci. Nem sequer a conheço agora. Mas escrevo sobre ela para que outros, que não a conheceram, a recordem. Quanto a mim, ela foi sempre inolvidável. Mas agora que está morta é mais fácil recordá-la. E pensar que não existe agora mais do que quando a imagino ou a recordo. É a mesma coisa. Poderia escrever mentiras, bem sei, mas a verdade é uma invenção suficiente.
Digo que não a conheci e devo dizer que a encontrei; na rua, uma tarde, quando era uma desorientada dos subúrbios no centro de Havana, perdida.Mas para mim foi um encontro. Há um bolero tocado por Peruchín que se chama “Añorado encuentro” (1) e foi isso que foi. É curioso como as canções ditam as recordações. Néstor Almendros disse-me, quando veio visitar-me e eu estava a ouvir no meu gira-discos “Down at the Levy” cantada por Al Jolson, que sempre que ouvisse essa canção se lembraria da sala do apartamento, do sol que batia nos móveis e da gente e do mar ao longe e eu sentado no sofá, em camisa, a ouvir o velho Al, Al morto, Al Down at the Levy, waiting, for the Robert E. Lee, que era um barco de pás a navegar Mississipi abaixo.
Voltei a percorrer La Rampa esta noite. Não foi um sonho, foi uma coisa mais recorrente: a recordação. Lembrei-me de quando vim à rua O (Zero, O, Oh) com Branly. La Rampa era jovem e eu também.Mas o cruzamento com O já bulia.
Para mim, Havana era então uma ilha encantada em que era simultaneamente explorador e guia. Durante algum tempo também julguei ser um Frank Buck do amor, que penetrava na selva para a trazer viva e vivermos os dois para o contar – ainda que fosse eu o único que podia erguer uma ponte entre o relaxe e o relato. Havana, que dúvida pode haver, era o centro do meu universo. Na realidade, era o meu universo: uma nébula clara. Recordá-la era uma viagem pela galáxia. No céu havia dois sóis.
Esta história não podia ter acontecido cinco anos antes. Nessa altura a rua 23 acabava em L, e La Rampa ainda não tinha sido construída. Ao fundo, paralelos ao Malecón, havia os carris do eléctrico e, às vezes, via-se vir um eléctrico cujas carreiras terminavam pouco antes do infinito. É claro que já lá estava o Hotel Nacional empoleirado num parapeito, mas onde hoje está o Hotel Hilton havia uma ribanceira com um fundo plano de argila que de vez em quando frequentei para jogar à bola. Desapareceu o campo de jogos onde não ganhei uma única batalha, para ser construído esse campo de Vénus, não de Marte, onde me portei melhor – aparentemente.(Público)

Ficha do livro
A Ninfa Inconstante
Autor: Guillermo Cabrera Infante
Tradutor: Salvato Telles de Menezes
Editor: Quetzal
238 págs., 17 euros
publicado por armando ésse às 09:31
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Abril 27 2009

Esta é a história de Estela e esta é a história de Havana antes da revolução. O romance póstumo de Guillermo Cabrera Infante chegou este fim-de-semana às livrarias.
O passado é um fantasma que não é preciso convocar com médiuns ou invocar com abra-essa-obra. É na realidade da recordação um revenant irreal. Não é preciso pôr as mãos em cima da mesa, de palmas para baixo, ou responder aos três toques rituais ou perguntar «Quem vem lá?». O espírito do passado está sempre a vir. Um copo de água e uma flor amarela chegam. Não é necessário repetir frases encantatórias ou cast a spell: todos os mortos estão aqui, vivos, exibidos por trás de uma janela de vidro preto, de uma câmara escura, de uma obra de artifício. Os entes passados estão vivos porque para nós não morreram. Estamos vivos porque eles não morrem. Nós somos os mortos vivos.
É no passado que vemos o tempo como se fosse o espaço. Tudo está longe, na distância em que o passado é uma imensa pradaria vertiginosa, como se caíssemos de uma grande altura e o tempo da queda, à distância, nos tornasse imóveis, como acontece com os acrobatas do ar, que vão caindo a uma enorme velocidade e contudo para eles nunca se cai. É deste modo que caímos na recordação. Nada parece ter-se movido, nada mudou porque estamos a cair a uma velocidade constante e só aqueles que nos vêem de fora – vós, leitores – dão conta de quanto descemos e a que velocidade O passado é essa terra imóvel da qual nos aproximamos com um movimento uniformemente acelerado, mas o trajecto – tempo no espaço – impede-nos de nos afastarmos para ter uma visão que não seja afectada pela queda – espaço no tempo – voluntária ou involuntária. O tempo, ainda que parado, provoca vertigens, que é uma sensação que só o espaço pode provocar.
O passado só se torna visível através de um presente fictício – e no entanto toda a ficção perecerá. Do passado só ficará então a memória pessoal, intransferível.
Não me interessa a impostura literária mas a verdade que se diz com palavras que necessariamente se seguem umas às outras embora exprimam ideias simultâneas. Sei que uma frase é sempre uma questão moral. Existe uma memória ética? Ou é estética, quer dizer, selectiva?
A memória é outro labirinto no qual se entra e do qual às vezes não se sai. Mas são fantásticos, inúmeros, os corredores da memória, fora da qual há um único tempo real, aquele que se recorda – isto é, eu próprio agora quando a máquina de escrever é a verdadeira máquina do tempo.
Escrever, aquilo que faço agora, não é senão uma das formas que a memória adopta. O que escrevo é o que recordo – o que recordo é o que escrevo.Entre estas duas acções estão as omissões – que são os interstícios, o que fica. Quer dizer, o meu buraco: o espaço do tempo recordado.É tão fácil recordar, tão difícil esquecer… Não é isso que a canção diz? Ou diz…? Não me lembro, esqueci-me. Recordar é gravar nesta ou naquela língua. Mas esquecer não tem equivalência…
O amor é um dédalo delicado que esconde o seu centro, um monstro obscuro.
Teseu, o teu nome é desejo. Ah, Ariadne, não te abandonei em Naxos mas no Trotcha. Agora descendo ao mundo inferior da recordação para te trazer de entre os mortos. Tive de passar a vau as águas do Letes, rio do esquecimento, labirinto lábil, para te encontrar outra vez. Caronte, que já não trabalha na ponte sobre o rio Almendares mas que limpava por uma peseta o vidro que o salitre do Malecón tinha toldado, deixou-me ver-te. Foi através de outro pára-brisas, desta vez de um táxi, que voltei a ver-te.
Pareceria que ela morreu – e é verdade. É a morte uma extensão infinita da noite? A morte faz da vida um couto privado. Parece estranho que tendo esta miniatura (no sentido de pequena pintura preciosa) ao lado, me entregue a uma reflexão sobre o bolero. Acontece que escrevo o ensaio agora. Na altura só ouvia a música.Ela morreu. Suicidou-se? Não, morreu da morte menos natural: morte natural. Seja como for, matou-a o tempo. Mas o certo, o terrível, o definitivo é que Estelita, Estela, Stella Morris está morta. Agora sou eu quem reconstrói a sua memória. Era uma pessoa, mas acabou por se tornar esse destino terrível, uma personagem. Convém dizer que ela era toda uma personagem.
Morreu, longe dos trópicos, de Cuba. Mas na verdade não era dos trópicos, ou de Havana, ou dessa Rampa onde a conheci – e dizer que a conheci é, evidentemente, um absurdo: nunca a conheci. Nem sequer a conheço agora. Mas escrevo sobre ela para que outros, que não a conheceram, a recordem. Quanto a mim, ela foi sempre inolvidável. Mas agora que está morta é mais fácil recordá-la. E pensar que não existe agora mais do que quando a imagino ou a recordo. É a mesma coisa. Poderia escrever mentiras, bem sei, mas a verdade é uma invenção suficiente.
Digo que não a conheci e devo dizer que a encontrei; na rua, uma tarde, quando era uma desorientada dos subúrbios no centro de Havana, perdida.Mas para mim foi um encontro. Há um bolero tocado por Peruchín que se chama “Añorado encuentro” (1) e foi isso que foi. É curioso como as canções ditam as recordações. Néstor Almendros disse-me, quando veio visitar-me e eu estava a ouvir no meu gira-discos “Down at the Levy” cantada por Al Jolson, que sempre que ouvisse essa canção se lembraria da sala do apartamento, do sol que batia nos móveis e da gente e do mar ao longe e eu sentado no sofá, em camisa, a ouvir o velho Al, Al morto, Al Down at the Levy, waiting, for the Robert E. Lee, que era um barco de pás a navegar Mississipi abaixo.
Voltei a percorrer La Rampa esta noite. Não foi um sonho, foi uma coisa mais recorrente: a recordação. Lembrei-me de quando vim à rua O (Zero, O, Oh) com Branly. La Rampa era jovem e eu também.Mas o cruzamento com O já bulia.
Para mim, Havana era então uma ilha encantada em que era simultaneamente explorador e guia. Durante algum tempo também julguei ser um Frank Buck do amor, que penetrava na selva para a trazer viva e vivermos os dois para o contar – ainda que fosse eu o único que podia erguer uma ponte entre o relaxe e o relato. Havana, que dúvida pode haver, era o centro do meu universo. Na realidade, era o meu universo: uma nébula clara. Recordá-la era uma viagem pela galáxia. No céu havia dois sóis.
Esta história não podia ter acontecido cinco anos antes. Nessa altura a rua 23 acabava em L, e La Rampa ainda não tinha sido construída. Ao fundo, paralelos ao Malecón, havia os carris do eléctrico e, às vezes, via-se vir um eléctrico cujas carreiras terminavam pouco antes do infinito. É claro que já lá estava o Hotel Nacional empoleirado num parapeito, mas onde hoje está o Hotel Hilton havia uma ribanceira com um fundo plano de argila que de vez em quando frequentei para jogar à bola. Desapareceu o campo de jogos onde não ganhei uma única batalha, para ser construído esse campo de Vénus, não de Marte, onde me portei melhor – aparentemente.(Público)

Ficha do livro
A Ninfa Inconstante
Autor: Guillermo Cabrera Infante
Tradutor: Salvato Telles de Menezes
Editor: Quetzal
238 págs., 17 euros
publicado por armando ésse às 09:31
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Abril 22 2009

Clara Rojas, prisioneira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) durante seis anos, depois de ter sido raptada com Ingrid Betancourt, vai apresentar em Lisboa, quinta-feira, o seu livro "Memórias do Meu Cativeiro".
A 23 Fevereiro de 2002, Clara Rojas, que era então directora da campanha presidencial de Ingrid Betancourt, foi raptada juntamente com a candidata durante uma visita ao interior da Colômbia.
Viria a ser libertada a 10 de Janeiro de 2008 numa operação que contou com a intervenção do presidente da Venezuela, Hugo Chavez. Durante o cativeiro, Clara Rojas teve um filho, do qual foi separada quando a criança tinha oito meses e acabou por afastar-se de Ingrid Betancourt.
No livro, a autora nada revela sobre o pai de Emmanuel, mas conta as dificuldades por que passou durante a gravidez e a cesariana que foi obrigada a fazer no meio da selva sem condições.
Oito meses após o nascimento da criança, as FARC retiraram-lhe o filho e Clara Rojas viveu três anos sem saber dele, até que voltou a reencontrá-lo depois da libertação. A criança tem actualmente 5 anos e vive com a mãe na Colômbia. Sobre o fim da amizade com Ingrid Betancourt, a autora refere que quando regressaram da sua segunda tentativa fracassada de fuga, souberam que o pai de Ingrid tinha morrido.
"Lemos a notícia num jornal que os guerrilheiros nos emprestaram e sentimos uma profunda e inconsolável tristeza", escreveu. Apesar disso, "os guerrilheiros não tiveram nenhuma comiseração e prenderam-nos", continuou a ex-refém, adiantando que estiveram vários dias acorrentadas e que fizeram uma greve de fome como protesto.
"A duríssima experiência daquele luto, acorrentadas, marcou-nos de tal maneira que, dentro de nós, qualquer coisa se modificou e começou a ser diferente", pode ler-se no livro. No testemunho de Clara Rojas, "toda aquela dor mal digerida" criou entre as duas "uma barreira de silêncio". "Não posso dizer que tenha acontecido alguma coisa de concreto, que tenha acabado com a nossa amizade, foi, antes, um distanciamento progressivo provocado pelas circunstâncias", escreveu. Clara Rojas nasceu em 1963 em Bogotá, é advogada de direito comercial e foi professora universitária. O livro vai ser lançado na Fundação Mário Soares, sendo apresentado pelo embaixador José Fernandes Fafe numa sessão que contará com a presença da autora e de Mário Soares.(Público).
publicado por armando ésse às 06:06
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Abril 21 2009

“The Lost Symbol”, ou “O Símbolo Perdido”, é o título do novo livro de Dan Brown, que sairá no Outono. O autor do “Código Da Vinci” regressa com uma nova aventura do especialista em simbologia Robert Langdon, transformado em detective, que terá apenas 12 horas para resolver as peripécias em que se verá envolvido.
A expectativa é enorme: a primeira edição, lançada a 15 de Setembro, terá 6,5 milhões de cópias. É a maior primeira edição de sempre da editora Random House.Não foram adiantados grandes pormenores, mas o jornal “The Guardian” diz que a história se deve passar em Washington.
“Este livro foi uma viagem estranha e maravilhosa”, comentou Brown. “Foi preciso tecer cinco anos de pesquisa numa trama de 12 horas, foi um desafio entusiasmante. A vida de Robert Langdon é vivida a um ritmo muito mais rápido que a minha.”
Em 2006 estreou-se o primeiro filme inspirado num livro de Brown, “O Código Da Vinci”, com Tom Hanks a fazer o papel de Langdon. O segundo, “Anjos e Demónios”, chega aos cinemas a 15 de Maio.(Público).
publicado por armando ésse às 07:24
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Abril 20 2009

Os textos que o escritor José Saramago publicou no seu blogue na Internet desde Setembro de 2008 foram reunidos em "O Caderno", livro que será editado na quinta-feira, Dia Mundial do Livro.
A obra, que terá uma tiragem de cinco mil exemplares, é uma edição conjunta da Editorial Caminho e da Fundação José Saramago.
"O Caderno" reúne textos publicados ao longo de seis meses no blogue que José Saramago inaugurou a 17 de Setembro de 2008.

Link: AQUI.
publicado por armando ésse às 15:59
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Abril 20 2009

Os textos que o escritor José Saramago publicou no seu blogue na Internet desde Setembro de 2008 foram reunidos em "O Caderno", livro que será editado na quinta-feira, Dia Mundial do Livro.
A obra, que terá uma tiragem de cinco mil exemplares, é uma edição conjunta da Editorial Caminho e da Fundação José Saramago.
"O Caderno" reúne textos publicados ao longo de seis meses no blogue que José Saramago inaugurou a 17 de Setembro de 2008.

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publicado por armando ésse às 15:59
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Abril 20 2009

O último romance escrito por Vladimir Nabokov (São Petersburgo, 22 de Abril de 1899 — Montreux, Suíça, 2 de Julho de 1977), "O original de Laura", será publicado em Novembro, anunciou a editora Penguin.
O autor, famoso a partir da escrita de "Lolita", romance transposto para o cinema por Stanley Kubrick, deixou instruções para que "O original de Laura" fosse destruído após a sua morte, mas o filho e testamenteiro da sua obra, Dmitri, decidiu publicá-lo.
Segundo a cadeia pública britânica BBC, os herdeiros de Nabokov receberam uma soma superior a um milhão de dólares por este trabalho, que chegará simultaneamente a 3 de Novembro às livrarias do Reino Unido e dos Estados Unidos.
publicado por armando ésse às 13:20
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Abril 17 2009

Pré-publicação: A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao, de Junot Díaz, vencedor do Pulitzer Prize for Fiction 2008.
O nosso herói não era um daqueles gatos dominicanos de quem toda a gente passa a vida a falar – não era nenhum jogador capaz de fazer um home-run, nem um dançarino de bachata, todo produzido, nem um playboy com um milhão de gajas no papo.
E, excepto durante um período muito inicial da sua vida, o tipo nunca tinha tido muita sorte com mulheres (uma coisa tão pouco dominicana).
Tinha sete anos, nessa altura.
Naqueles dias abençoados da sua juventude, o Oscar era qualquer coisa como um Casanova. Um daqueles namoradinhos do jardim-escola, sempre a tentar beijar as miúdas, sempre a aparecer-lhes por detrás durante um merengue e a dar-lhes aquela bombada com a pélvis; o primeiro negro a aprender o perrito, e aquele que o bailava em cada oportunidade que lhe aparecia. Como naquele tempo ele era (ainda) um miúdo dominicano «normal», criado numa família dominicana «típica», a sua mulherenguice nascente foi encorajada pela família e pelos amigos, de maneira igual. Durante as festas – e havia muitas, muitas festas, naqueles já tão longínquos dias dos anos setenta, antes de Washington Heights se tornar Washington Heights, antes de Bergenline se ter tornado um tiro e queda para os Espanhóis, em quase cem blocos de habitações – algum seu parente já com os copos empurrava inevitavelmente o Oscar na direcção de uma rapariguinha e, então, toda a gente se punha a berrar enquanto o miúdo e a miúda imitavam o movimento de ancas dos adultos.
Deviam tê-lo visto, suspirava a mãe nos seus Últimos Dias. Ele era o nosso pequeno Porfirio Rubirosa .
Todos os outros miúdos da sua idade evitavam as miúdas como se elas fossem uma daquelas formas horríveis em que o Captain Trips se transformava. O Oscar, não. Aquele homenzinho gostava de fêmeas, tinha «namoradas» à brava. (Era um miúdo forte, a caminhar rapidamente para o gordo, mas a mãe arranjava-lhe sempre uns cortes de cabelo e umas roupas catitas, e antes de as proporções da sua cabeça mudarem, ele tinha aqueles olhos que cintilavam adoravelmente e aquelas bochechas firmes, visíveis em todas as suas fotografias). As miúdas – as amigas da sua irmã, a Lola, as amigas da mãe, até a vizinha, a Mari Colón, uma funcionária dos Correios, de uns trinta e tais, que pintava os lábios de encarnado e caminhava como se tivesse um sino de bronze em vez de um cu –, todas se apaixonaram por ele, supostamente. Ese muchacho está bueno! (Fazia alguma coisa ao caso que ele fosse um miúdo sério e tivesse dificuldades de concentração? Nenhuma!) Na República Dominicana, durante as visitas de Verão à residência da família em Baní, ele era do piorio, plantava-se em frente à casa da Nena Inca e gritava para as mulheres que passavam – Tú eres guapa! Tú eres guapa! – até que um Adventista do Sétimo Dia fez queixa à avó, que fez calar aquela cantilena de sucesso a grande velocidade. Muchacho del diablo! Isto não é nenhum cabaré!
Para o Oscar, aquela foi, na verdade, uma Era Dourada, uma era que atingiu a sua apoteose no Outono do seu sétimo ano, quando ele teve duas namoradinhas ao mesmo tempo, o seu primeiro e único ménage à trois de sempre. Com a Maritza Chacón e a Olga Polanco.
A Maritza era uma amiga da Lola. De cabelo longo e nojentinha, e tão bonita que poderia ter desempenhado o papel da Dejah ThorisII. A Olga, por outro lado, não era amiga da família. Vivia na casa ao fundo do bloco, aquela da qual a mãe do Oscar se queixava de estar cheia de porto -riquenhos que estavam sempre por ali, pela entrada do bloco, a beber cerveja. (Olha que isto, não poderiam ter feito isso lá em Cuamo?, perguntava a mãe do Oscar, de mau humor.) A Olga tinha assim como que noventa primos, os quais pareciam chamar-se todos Hector, ou Luis, ou Wanda. E como a mãe dela era uma maldita borrachona (para usar as palavras da mãe do Oscar), nalguns dias, a Olga tinha um cheiro a cu, motivo pelo qual os miúdos lhe começaram a chamar Dona Porcalhota.
Dona Porcalhota ou não, o Oscar gostava da sua maneira de ser, calada, de como ela o deixava atirá-la ao chão e andar à bulha com ela, do interesse que ela demonstrava pelos seus bonecos do Star Trek. A Maritza era bela, só isso, sem qualquer outro tipo de atracção, também sempre por ali, e foi mesmo um golpe de puro génio que o convenceu a atirar-se a ambas, ao mesmo tempo. Primeiro, fingiu que se tratava do seu herói número um, Shazam, quem queria namorar com elas. Mas, depois de elas o aceitarem, deixou cair todos os fingimentos. Não era o Shazam, era o Oscar.
Eram dias bem inocentes, aqueles, e, por isso, a relação deles equivalia a ficar juntinho a cada uma delas, na paragem de autocarro, a um dar as mãos, às escondidas, e a uma dupla de beijos nas faces, muito a sério, primeiro, à Maritza, e, depois, à Olga, lá onde uns arbustos impediam que fossem vistos da rua. (Olhem para aquele pequeno macho, diziam os amigos da mãe. Que hombre.)
Aquele arranjinho a três durou apenas uma única e bela semana. Um dia, depois da escola, a Maritza encostou-o atrás do baloiço e ditou as regras, Ou ela ou eu! O Oscar segurou a mão da Maritza e falou de um modo grave, e bastante, sobre o seu amor por ela, recordando-lhe que eles tinham concordado em partilhar, mas a Maritza não quis ouvir nada daquilo. Tinha três irmãs mais velhas, sabia tudo o que necessitava saber acerca do que era partilhar. Não me voltes a dirigir a palavra a não ser que te vejas livre dela! Com a sua pele cor de chocolate e os seus olhos estreitinhos, a Maritza expressava já a energia Ogún com que enfrentaria toda a gente durante o resto da sua vida. Taciturno, o Oscar dirigiu-se para casa, para as suas bandas desenhadas da era anterior às fábricas clandestinas coreanas – para os Herculoids e o Space Ghost. O que é que se passa contigo?, perguntou a mãe. Estava a arranjar-se para ir para o seu segundo emprego, o eczema nas suas mãos a fazer lembrar um qualquer prato de comida mal amanhado que já tivesse assentado. Quando o Oscar se lamentou, As raparigas, a Mãe De León quase explodiu. Tu ta llorando por una muchacha? Levantou-o do chão por uma orelha.
Mami, pára com isso, gritou a irmã dele, pára!
Ela atirou-o para o chão. Dale un galletazo, disse, ofegante, e logo vais ver como essa putinha passa a respeitar-te.
Se ele fosse um gajo diferente, talvez tivesse considerado aquela hipótese do galletazo. Não era apenas o facto de ele não ter um pai qualquer para lhe mostrar as regras dos homens, faltavam-lhe, simplesmente, quaisquer tendências agressivas e marciais. (Ao contrário da irmã, que bulhava com rapazes e com bandos de morenas que odiavam o seu nariz fino e o cabelo assim para o liso.) Numa avaliação de combate, o Oscar teria assim como que um zero; até a Olga, com os seus braços como palitos, era capaz de lhe bater os pés. Agressão e intimidação estavam fora de questão. Por isso, reflectiu sobre o assunto. Não demorou muito a decidir. Ao fim e ao cabo, a Maritza era bela, e a Olga, não; às vezes, a Olga cheirava a mijo, e a Maritza, não. A Maritza tinha permissão para ir a casa deles, e a Olga, não. (Uma porto-riquenha aqui em casa?, dizia a mãe, com escárnio. Jamás!) Assim, o seu raciocínio lógico aproximou-se tanto da matemática do sim ou não dos insectos quanto um gajo lá podia chegar. Terminou tudo com a Olga, no dia seguinte, no recreio, com a Maritza a seu lado, e como a Olga tinha chorado! A tremer como um farrapo, naquela sua roupa herdada e naqueles sapatos quatro tamanhos acima dos dela! O ranho a sair-lhe do nariz e tudo! (Público).
Ficha do livro
Código: 04148
Editora: Porto Editora
ISBN-13: 978-972-0-04148-7
Última Edição: Setembro de 2008
N.º de Páginas: 296
Preço de Capa: EUR 16,50
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 15 x 23,5 cm
publicado por armando ésse às 15:54
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